08 agosto 2017

Um artigo e um documentário

Outra conversa e outras
imagens sobre a Venezuela



 (via Nuno Ramos de Almeida no Facebook)
«¿Qué explica que en Caracas el grueso de quienes se levantan contra el empobrecimiento y la escasez sea quienes menos la padecen? Por supuesto que las clases medias y altas han perdido parte de lo que para ellas es lo más importante en la vida, que son el confort y la seguridad, pero parece extraño que los sectores populares no se hayan sublevado, siendo como son los más perjudicados por la crisis. Acaso la respuesta a ese aparente enigma esté, al menos en parte, en las políticas llevadas a cabo desde la Alcaldía de la ciudad mediante su Programa Transformando los barrios, que han mejorado la vida de buena parte del 60% de los tres millones de habitantes del conjunto metropolitano caraqueño, que viven en territorios urbanos durante mucho tiempo abandonados de la ciudad. Y no se trata solo de la promoción masiva de vivienda social, de la rehabilitación de casas y sitios, de la mejora del transporte público y la accesibilidad o de la generación o regeneración de espacios para la sociabilidad, algunos de ellos tan interesantes como los provistos por la fantasía del arquitecto Alejandro Haiek, como los equipamientos culturales o deportivos en las parroquias de El Valle, Petare, Catia y La Pastora. Por no hablar de iniciativas urbanísticas de envergadura, como el plan Barrio Nuevo Barrio Tricolor. Es eso y otra cosa más importante. Lo que se ha implementado en las barriadas populares de Caracas es sobre todo la autorresponsabilización de los habitantes a la hora de gestionar su propio barrio, organizados por y para ellos mismos, con una institución municipal que brinda capacitación, logística, recursos técnicos y en que la participación no solo consiste en intervención en los proyectos, sino también en su ejecución, mediante la cesión de los recursos a los vecinos para que sean ellos quienes las lleven a cabo. Y, sobre todo, la habilitación desde abajo de instrumentos de deliberación y administración colectiva, que diagnostican, priorizan y programan las iniciativas a tomar. 

aqui num blogue do «El Pais»










«Documental proyectado en el Festival de Cine Obrero 2009 (Felco) Uruguay. Muestra Informativa del Festival Internacional de Documentales “Santiago Alvarez in Memoriam” (Cuba 2009). Festival DOCA 2010, Espacio INCAA (Gaumont), Buenos Aires (Argentina. )I JORNADAS CINE URGENTE (2010). Cines Alexandra de Barcelona. Seleccionado para el archivo audiovisual OVNI (Barcelona, CCCB, 2011. Festival Internacional de Cine Político, Buenos Aires, 2011. (Realizado para Ávila TV y TVES, Caracas)

Este documental pretende rescatar la experiencia política de organización y lucha del pueblo venezolano a partir de un reflexión sobre la historia del barrio conocido como 23 de Enero.

Desde su fundación, las organizaciones populares que surgieron en el 23 han destacado por su papel en los acontecimientos políticos que han marcado el devenir histórico de Venezuela y que han conducido al país a un proceso revolucionario de nuevo cuño.

A partir de sus protagonistas que pertenecen a movimientos de base se hace un recorrido por los acontecimientos históricos más significativos desde la fundación del barrio hasta nuestros días, incidiendo en la relación entre luchas populares típicamente barriales: luchas por servicios básicos, cultura, etc. y la organización histórica de la izquierda venezolana y caraqueña.

Respecto al momento actual, este trabajo se interroga sobre las nuevas oportunidades y retos de la movilización popular que se abren con el nuevo gobierno revolucionario.»

 

07 agosto 2017

«Dramas» de Agosto

Há 11 anos também em Agosto
 


Não tem mistério que Agosto seja um mês mau para quem tem de escrever regularmente seja para a imprensa seja para blogues.  À parte algum ego, é apenas isso que me leva a republicar hoje aqui um meu artigo no Público em 25 de Agosto de 2006 que me apareceu ao abrir um CD antigo.


