26 janeiro 2016

A fronda do costume

Ajoelho perante
inteligências tão superiores



publicado na edição impressa de ontem

Sobre este despacho, aqui ficam três observações:

1. Fico a aguardar ansiosamente que Ana Sá Lopes, em relação pelo menos aos últimos 20 anos (por causa da idade dela), exiba qualquer declaração do PCP em que, tendo perdido numas eleições, tenha vindo afirmar que tinha ganho.

2. Embora a expressão tenha hoje um uso generalizado, não posso deixar de registar que a ideia de «erro de casting» é muito ajustada para quem tem da política uma concepção de espectáculo.

3.
 É verdadeiramente extraordinária a ideia de que o PCP teria feito melhor em desistir a favor de Sampaio da Nóvoa. É que, para além dos legítimos interesses próprios do PCP, haveria de dar um belo resultado Sampaio da Nóvoa  ser apresentado nos últimos dias de campanha como tendo como único apoio partidário significativo o PCP.

4. Muitos que acusam Edgar Silva  de ter tido um discurso repetitivo e «chapa» PCP dizem-no porque o preconceito lhes tolda a vista e entope os ouvidos e, por isso, nem repararam que Edgar Silva até trouxe para a campanha um discurso com formas de dizer e construções orais marcadamente pessoais e singulares.

5. A propósito da chamada «cassete do PCP» volto a repetir um desafio : é que, se algum jornal me pagar 250 euros por cada texto e me der duas horas para escrever cada um, eu garanto que escrevo três páginas imitando o discurso típico e «repetitivo» de qualquer um dos principais candidatos presidenciais.

P.S. : Há coisas que alguns só conseguem escrever porque o resultado de Edgar Silva foi o que foi e que não escreveriam se tivesse tido 7 ou 8%. É o caso do estimado José Vítor Malheiros hoje no «Público», quando escreve  que «o demérito pode ser atribuído ao candidato [Edgar Silva]  (...) mas não pode deixar de ser atribuído ao discurso de protesto que a campanha escolheu, com o PCP a sublinhar os seus aspectos identitários e a demarcar-se de tudo e de todos (nomeadamente do do Governo do PS) [????!!!] em vez de associar à possibilidade de construção de uma política comum de esquerda». Na verdade, revejo mentalmente todos os debates e todos os extractos de discursos nos telejornais e não descubro nada disto sobre Edgar Silva assim como não vejo qual foi a substancial diferença, nos pontos mais importantes, marcada por Marisa Matias.


4 comentários:

  1. Desde que seja para denegrir o PCP(único adversário das direitas)tudo serve. Reparem que os ataques são idênticos. Apetece-me dizer que o ataque de farelo cerebral nestas alturas se torna endémico. Rui Viana Jorge

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  2. Eu acho que houve diferenças políticas importantes entre Edgar Silva e Marisa Matias. A Marisa Matias mostrou-se disponível para atropelar a Constituição, nomeadamente o princípio da confiança.

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  3. Apenas três notas:

    1ª- Como explicam tais "inteligências" o resultado muito positivo que Edgar Silva teve no único circulo onde é bem conhecido, a Ilha da Madeira, onde teve quase 20% dos votos, bem acima de Sampaio da Nóvoa e de Marisa Matias?

    2ª.-Nós temos SEMPRE que analisar os resultados, sejam eles positivos, sejam eles negativos. Os primeiros porque podem ser circunstanciais, os segundos porque para além de poderem ser igualmente circunstanciais demonstram necessariamente debilidades, a serem determinadas e combatidas. Uma coisa é certa, jamais deixaremos de ser marginalizados, escamoteados e adulteradas as nossas posições pela comunicação social. É o trabalho deles, para tal são directores e redactores pagos pelos respetivos patrões!
    3ª.daí que tenhamos que nos lembrar que só uma ligação permanente ao Povo, seja nas empresas, seja nas escolas, seja nos quarteis, seja nas colectividades, seja onde seja, é condição necessária para a sobrevivência do projecto de emancipação social que prosseguimos. E face às dificuldades da precarização das relações laborais, ao medo do desemprego, ao estigmatismo lançado sobre os "políticos" que se servem da política para os seus interesses particulares mas que atinge também quem serve na política os interesses dos "deserdados", há só uma resposta: trabalho sério junto daqueles a quem se destina o nosso projecto de emancipação, exemplo humilde e capacidade de ouvir mas ouvir mesmo que em desacordo mesmo quando só se ouçam disparates ou o que julgamos como tal, análise sempre tão profunda quanto se seja capaz e combate ao sectarismo e ao dogmatismo, inimigos fulcrais na ligação ao Povo. E se for necessário descer à "clandestinidade", agora por razões que se não prendem com a repressão do aparelho de estado mas sim da repressão patronal, pois que assim se faça!

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    1. Foi um resultado negativo no continente. No entanto, também foi um resultado negativo global, com 50% de abstenção, o que indica que a maioria dos eleitores não se mostrou interessado em votar Marcelo como presidente (igual às duas eleições anteriores).
      O PCP sai fortalecido, na medida que participou com um candidato próprio e deste mau resultado, não houve fragmentação, como aconteceu no BE, ao perderem as eleições europeias (que motivou o aparecimento do partido Livre, também este desfragmentado, depois da derrota legislativa).
      São muitos anos de luta e de experiência.
      Outro aspecto, é a ideia de «derrota» e «vitória». Para os outros partidos, todas as eleições trazem sempre uma ou outra coisa. Para o PCP, todas as batalhas políticas são importantes. Um mau resultado será sempre bom, na medida que traz debate e correcções a fazer; o que traz também união e camaradagem. É claro que os outros partidos não entendem nada disto e assim que perdem, desertam e fazem de conta que não existem. JN

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