Manuel Loff
sobre os idosos
«Este país não é para jovens mas, como no título do filme, também não é para velhos. A poucas semanas de votar, paremos para avaliar a qualidade de vida de quem envelhece em Portugal. Dos 2,3 milhões de idosos, mais de 1,1 milhões de reformados da Segurança Social (58% do total) ganhavam em 2017 uma pensão inferior a 264 euros, e pouco se progrediu nos últimos anos. Outros 243 mil (12,5%) ganhavam menos de 632 euros, isto é, abaixo do salário mínimo. Dos que descontaram para a Caixa Geral de Aposentações, outros 100 mil (21%) ganhavam em 2018 menos de 500 euros. A enorme maioria dos idosos deste país dispõe de um rendimento tão baixo que ou vive na pobreza, ou na dependência. É-lhes muito difícil assegurar decentemente a sua saúde, enfrentar a doença e ser devidamente atendido por um SNS que, justamente na saúde primária dos mais velhos, mostrou a sua fragilidade desde o início da pandemia. Para muitos dos que vivem em casas arrendadas em zonas urbanas sujeitas à pressão imobiliária, a “lei Cristas”, apesar de ligeiramente revista, continua a constituir uma ameaça. Um grande número faz parte dos 19% dos portugueses que, segundo o Eurostat, não têm recursos para aquecer devidamente a sua casa. (...)
Quando votarmos a 30 de janeiro, lembremo-nos da vida real das pessoas, dos seus problemas concretos, num país cujos governos continuam a fingir não ver nada disto, ou a pretender que a pobreza e a emigração são males inevitáveis que sempre cá estiveram. Dar a volta a isto é possível; ainda agora os chilenos o demonstraram! Quase meio século de democracia não pode continuar a arrastar este reiterado incumprimento do dever de redistribuir a riqueza e de assegurar a todos, sem exceção, um nível de vida e uma imaginação confiante do nosso futuro.» (Manuel Loff no «Público» de hoje)