Ainda a “geração de 60”
 VÍTOR DIAS

A conjugação de diversas efemérides ou circunstâncias – com destaque para o centenário do nascimento de Marcelo Caetano que assumiu funções de Presidente do Conselho em 1968 e para a evocação da chegada à categoria dos sexagenários da geração dos baby boomers – deu origem, tanto na imprensa como na blogoesfera, a variados testemunhos, reflexões ou esboços de retratos da chamada “geração de 60” e também dessa década da vida portuguesa.

Neste final de Agosto, talvez os leitores ainda me consintam algumas anotações sobre este tema que não pretendem entrar em polémica com ninguém mas apenas enunciar algumas chamadas de atenção e colmatar certas lacunas por mim registadas, tudo com vista a reduzir os riscos de simplificações e de esquematismo.

Assim, em primeiro lugar, não me parece inútil recapitular que a expressão “geração de 60”, além de ter uma inerente circunscrição etária tem também um clara delimitação de carácter social, dado que, em vez de abarcar um diversificado conjunto de membros de classes, camadas ou grupos sociais, de facto e em rigor apenas abrange os estudantes e designadamente os de nível universitário (e, por vezes, de entre estes, se o palavrão não chocasse, uma “vanguarda” ou núcleos mais restritos de universitários que viriam a destacar-se posteriormente na vida intelectual ou política do país).

Em segundo lugar e, como consequência directa desta delimitação relativa à origem social, é preciso não esquecer que, a meio da década de 60, os estudantes universitários em Portugal talvez andassem pela casa dos 30 mil ou um pouco mais e que as positivas mudanças de valores, de vivências, atitudes, experiências e gostos culturais que normalmente são atribuídos à famosa “geração de 60” não podem ser automaticamente estendidos ao conjunto da juventude portuguesa nessa época.

Aliás, se bem me lembro, talvez não abrangessem sequer a maioria dos estudantes universitários, como os Grandes Inquéritos da JUC à população universitária (o primeiro de 1961 ou 1965, já não sei ao certo, e o segundo de 1967) bem revelaram, sem prejuízo de atestarem, sequencialmente, avanços, progressos e mudanças de mentalidades muito positivos.

E muitos que, na década de 60, foram forçados a passar da frequência de um curso universitário para a recruta do Curso de Oficiais Milicianos (isto é, exigindo a conclusão do antigo 7º ano dos liceus) em Mafra, na EPI (Escola Prática de Infantaria, ao tempo também conhecida como Entrada para o Inferno), rapidamente descobriram, na convivência diária com os membros do seu pelotão, que aquele era um “mundo” bastante diferente do “universo” das associações de estudantes. Ou seja, que, em regra, a maioria seriam bons rapazes e estimáveis camaradas de sofrimento, mas que eram muito acentuadas as diferenças pessoais em termos de quadro de valores, de sociabilidade, de interesses culturais e de consciencialização política.

Em terceiro lugar, não me parece que as transformações societais ou o compreensível deslumbramento com as “novidades” da década apaixonadamente vividas pela chamada “geração de 60” autorizem algum esquecimento ou menor atenção pelo mais que ia acontecendo no pais real durante essa década e que, longe de constituir uma “festa”, antes representava sofrimentos sem conta e autênticas desgraças nacionais.

Um pouco mais de espírito de solidariedade e de responsabilidade como cidadãos exige de todos que, nem que seja em lista abreviada e meramente exemplificativa, não se esqueça que é na década de 60 que perto de um milhão de portugueses “vota com os pés” emigrando “a salto” para a França e outros países europeus; que é em 1962 que os trabalhadores rurais do Alentejo e do Ribatejo têm de travar uma heróica e vitoriosa luta pela conquista das oito horas de trabalho diário; que é exactamente a meio da década de 60 que o fascismo e a PIDE assassinam o general Humberto Delgado; que é na década de 60 que decorre o mais longo período das guerras coloniais e que terá levado para a guerra em Angola, Moçambique e Guiné cerca de 800 mil jovens portugueses, criando uma corrente profunda de dor e ansiedade quotidianas em grande parte das famílias portuguesas.

