18 janeiro 2017

Um «post» sinceramente muito penoso


Uma página inteira do
«Público» dedicada ao que não há



Para meu insuperável espanto, o meu estimado amigo Domingos Lopes escreve hoje no Público uma página inteira a desancar numa  «regra de ouro» alegadamente vigente no PCP, observando a esse respeito :

 «O PCP defende o princípio a que chamou regra de ouro, segundo o qual no Comité Central (CC) do partido tem de haver uma maioria de quadros de origem operária Dentro desta conceção e sopesando os perfis dos diversos quadros candidatos àquele organismo, o Comité Central cessante propõe ao Congresso um novo CC onde a maioria tem origem operária. Tal conceção, em abstrato, pode sobrepor-se a todas as outras possíveis virtudes que possam ter quadros empregados, intelectuais, agricultores ou pequenos empresários que se tenham distinguido no partido na luta pelos seus ideais.» (...)« Sendo prevalecente esta regra, como foi confirmada no XX Congresso do PCP recentemente realizado, os seus defensores continuam a assumir que este é um modo de assegurar a orientação de classe do partido.(...)»


Ora, sobre isto, apenas quatro pacatas anotações ou cordatos esclarecimentos :


Há pelo menos 20 anos (se não mais) que o PCP substituiu a «regra de ouro» da maioria operária na composição do Comité Central pela referência a uma «maioria de operários e empregados, com forte componente operária».
 


Tanto assim é que a documentação online relativa ao XV Congresso realizado em 6,7 e 8 de Dezembro 1996 já apresentava a seguinte composição social do Comité Central eleito :
83 operários - 44%
44 empregados - 24%
55 intelectuais - 29%
2 agricultores - 1%
4 estudantes - 2%
 Quanto ao «XX Congresso do PCP recentemente realizado», o Relatório da Comissão Eleitoral refere expressa e explicitamente que «A composição social [do Comité Central] reflecte a identidade do Partido. Mantém uma larga maioria de operários e empregados, 98 camaradas, correspondendo a 67,1%».


De referir ainda que, quando Domingos Lopes foi eleito para o Comité Central do PCP, já não vigorava a «regra de ouro» da maioria operária.


5 comentários:

  1. Ó camarada achas que se não criasse polémica, o Público lhe dava uma página para ele brincar ????????????

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  2. Quanto ao «XX Congresso do PCP recentemente realizado», o Relatório da Comissão Eleitoral refere expressa e explicitamente que «A composição social [do Comité Central] reflecte a identidade do Partido. Mantém uma larga maioria de operários e empregados, 98 camaradas, correspondendo a 67,1%».

    Pergunta inocente, inspirada no exemplo do "Camarada" Jerónimo, que o PCP insiste em classificar como Operário Metalurgico.

    Há, actualmente, no Comité Central, algum membro a exercer a sua profissão de operário numa fábrica, a sua profissão de pescador num barco, etc. etc.? Ou o que se passa é que os 98 "Camaradas" descritos como operários e empregados são todos funcionários do PCP, tendo abandonado há muito as fábricas, os campos e os escritórios onde na sua juventude trabalharam durante algum tempo?

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  3. Deve ser só para chatear.
    Monteiro

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  4. Será isto importante para um partido ou será mais a vontade participativa e o trabalho que cada um dá pela organização? Através do capitalismo e do oportunismo, alguns tentam decifrar um partido ou colectivo que defende os trabalhadores. Através desta repetição de críticas, muito usada pelos apoiantes do sistema capitalista, tentam extinguir o partido. Não entendo a razão de alguns ditos «camaradas» aceitarem escrever em jornais que representam o capitalismo, no seu pior exemplo. Se o fazem, é porque aceitam perder o rosto, o espírito e o carácter.

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  5. O artigo em análise, a sua reflexão, deviam fazer pensar os militantes operários, mas tal qual são há umas dezenas de anos para cá (e não o proletário do pós revolução industrial e das décadas que se seguiram até aos anos 60/70 do século passado), devia agitar as consciências dos intelectuais que sempre constituíram o núcleo duro das Direcções do PCP, mesmo sem considerarmos que um indivíduo que foi operário entre os 18 e os 20 anos e que depois se torna um quadro profissional do Partido, uma grande parte deles transformados em verdadeiros intelectuais. Fui militante entre 1971 e 1991 e apenas saí quando me confundiram com as Zitas e Vitais e me apelidaram de "folha seca".
    E com grande honra, na década de 80 passada, fui eleito membro suplente do CC, mas logo percebi que muitos membros efectivos não passavam de "máquinas de votar", verdadeiros bibelots que durante 4 anos não diziam uma palavra. Eram o verdadeiro exército "operário" que assegurava a aprovação de tudo o que era proposto pelo núcleo duro de maioria intelectual do Secretariado e da Comissão Política do Partido, já que, também aí, algum camarada que teria sido uns meses ou poucos anos operário na sua juventude, se limitava sempre a aprovar, sem ondas, o que era proposto por uma élite de intelectuais revolucionários liderados pelo camarada Álvaro Cunhal.
    Ou seja, a verdadeira vanguarda dirigente, desde quase sempre, foi composta por intelectuais, independentemente das % de composições de classe que eram e são apresentadas.
    E não está em causa que o núcleo duro da Direcção fosse integrado por estes quadros revolucionários e experientes, capazes, conhecedores, mesmo que intelectuais com provas dadas, antes e depois do 25 de Abril.
    O que está mal é, quem conheceu e conhece esta realidade por dentro, pactuar ou dar cobertura a uma mistificação.
    E essa, pela sua própria natureza, nunca pode ser revolucionária.
    Mas se nos socorrermos da História, não é difícil ver qual a origem de classe dos maiores dirigentes comunistas desde o advento do socialismo científico - Marx, Engels, Lenine, Rosa Luxemburgo, Karl Liebknecht, Clara Zétkin, Dimitrov, Fidel de Castro e muitos, muitos outros, incluindo Álvaro Cunhal.

    NOTA FINAL - Julgo que, ainda hoje, muitos milhares de ex-militantes como eu se mantêm comunistas, marxistas dialéticos e não dogmáticos, leninistas em muitos aspectos, mas não em todos, nunca procuraram protagonismo ou tachos no PS ou noutros partidos, cujo "crime" foi querer debater "verdades" desmentidas pela vida e pela história.
    E na sua grande maioria eram dos quadros mais destacados em várias frentes e em vários níveis de responsabilidade.
    São homens e mulheres, hoje já com idades acima dos 60 anos, e que nunca desistiram, por diversas formas, de continuar na luta política e sobretudo na batalha ideológica contra o capitalismo e a direita.

    Fernando Oliveira

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