Duplicação de reuniões
e violas no saco
Quem assim o achar pode chamar-me de velho, de embirrento, de formado numa «arqueológica» escola política e de insensível às exigências de «transparência» das sociedades modernas. Façam favor, não se acanhem.
Mas, mesmo correndo esse risco, como de outras vezes sem qualquer acrimónia de natureza pessoal, eu não posso deixar de opinar que o que está em cima referido pelo Público a respeito de um partido em constituição não resiste a um módico de espírito crítico e só pode aparecer como uma espécie de foguetório mediático e de procura da diferença pela diferença.
Por duas razões que me parecem óbvias e elementares:
- a primeira é que nem o órgão executivo do partido mais original e informal do mundo deixará de ter assuntos reservados a tratar, sejam eles de natureza administrativa, táctica ou estratégica, o que é evidentemente incompatível com a presença de jornalistas; e, assim sendo, é legítimo que se pense que num tal partido o que passará a haver são reuniões do tal órgão executivo para comunicação social ver e outras fechadas à comunicação social onde aí sim se discutirão as questões partidárias e políticas mais sensíveis ou delicadas:
- a segunda é que a abertura à comunicação social das reuniões de órgãos relevantes de um partido serão inevitavelmente não um factor de liberdade de opinião para os seus membros mas um poderoso constrangimento a essa liberdade e à expressão de divergências pois que, quando cada membro falar, estará a pensar no que poderá ser reproduzido na comunicação social do dia seguinte.
Desculpem lá, mas há aqui uma crise que evidentemente não é propriamente social, económica ou política mas para a qual não encontro (ou não quero encontrar) o adjectivo adequado.