Em quarto lugar, e tendo em conta a primeira anotação feita neste texto, é uma evidência que, como alguns lembraram, no processo de formação desta “geração” desempenharam um papel muitíssimo importante as lutas estudantis conduzidas pelas Associações de Estudantes que, por entre limitações, violências e repressões sistemáticas ou intermitentes, representaram uma espécie de pequenas “ilhas de liberdade” dentro da ditadura fascista e, em certas épocas, importantes tribunas de afirmação de um discurso abertamente antifascista.   

Mas, a este respeito, importa lembrar a um ou outro romântico ou devoto da espontaneidade que se tratava de “espaços de liberdade” conquistados pela resistência e pela luta e de estruturas associativas dos estudantes cujo papel, acção e intervenção eram evidentemente, em maior ou menor medida, tributárias de determinadas concepções e orientações políticas, de trabalho político organizado e de militância partidária nas Universidades.

E, a meu ver, torna-se necessário insistir com firmeza neste ponto porque, de vez em quando, já encontramos formulações marcadas pela ideia, a meu ver perigosamente errónea, de que o “25 de Abril” foi sobretudo o mero desfecho natural e inevitável de um conjunto de mudanças ocorridas na sociedade portuguesa e do correlativo enfraquecimento da base de apoio ao regime.

Uma tal tese comporta, de forma aberta ou velada, uma clara – mas inaceitável – desconsideração e desvalorização da luta popular e democrática contra a ditadura de Salazar e Caetano e passa ao lado da evidência de que, para a derrota do fascismo, o enfraquecimento da sua base de apoio terá sido importante mas seguramente menos do que a acção decisiva dos que, em vez de serem apenas desafectos ao regime em termos verbais ou de consciência, tiveram a coragem e a lucidez de ir mais longe, vencendo o medo, correndo riscos, trabalhando, lutando e combatendo activamente contra a ditadura.

Tudo visto, também sou dos que confessam ter algum orgulho em pertencer à “geração de 60”. Mas, ao contrário de outros, esse meu orgulho vem principalmente da contribuição que ela deu para a conquista da liberdade em 25 de Abril, para a “Festa de Abril” de abençoada e magnífica memória e para as posteriores tarefas de democratização da vida nacional.

Tudo visto, confirma-se o que já se devia saber: o nosso umbigo é o pior e mais limitado horizonte para conhecer a vida, o país e a sua história e para perscrutar os seus caminhos de futuro.   

Um livro estrangeiro por semana ( )

Ed. Faber, 15 Libras

Apresentação : «Contra um pano de fundo da política de guerra fria, motins de rock and roll e uma geração recém assertiva de juventude da classe trabalhadora, o compositor e activista político Billy Bragg gráficos da história, impacto e legado de skiffle - primeiro movimento pop de «indie» na Grã-Bretanha.Um relato meticulosamente pesquisado e alegre que explica como a skiffle provocou uma revolução  em forma de música pop como nós viemos a conhecê-la. Roots, Radicals & Rockers: How Skiffle Changed the World é o primeiro livro a explorar este fenómeno em profundidade.
É uma história de blues jazz, Teddy Boys e meninas beatnik , café-bar, boêmios e refugiados do Witch-Hunts McCarthyite. Billy mostra como a guitarra veio para a vanguarda da música no Reino Unido e levou diretamente à invasão britânica dos tops dos Estados Unidos na década de 1960.
Emergindo dos clubes trad-jazz dos anos 50, skiffle foi adoptado por adolescentes que cresceram durante o tempo sombrio do pós-guerra anos e do racionamento. Estes eram os primeiros  adolescentes  da Grã-Bretanha, à procura de uma música própria,numa cultura pop dominada por cantores e mediada por uma vedeta da BBC. Lonnie Donegan atingiu os tops em 1956 com uma versão de 'Rock Island Line' e em breve as vendas de guitarras dispararam de 5.000 para 250.000 por ano.
Como o punk rock que iria florescer duas décadas mais tarde, a skiffle foi uma música de «faça você mesmo». Tudo que você precisava eram três acordes de guitarra e você poderia formar um grupo, com os amigos tocando baixo com uma caixa de chá e a tábua de lavar como uma secção rítmica.» (tradução manhosa)



