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Dever de memória
Pois, pois, mas certas
companhias não abonavam nada
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Sá Carneiro e Soares Carneiro
A minha recordação
de há 40 anos
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01 dezembro 2020
Há espíritos muito retorcidos
30 novembro 2020
Congresso do PCP e «critérios jornalísticos»
A ânsia de «novidades»
de braço dado com
a distância da vida real
Li David Pontes no «Pùblico» a sentenciar que não se ouviu nada no XXI Congresso do PCP que não pudesse ter sido ouvido no XX e também li São Jose Almeida a decretar no mesmo jornal que o PCP está «auto-sitiado». Efiquei então com vontade de escrever sobre a impossibilidade de tantos jornalistas olharem o PCP fora da caixa férrea de que olham os outros partidos. Mas não vale a pena porque Pedro Tadeu (DN/TSF) já o fez e muito melhor do que eu faria. Escreveu ele :
« Tal como muitos outros jornalistas, passei o fim de semana a acompanhar o XXI congresso do Partido Comunista Português. O foco editorial da maioria das notícias, das reportagens, das análises e dos comentários que li, vi, ouvi e participei distribuiu-se pela polémica sobre a realização da iniciativa comunista durante o estado de emergência, a possível substituição de Jerónimo de Sousa como secretário-geral do partido e se o PCP iria permitir que o PS continuasse a governar o país.
No final daqueles três dias, para ser franco, pareceu-me que o congresso que vi relatado nos melhores horários das televisões e das rádios, ou contado nos principais títulos e peças dos jornais, padecia de uma distorção em relação ao que vi acontecer no Pavilhão Paz e Amizade.
A distorção é esta: aquilo que para nós, jornalistas, parece ser mais importante dizer ao país sobre o congresso do PCP parece não ser, para os congressistas do PCP, o mais importante do que acontece no país.
Contei 92 intervenções, feitas ao longo dos três dias de trabalhos. Nenhuma, que me recorde, abordou o tema da substituição de Jerónimo Sousa, que ficou para a parte fechada à imprensa. Quanto aos outros dois assuntos mais tratados jornalisticamente - a polémica com a realização do congresso e a posição futura do PCP em relação ao Governo - foram referidos por dirigentes nacionais do partido, incluindo o líder, mas ocuparam um espaço muito minoritário no total de intervenções feitas.
Faço, então, uma pergunta: depois de Jerónimo de Sousa abrir os trabalhos do congresso do PCP, na sexta-feira, qual foi o tema da primeira intervenção feita pelos delegados?...
Bem, foi a do militante João Norte, que explicou como andava a dirigir uma célula de trabalhadores comunistas no setor dos moldes e metalúrgicos da Marinha Grande. João Norte subiu à tribuna para comunicar o seguinte:
"Foi-me colocada a tarefa de ser responsável da célula e, com os camaradas do setor, lançámos mãos ao trabalho. Foram muitos contactos, consultas de ficheiros e reuniões para pôr a célula a funcionar.
Criou-se um boletim que intitulámos "O Postiço", nome familiar a todos os trabalhadores do setor, para que se identificassem rapidamente com o seu conteúdo.
Na primeira edição, escrevemos sobre a precariedade, as horas extra semanais sem remuneração e ao fim de semana pagas ao preço de hora normal. Os horários desregulados, entrar às 5h da manhã e sair às 10h da noite. Os escassos transportes públicos. A situação dos comerciais, que, depois de jantar, ainda têm de estar em contacto telefónico com clientes, o teletrabalho sem horário de saída e com despesas acrescidas, enquanto o salário se mantém igual."
Intervenções como esta foram às dúzias e falaram sobre passes sociais, distribuição de água, despedimentos coletivos, lutas em fábricas e muitas outras coisas quotidianas, eventualmente pequenas para o mundo em geral, mas enormes para o mundo das pessoas envolvidas.
Para a maioria dos jornalistas que cobriram o Congresso do PCP, discursos como este não têm importância alguma, serão, quanto muito, curiosos e um pouco chatos, porque escasseiam de significado político profundo e aparentam não ter impacto direto nas decisões da liderança do partido ou nas relações deste com os outros partidos.
Em contrapartida, para os militantes comunistas, como eu, intervenções como as daquele operário são o fundo político não só da realização do congresso, mas uma das razões para a própria existência do PCP e a base de onde partem as suas posições políticas, gerais ou setoriais.
E, realmente, qual é o partido político que leva ao seu congresso uma intervenção sobre a situação dos trabalhadores da indústria de moldes na Marinha Grande?
Qual é o partido que equipara em dignidade e espaço tribunício o relato sobre o conteúdo do boletim "O Postiço" com reflexões sobre as novas tecnologias na indústria, a crise na União Europeia ou a estratégia de alianças para o ciclo político seguinte?
Creio que nenhum outro partido em Portugal faz isto, tirando o PCP.
Talvez seja esta originalidade, esta raridade, este modo diferente de estudar e debater o país que leva o jornalismo político, como o que eu fiz este fim de semana, a não conseguir enquadrar inteiramente no seu cânone editorial o que se passa num congresso comunista - para quem está treinado a destacar, noticiar e analisar a luta pelo poder das cúpulas e das elites do país, aquilo, no PCP, aparenta ser real, mas parece ser de outro planeta.»
Adenda da minha lavra
Uma coisa é a incapacidade de alguns jornalistas sairem de esquemas preé-cponcebidos na análise do PCP mas outra coisa é a deturpação pura e simples. No «Público», São José Almeida escreveu que «logo na sexta-feira, o histórico dirigente e guardião da ideologia do PCP Albano Nunes garantiu que o "Rumo à Vitória"continua válido como projecto político.»
A afirmação não tem o mais pequeno fundamento. O que Albano Nunes referiu foi que «A aplicação criativa do marxismo-leninismo à análise da realidade portuguesa que, entre outras obras de Álvaro Cunhal tem no “Rumo à Vitória” uma brilhante expressão - apontando ao povo português o caminho de uma revolução original, democrática e nacional, que o processo da Revolução de Abril veio confirmar – constitui um notável exemplo da contribuição do PCP para o enriquecimento da ideologia da classe operária».
Assim não vale.
Já não engana ninguém
A Bonifácio a assinar
contrato com o Chega.
Por cinco épocas.
« O Chega, se conquistar a necessária credibilidade, talvez ajude a criar um espaço de discurso público isento dos constrangimentos e dos tabus que têm impedido a livre expressão de quem não se revê no socialismo. O desnorte político e intelectual criado pela sua aparição parece-me um fenómeno de bom agoiro.»
- Fátima Bonifácio no «Público» de hoje