(sobre a actualidade política, ler aqui)
40 anos depois, uma pobre
evocação de uma grande
batalha política pela democracia
40 anos depois, uma pobre
evocação de uma grande
batalha política pela democracia
Cumprem-se agora 40 anos sobre o início da campanha da última farsa eleitoral do fascismo - a que culminou numa votação fantasmática em 28 de Outubro de 1973- e que, sob o poderoso impulso do 3º Congresso da Oposição Democrática, Abril, Aveiro) marcou uma forte, corajosa e combativa intervenção da Oposição Democrática, em candidaturas CDE (*), tendo uma significativa influência no curso dos acontecimentos que, com a contribuição decisiva do movimento dos capitães, haveria de conduzir ao 25 de Abril de 1974.
Na desaparecida primeira série de «o tempo das cerejas», entre Setembro e Outubro de 2008 (evocando então os 35º aniversário daquela batalha política), publiquei nove posts sem quaisquer pretensões historiográficas ou analíticas e antes centrados em «estórias» pessoalmente vividas no distrito de Lisboa pelo qual fui um dos candidatos da CDE. Como o blogue desapareceu da Net e depois estupidamente perdi a pen para a qual o generoso e sacrificado trabalho de um camarada tinha conseguido tranferir o conteúdo do blogue desaparecido, não me é possível recuperá-los. Entretanto, um registo desses posts (é claro que os links não funcionam) ficou arquivado no blogue «estudos sobre o comunismo» de Pacheco Pereira nos termos que se seguem:
Sem disposição para os reescrever, aqui fica a informação de que:
- o nº 2 descrevia a prisão de quase todos os candidatos por Lisboa e outros activistas quando participavam em duas caravanas pelo distrito em finais de Setembro e relatava a absolutamente tétrica visita à sede da PIDE, na maldita António Maria Cardoso, de uma delegação da CDE dirigida por Francisco Pereira de Moura que ali foi reclamar a libertação dos presos;
- o nº 3 descrevia a primeira sessão em Sintra e a díficil experiência do primeiro confronto com as novas limitações impostas pelo fascismo, designadamente o só poderem falar candidatos e as interrupções pela polícia sempre que se falava da guerra colonial;
- o nº4, o que mais pena tenho de não poder reeditar, reportava-se à histórica sessão em 4 de Outubro na Sociedade Nacional de Belas Artes (em que a multidão que não conseguiu entrar na sala à cunha foi objecto de uma brutal carga policial que causou numerosos feridos, entre os quais a sempre valente Maria Eugénia Varela Gomes) e incluia, como era indispensável, um grafismo sobre as características da sala, o que era essencial para se perceber o relato daquilo que foi uma saborosa vitótia democrática contra a repressão; com efeito, os agentes da PIDE e da PSP foram colocar-se atrás da mesa do comício mas aí não tinham nehum porta de saída pelo que, em rigor, estavam cercados pela massa de participantes; e, quando tentaram interromper a sessão, aconteceu-lhes que, à força de caneladas, encontrões para trás e cotoveladas, foram impedidos pelo sólido cordão de segurança previamente pensado e montado de chegar à mesa.
- o nº 5 era dedicado ao célebre e atrevido cartaz «os cães mordem, os homens passam» (como nos outros, com textos de Ary dos Santos e Ruben de Carvalho e grafismo de José Araújo e de Luís Filipe da Conceição) e aí se explicava que, em rigor, não tinha chegado a ser afixado pois o Governo Civil não só o proibira como ameaçara com um vendaval repressivo ainda maior caso fosse afixado;
- o nº 6 contava a história do meu confronto no palco de um comício em Sacavém com um oficial do Exército que comandava a PSP de Loures que me conhecia (e eu a ele) pois, na minha passagem pela Repartição de Oficiais, eu até tinha acolhido favoravelmente uma sua «cunha» para a sua colocação no Continente após uma comissão de serviço na guerra colonial; e, nesse post, eu evocava sobretudo o meu pressentimento de que, sem darmos em palco o menor sinal de nos conhecermos, deviamos estar os dois a pensar o mesmo, ou seja, qualquer coisa como: «raios, que azar, logo calhar-me este nesta ocasião».
- o nº 7 prestava homenagem à coragem e verticalidade do Prof. Henrique de Barros que, tendo sido assumidamente um defensor da não intervenção da oposição naquelas «eleições», publicou na primeira página do República um texto de vigorosa denúncia da repressão desencadeada pelo fascismo e exprimiu a sua profunda solidariedade para com os candidatos e democratas em luta, num gesto que outras relevantes personalidades de sectores oposicionistas que tinham abandonado a CDE não se lembraram de ter.
-o nº 8 tratava daquilo que o seu título indica com a vantagem de lembrar que naquela época eram apenas 1 milhão e oitocentos mil os inscritos no recenseamento.
do inicio da campanha eleitoral,
depois de 47 anos de experiência,
o fascismo ainda conseguiu inventar
mais esta limitação, constrangimento
e ameaça.
a «liberdade» daquela campanha na RTP
clicar na imagem para aumentar
ou ir aqui ao blogue «porta da loja»
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(*) Aproveito esta ocasião para esclarecer que em duas obras relativamente recentes (em Jorge Sampaio -Uma Biografia e no prefácio de Isabel do Carmo à obra Mulheres de Armas de Isabel Lindim) se refere, no primeiro caso em termos acessórios e no segundo com maior desenvolvimento, que, entre 1969 e 1973, o PCP teria trocado de aliados, ou seja em 69 nas CDE sem a ASP e com os «católicos progressistas» e outros sectores mais à esquerda e, em 73, como PS e sem esses sectores (que, por facilidade, se podem identificar como os grupos de Jorge Sampaio e de Isabel do Carmo). Ora manda a verdade que se diga que o PCP não trocou ninguém por ninguém e que foram, por um lado, mudanças no quadro político , por outro, vontades e atitudes alheias ao PCP que determinaram uma diferente composição unitária das CDE de 1973. O que realmente aconteceu é que em 1973 o PS já estava em posições significativamente diferentes das da ASP/CEUD em 1969 e que os grupos de Jorge Sampaio e de Isabel do Carmo passaram a opôr-se à intervenção nas eleições e a menorizar o objectivo da luta contra o fascismo erigindo em objectivo central a revolução socialista (Os interessados podem ler as suas «razões» de então aqui), sendo estes grupos que unilateralmente abandonaram a CDE no final de um plenário realizado num pinhal de Torres Vedras no Verão de 73. E para que não se pense que «os católicos progressistas» eram um grupo homogéneo, é bom lembrar que Pereira de Moura, Lindley Cintra, Felicidade Alves e outros participaram activamente na campanha da CDE de Lisboa de 1973.
É justo lembrar que um incomparável e em muitos casos inédito acervo fotográfico sobre as lutas da oposição em diversos planos desde a campanha de Delgado (1958) se encontra neste valioso álbum do fotógrafo e resistente antifascista Sérgio Valente.
É justo lembrar que um incomparável e em muitos casos inédito acervo fotográfico sobre as lutas da oposição em diversos planos desde a campanha de Delgado (1958) se encontra neste valioso álbum do fotógrafo e resistente antifascista Sérgio Valente.
Lista nacional dos
Candidatos da CDE aqui
Candidatos da CDE aqui
É bom relembrar, ter presente e retirarem-se as devidas ilações para os tempos que vivemos!
ResponderEliminarO meu muito ateu baptismo...
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