mais aqui no Guardian e
aqui em In These Times


05 agosto 2017

Passe a publicidade

Dando uma lição a
um anticomunista fraquinho


Na sua crónica de hoje no Público, que tem o sem dúvida saboroso título «PCP: um partido, dois sistemas», o sempre fulgurante João Miguel Tavares proclama que o PCP «é um partido que quer tanto impor o comunismo lá fora(...)» mas «parece tão pouco interessado  em impô-lo cá dentro (...)
E, entre outras palermices, invoca como sustentação para a sua tese que foi ao sítio do PCP e, na sua versão em inglês, encontrou que «o PCP celebra a Revolução de Outubro e anuncia em grande plano :"Socialism necessary today and for the future», enquanto, na versão em português, o que encontrou foi «a promoção da Festa do Avante!, em modo 100% capitalista:"Entrada Permanente à venda - 23 euros até 31 de Agosto - Compra já» e que quando se clica no «compra já», horror dos horrores, também se vai para a Ticketline».
[veja-se como JMT mente: o topo da página inicial do site do PCP trata de muito mais que a Festa do «Avante! e, quanto a esta também conida «conheça a programação»]
Assim sendo, o que venho aqui dizer com todas as letras é que JMT se revela um  anticomunista fraquinho, insípido e afinal timorato.
Com efeito, com alguma autoridade e conhecimento de causa que JMT não tem, o que venho denunciar corajosamente é que, qual Ticketline qual carapuça,  o PCP trabalha com bancos privados, abastece o seu refeitório na Soeiro com produtos comprados na Makro, compra computadores, esferográficas e papel de fotocópias em empresas privadas e, quanto à Festa, tem contratos com a Delta, a Pepsi e a
Superbock.
 
Não fosse sábado e não fosse não ter encontrado o chefe de contabilidade do PCP e os leitores teriam aqui uma infinita e vibrante lista de negócios do PCP com empresas privadas que são obviamente uma ultrajante traição aos seus ideais socialistas.

É certo que, em relação à Festa do Avante! e às comparações com  o Festival de Paredes de Coura, algum comunista mais matreiro dirá (copiando um seu outro camarada) que aquela bandeira vermelha no ponto mais alto da Festa fala como um livro aberto sobre um projecto, uma ideologia e um caminho quase centenário de lutas, sonhos e esperanças.

Mas não liguem. Isso é mais uma invenção dos comunistas porque se trata sim de um trapo encarnado que o
vento trouxe na 1ª edição na Atalaia e, depois disso, nunca mais ninguém conseguiu subir lá acima.

Porque hoje é sábado ( )

Maria Arnal
e Marcel Bagés


Por influência do Ípsilon e do Festival de Sines,
a sugestão musical de hoje vai para os catalães

Maria Arnal e Marcel Bagés
no seu álbum "45 cerebros y 1 corazon
"


ouvir aqui

Em Slate.com

Um jornal online norte-
americano tenta perceber 

porque é que Trump não se rala
com a democracia na Arábia Saudita
ou Turquia e se rala com a da Venezuela

 

04 agosto 2017

Quando podem, resolvem o problema assim

Ainda se lembram ?
 
