22 novembro 2016

Jornalismo ou...

... o estado da arte

Em vez de chorarem
pelo passado, façam notícias





Na institucional Faculdade de Direito de Lisboa estiveram reunidos, há duas semanas, 300 advogados de várias partes do mundo, membros da Associação Internacional de Juristas Democratas. Isto, só por si, seria uma notícia, mas, não sei porquê, não a li em lado algum.
Nesse fim de semana a dita associação, presidida pela norte-americana Jeanne Mirer, que há mais de 70 anos luta pelo respeito universal da lei, recebeu a informação de que o governo turco decidira proibir, durante três meses, a atividade da Associação de Advogados Progressistas Turcos. Isto, só por si, seria uma notícia, talvez pequena, admito, mas capaz de honrar qualquer linha editorial. Não a li em lado algum.
O presidente da Associação de Advogados Progressistas Turcos, o dr. Selçuk Kozagaçli, encontrava-se em Lisboa a participar com colegas do seu país na conferência que, ironicamente, celebrava em Lisboa os 50 anos dos primeiros pactos das Nações Unidas sobre direitos humanos. Isto, só por si, seria uma notícia, pequenita, certo, mas relevante em qualquer jornal. Não sei porquê, não a li em lado algum.
Durante os três dias da conferência Kozagaçli foi coligindo informações sobre o que se estava a passar com mais de três mil advogados turcos. Eles contestavam as arbitrariedades do regime do presidente Erdogan, cometidas ao abrigo de um estado de emergência de legalidade duvidosa. A sede da associação foi entretanto assaltada pela polícia de choque, inúmera documentação apreendida, vários advogados presos. Isto, só por si, seria uma notícia, talvez pequena, admito, mas capaz de honrar qualquer jornal, de esquerda ou de direita, independente ou engajado. Mas não, não a li em lado algum.
Kozagaçli recebeu, num computador emprestado por uma colega portuguesa, fotografias do assalto policial, imagens das detenções dos colegas e um aviso: "Se voltarem serão presos." A Associação Portuguesa de Juristas Democratas, co-organizadora da conferência, avisou vários jornalistas portugueses sobre estes acontecimentos e manifestou disponibilidade para dar mais informações. Não sei porquê, não encontrei um texto sobre o tema.
No domingo, dia 13 de novembro, os juristas turcos que passaram esse fim de semana angustiante em Lisboa regressaram a Istambul convencidos de que se encaminhavam para a cadeia. E assim foi para alguns deles, incluindo uma mulher, Fatma Demirer.
Tudo isto li, ouvi e vi, com textos, sons, fotos e vídeos, no Facebook - bastou-me receber uma partilha. E na comunicação social?... Nada. Não sei porquê.
Sei, porém, a razão por que o Facebook está, todos os dias, a liquidar a influência da imprensa: porque ela merece.

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