O caminho cultural de Sócrates
Já ninguém se lembra, e seria uma crueldade reproduzir esse texto agora, mas creio que foi na entrevista à revista do Expresso em que há muitos anos se qualificava como um «animal feroz», que Sócrates inundou a sua conversa de montanhas de citações de autores de uma maneira tão pouco natural que dava a ideia de alguém que queria exibir um lastro cultural que não tinha (e não tinha obrigação de ter), o que aliás só era possível, no quadro de uma entrevista, pelo recurso a apontamentos escritos. O tempo passou, e designadamente agora depois da estadia em Paris, a sua recente entrevista a Clara Ferreira Alves também na revista do Expresso parece comprovar que José Sócrates cresceu de facto muito do ponto de vista cultural, como se pode atestar por esta frase:
Com toda a seriedade e sinceridade, aqui fica pois registada a minha admiração e até inveja, o que os leitores certamente compreenderão vindo de um comunista que, por razões de idade e preguiça intelectual, vai morrer sem ter lido sequer um quarto de O Capital embora tenha repetido a leitura de muitas obras do Raymond Chandler.