28 de junio
La madrugada del día 28, fuerzas armadas al mando del teniente coronel Rene Antonio Herpburn Bueso, allanaron la residencia presidencial, para posteriormente detener al presidente Manuel Zelaya.18​ Luego, fue trasladado a la base de la Fuerza Aérea al sur de Tegucigalpa para ser llevado finalmente a Costa Rica.1920
En sesión del Congreso Nacional de Honduras se admitió la renuncia del presidente Zelaya por una supuesta carta21​ que habría redactado el 25 de junio. Desde Costa Rica el presidente Zelaya desmintió haber presentado tal renuncia2223​ e hizo un llamado a la desobediencia civil. Luego, el Congreso resolvió por unanimidad la destitución del presidente Zelaya, por considerar que las acciones de gobierno de éste habían violado la Constitución y el ordenamiento jurídico del país, y designó para sucederlo al presidente del Congreso, Roberto Micheletti, con el compromiso de que el mismo permanecerá en el cargo hasta la terminación del mandato de Zelaya en enero de 2010.24 (Wikipedia)

Uma notícia muito querida

Uma bela e justíssima
iniciativa na Festa do
"Avante!" 2017

A arte de José Araújo, construtor
do Avante! e da Festa







«ARTES PLÁSTICAS - No ano em que se realiza a 20.ª bienal, também a exposição de José Araújo, que entre muitos outros ofícios foi gráfico do Avante! desde Maio de 1974 até finais da primeira década do século XXI, promete surpreender.»

«A exposição é composta por cerca de 40 obras que têm a colagem como elemento central. Mas como revela Francisco Palma, um dos responsáveis pelo espaço das artes plásticas na Festa do Avante!, os vários trabalhos, organizados por séries, remetem para diferentes técnicas e abordagens: do informalismo ao surrealismo, da arte pop ao expressionismo e ao dadaísmo. Em comum a todos eles, acrescenta, o olhar atento e crítico do artista ao mundo que o rodeia: «praticamente todas as obras têm um elemento, por vezes quase subliminar, de profundo conteúdo, que remete para temas como a arte, a política ou a religião.»


O autor, por seu lado, realça que as obras que estarão em exposição (como tantas outras que produziu ao longo de décadas) resultam do hábito de aproveitar as pausas entre trabalhos e os tempos mortos para criar, a partir de suportes e materiais «que estão ali à mão», e como forma de aliviar a tensão – outros, lembra, fumavam ou iam ao café... O estirador é o local onde tudo nasce e pelo menos desde O Século, para onde foi trabalhar em 1965, que assim é. A escala dos trabalhos é a do próprio estirador.


Nessa altura, lembra, era nos intervalos entre a paginação do jornal e a produção de folhetos publicitários (e também de alguma propaganda clandestina ou semi-clandestina) que surgia o impulso criador, entre jornais e revistas, canetas e tintas, tesouras e cola.


E assim se manteve a seguir ao 25 de Abril, e durante muitos anos, já na redacção do Avante!. Mudou a intensidade da vida e a multiplicidade das tarefas, às quais se somou a concepção de inúmeras capas de livros e cartazes políticos. Num momento em que tudo era feito à mão, em folhas de papel e mesas de luz, era nos materiais sobrantes de todos os trabalhos que realizava que José Araújo encontrava a matéria-prima das suas criações.


Hoje, muito embora domine os programas informáticos, que utiliza para os trabalhos gráficos que recorrentemente lhe solicitam, continua a ser no estirador (que permanece tão desarrumado e cheio de potencialidades como antes, confessa) que José Araújo dá asas à sua criatividade e continua a observar o mundo com o seu olhar crítico e transformador.


Um feliz acasoA exposição de José Araújo que estará patente no espaço das Artes Plásticas, junto à bienal, nasceu por acaso. O caso conta-se em breves palavras e é revelador da personalidade do artista. Há dois anos, em plena campanha de fundos para a aquisição da Quinta do Cabo, José Araújo entregou ao Partido várias obras para que fossem vendidas na banca da Festa do Avante! e dessa forma permitissem angariar algum dinheiro. Na sua maioria, esses trabalhos foram realizados nas semanas e meses anteriores, durante a concepção dos vários materiais que ainda hoje produz para a Festa.


