Em vez de chorarem
pelo passado, façam notícias
Na
institucional Faculdade de Direito de Lisboa estiveram reunidos, há
duas semanas, 300 advogados de várias partes do mundo, membros da
Associação Internacional de Juristas Democratas. Isto, só por si, seria
uma notícia, mas, não sei porquê, não a li em lado algum.
Nesse
fim de semana a dita associação, presidida pela norte-americana Jeanne
Mirer, que há mais de 70 anos luta pelo respeito universal da lei,
recebeu a informação de que o governo turco decidira proibir, durante
três meses, a atividade da Associação de Advogados Progressistas Turcos.
Isto, só por si, seria uma notícia, talvez pequena, admito, mas capaz
de honrar qualquer linha editorial. Não a li em lado algum.
O
presidente da Associação de Advogados Progressistas Turcos, o dr. Selçuk
Kozagaçli, encontrava-se em Lisboa a participar com colegas do seu país
na conferência que, ironicamente, celebrava em Lisboa os 50 anos dos
primeiros pactos das Nações Unidas sobre direitos humanos. Isto, só por
si, seria uma notícia, pequenita, certo, mas relevante em qualquer
jornal. Não sei porquê, não a li em lado algum.
Durante os três
dias da conferência Kozagaçli foi coligindo informações sobre o que se
estava a passar com mais de três mil advogados turcos. Eles contestavam
as arbitrariedades do regime do presidente Erdogan, cometidas ao abrigo
de um estado de emergência de legalidade duvidosa. A sede da associação
foi entretanto assaltada pela polícia de choque, inúmera documentação
apreendida, vários advogados presos. Isto, só por si, seria uma notícia,
talvez pequena, admito, mas capaz de honrar qualquer jornal, de
esquerda ou de direita, independente ou engajado. Mas não, não a li em
lado algum.
Kozagaçli recebeu, num computador emprestado por uma
colega portuguesa, fotografias do assalto policial, imagens das
detenções dos colegas e um aviso: "Se voltarem serão presos." A
Associação Portuguesa de Juristas Democratas, co-organizadora da
conferência, avisou vários jornalistas portugueses sobre estes
acontecimentos e manifestou disponibilidade para dar mais informações.
Não sei porquê, não encontrei um texto sobre o tema.
No domingo,
dia 13 de novembro, os juristas turcos que passaram esse fim de semana
angustiante em Lisboa regressaram a Istambul convencidos de que se
encaminhavam para a cadeia. E assim foi para alguns deles, incluindo uma
mulher, Fatma Demirer.
Tudo isto li, ouvi e vi, com textos, sons,
fotos e vídeos, no Facebook - bastou-me receber uma partilha. E na
comunicação social?... Nada. Não sei porquê.
Sei, porém, a razão por que o Facebook está, todos os dias, a liquidar a influência da imprensa: porque ela merece.
Bom artigo. Valha-nos o Tadeu.
ResponderEliminar