Quem não esteve pelos ajustes foi o grupo de trabalho das artes plásticas, que se apercebeu da qualidade artística dos trabalhos que tinha entre mãos. «Não podíamos deixar que aquelas obras fossem vendidas, pelo menos sem que antes as mostrássemos», afirmou Francisco Palma. O próprio autor só soube da intenção de se organizar uma exposição das suas obras algum tempo depois e por telefone.


Para além desta mostra, José Araújo já participou em várias edições da Bienal da Festa do Avante!, sempre recorrendo a pseudónimos que nem a própria organização do certame conhece. Tal como nessas ocasiões, José Araújo também não quer receber nada por eventuais vendas das obras patentes nesta exposição em nome próprio. Por uma questão de princípio, desde logo, mas também porque foi sua intenção desde o início que elas contribuíssem para a recolha de fundos para o Partido.


Da criança que «fazia bonecos» ao mestre gráfico

Desde criança que José Araújo revelou especial talento e apetência para as artes. Dele diziam, na escola, que «não sabe fazer nada, só faz bonecos». A preocupação dos pais e a sensibilidade de um professor levam-no à António Arroio, à data a única escola mista de Lisboa, onde se cruzavam não apenas rapazes e raparigas, mas também jovens de origens sociais muito diversas: «Havia de tudo, da rapariga que ia para a escola no Cadillac do pai aos filhos dos proletas», recorda.


Na escola foi várias vezes recrutado para trabalhar em exposições – «as letras nos expositores eram feitas à mão e eram os putos da António Arroio que as pintavam» – e uma vez terminada a escolaridade trabalhou dois anos no Parque Mayer e depois numa oficina gráfica. Foi aqui que, pela primeira vez, leu o Avante! clandestino, escondido dentro do jornal desportivo que normalmente se encontrava na casa de banho.


A guerra colonial interrompeu-lhe a carreira, que prosseguiria mais tarde no prestigiado jornal O Século e na revista O Século Ilustrado. Paralelamente funda, juntamente com o amigo de infância e companheiro de ofício Luís Filipe da Conceição, o Centro Gráfico Maria Machado, criado em 1969 pela necessidade de se assumir a paternidade de um cartaz da Comissão Democrática Eleitoral/CDE, da autoria de ambos.


Se em todos os locais onde trabalhou recolheu ensinamentos essenciais para o seu trabalho, José Araújo procurou também passá-los a outros, mais jovens. Para todos ficou conhecido por Mestre Araújo – como um dia lhe chamou um quadro de uma empresa de artes gráficas, que o reconheceu décadas depois da sua passagem pelo jornal O Século como aprendiz: «sou o Pedrinho», afirmou, procurando (com sucesso) apelar à memória do seu antigo mestre. Esta passagem de ensinamentos entre gerações e a ligação ao trabalho concreto e aos protagonistas dos vários ofícios foram elementos centrais da sua formação como profissional e artista.


José Araújo fez parte da equipa que editou o primeiro Avante! legal, lançado a 17 de Maio de 1974 e que vendeu meio milhão de exemplares. Nem o próprio saberia então como a sua vida ficaria tão marcadamente ligada ao órgão central do Partido Comunista Português, do qual foi não apenas um destacado obreiro como empenhado mestre dos que desde então desempenham o ofício que era seu.» (aqui)


Os membros do Centro Gráfico Maria Machado : Baltazar, José Araújo e Luís Filipe da Conceição.

03 agosto 2017

vê lá se gostavas

Um título que
empurra para o grau zero
do debate político




O facto de ao longo de várias décadas ter discordado bastante de posições de Boaventura Sousa Santos e com elas ter polemizado bastante não me impede de dizer que este título escolhido por João Miguel Tavares para a sua crónica de hoje no Público é uma infâmia e puro terrorismo mediático.

Que isto é meio caminho andado para o grau zero do debate político é coisa fácil de ver, bastando para isso supor que alguém - reprovavelmente ! -  escrevia crónicas com estes títulos: