13 outubro 2013

Palavras antigas sobre publicidade na RTP ou...

... quando os defensores
do «mercado» já não gostam
que seja o «mercado» a decidir



Por esta notícia no Público fica-se a saber que o governo terá recusado aumentar os limites de publicidade na RTP porque prefere impor-nos a todos um considerável agravamento da taxa do audiovisual cobrada dentro da factura da luz. E só para que não se pense que tudo isto é novo, lembrei-me de reproduzir hoje (sobretudo por causa da parte sublinhada que é a verdadeira moral da história) o que escrevi
no Semanário de 17 de Maio de 2002, ou seja, há 11 anos:

«(...) A segunda observação é para abordar a questão da publicidade no serviço público de televisão, começando logo por dizer que ficamos verdadeiramente comovidos quando vemos representantes do PSD e do CDS-PP a proclamar que a existência de publicidade gera a luta por ela, que esta gera por sua vez a luta pelas audiências, e que esta gera por fim a inevitável degradação da programação.

Do nosso ponto de vista, não se trata tanto de negar os nexos possíveis entre os fenómenos descritos mas de assinalar o simplismo e esquematismo da tese. Para quem, como nós, sustenta simultaneamente que o serviço público de televisão não deve participar numa luta dementada pela conquista de audiências a qualquer preço mas também não deve desistir de ter a significativa audiência que é essencial à sua própria missão, o problema tem de ser resolvido ao nível de uma cuidada e firme orientação e não através do fim da publicidade.

Lembramos a este propósito que a RTP/2 não era seguramente participante da luta pelas audiências e, no entanto, havia empresas que lá colocavam publicidade até ao dia em que, administrativamente, o Governo do PS a proibiu, ao mesmo tempo que impunha maiores restrições quantitativas à publicidade na RTP/1.

Mas, nesta matéria, o que é mesmo curioso é ver partidos e personalidades que, em quase tudo o mais, andam sempre a defender o excelso "mercado" e as suas famosas "leis", quando se trata de publicidade na televisão já quererem que seja o famigerado Estado a decidir a favor de uns - os canais privados - e contra outros - os canais públicos, oferecendo por via legislativa ou regulamentar aos primeiros a vitória total sobre os segundos que não conseguiram no "mercado".

E porque há pequenas coisas que falam mais do que as grandes, registamos que foi sob o interrogado título "O fim do saque à RTP?" e para aplaudir "a vontade que o Governo manifesta de encarar de frente os problemas da RTP" que o desinteressado "Expresso" inaugurou, no passado sábado, a publicação de uma nota-editorial logo na primeira página, neste caso conveniente realçada por um fundo de azul.

E para a pequena história desta questão da publicidade, talvez deva ficar ainda como exemplo de autismo perante a realidade e de dogmático acantonamento em torno de "princípios" ou aspirações abstractas, a defesa pelo Bloco de Esquerda ( consagrada em projecto de lei que apresentou) do fim da publicidade nos canais de serviço público de televisão, como se fosse possível fugir à evidência de que isso significaria inevitavelmente dar um generoso brinde aos canais privados, aumentar os encargos do Estado e, com isto, dar alimento a maiores pressões futuras para a privatização ou liquidação da RTP. (...)»
[aqui    ]

Antes isso e ainda bem

Um novo ícone no Chile -
os óculos de Salvador Allende

A ler aqui




Lentes de Allende


Perros en la lluvia
Caminan conmigo
Mientras los paraguas
Rugen hacia el cielo

Con dientes de fuego

Círculos de fuego
Que hacen los inviernos
Flores y radares
Pétalos de hielo

Vueltos al infierno

Giro hacia la gente
Mis lentes de allende
Y como en los sueños
Van todos al frente

Con lentes de Allende

Máquina que cose
A la mujer que tose
Yo la llamo madre
Tú no la destroces

Con dientes de sangre

Máquina que tose
A la mujer que cose
Papel mantequilla
Bajo la bombilla

Con lentes de Allende

ver aqui

12 outubro 2013

Um caso de inadmissível humilhação nacional

Se o Presidente da República
e o primeiro-ministro
não são
capazes de lhe dar a devida
resposta, então sê-lo-ão de
qualquer lado menos de Portugal


Eu não posso esparar evidentemente que personalidades com a orientação política do Presidente da República e do primeiro-ministro que respondam a Lagarde aquilo que eu e muitos outros responderiam, ou seja, que os chumbos do Tribunal Constitucional são uma particular vantagem para os portugueses que, nesta ou aquela matéria, se vêem protegidos de graves abusos e prepotências governamentais. Mas seria de esperar de quem tivesse um grama de brio patriótico e de respeito pela dignidade do seu país que dissesse à Srª Lagarde que os seus atrevidos e insolentes comentários sobre o funcionamento e as decisões das instituições democráticas portuguesas são intoleráveis e, a repetirem-se no futuro, obrigarão Portugal a considerá-la, em termos diplomáticos, uma «persona non grata».

A outra verdade das sondagens

Diálogo improvável
na S. Caetano à Lapa




Passos Coelho:« Então, Marco, finalmente boas notícias: o Expresso diz que, no espaço de 15 dias, os partidos do governo sobem e o Henrique Monteiro conclui que, por isso, afinal as autárquicas não tiveram nenhum efeito nacional.»

Marco António Costa:
«Desculpa , Pedro, mas a minha obrigação, em privado, é ter um olhar mais sério sobre estas coisas. Repara que a sondagem dá aos partidos do governo mais 1,3 pontos que nas autárquicas, o que é um terço da margem de erro. Ora, se 34,2% nas autárquicas foi uma enorme derrota, 35,5% numa sondagem para legislativas só pode ser a ameaça de outra enorme derrota. Repara que o tonto do Monteiro não percebe que, tendo nós e o CDS em conjunto tido nas autárquicas o pior resultado de sempre, era o que mais faltava que ainda fosemos mais ao fundo. E, por fim, repara que 26, 9% para o nosso partido seria o seu 3º pior resultado de sempre em legislativas. Resumindo, caro Pedro, não confundamos o discurso para fora com uma política de verdade cá dentro e entre nós.»

Porque hoje é sábado ( 345 )

Blitzen Trapper


A sugestão musical de hoje vai para
a banda country/folk norte-americana
Blitzen Trapper,
cujo último álbum se intitula VII

pode ouvir todo o álbum aqui
(é o quarto a contar de cima)

11 outubro 2013

Hoje, no «Ipsilon», justo destaque para

Roy Harper e o seu
novo disco Man & Mith





O BE e os «independentes» na AR ou...

... continuando a
escrever para o boneco



Sem surpresa (por alguma razão esta ideia abstrusa entrou na Declaração Final do Congresso Democrático das Alternativas), leio hoje no Público que o Bloco de Esquerda  (certamente por sólida e reflectida convicção e não por mero encosto à «onda»), manifestou ontem na AR uma posição favorável  à possibilidade de candidaturas de «independentes» à Assembleia da República (volto a sublinhar que não há maneira legal de impedir um filiado num partido de integrar essas hipotéticas listas). Uma posição idêntica havia sido assumida há dias Daniel Oliveira aqui num texto em que, honra lhe seja feita, se afastava apesar de tudo de alguns disparates circulantes mas onde sustentava o seguinte : «E esta é a principal razão porque, para além da possibilidade de intervenção dos eleitores na ordem das listas dos partidos, defendo a possibilidade de listas de cidadãos concorrerem às legislativas (apenas a cada círculo eleitoral hoje existente, caso contrário seriam partidos políticos sem os deveres correspondentes). Porque só através da concorrência democrática os políticos serão obrigados a escolherem os seus deputados pela sua capacidade de atração eleitoral e não apenas pela sua fidelidade ao líder ou apoio das estruturas locais. A outra possibilidade seriam os círculos uninominais, de que discordo, porque acabariam com qualquer ideia de proporcionalidade na representação parlamentar.»

Deixando de lado a questão de saber o que é que, nos tempos modernos, significará para Daniel Oliveira a « capacidade de atracção eleitoral» de um candidato (espero que não seja aquela que levará um partido a prescindir de um competentíssimo economista só porque não é um orador brilhante !), por ora só quero sublinhar que é completamente artificial a distinção feita por D.O. entre um círculo nacional e «apenas a cada círculo eleitoral hoje existente».

Porque, como disse aqui já há 14 meses, verdadeiramente as candidaturas de «independentes» à AR só seriam possíveis «com a criação dos famigerados círculos uninominais, [que actualmente - e ainda bem - a Constituição não permite] expressão máxima do que tenho chamado «escrutínio de ladrões».  E é assim porque, quer o sistema eleitoral se baseasse apenas num círculo nacional ou em círculos distritais ou nos dois, a verdade é uma lista com 12, 24 ou 50 candidatos ditos «independentes» (insisto, propostos por cidadãos eleitores) deixaria de o ser porque quando 12, 24 ou 50 candidatos se associam para se candidatarem à AR é porque tem as suficientes afinidades programáticas entre si, já não há a candidatura individual, o que há é um partido informal que não quis ter nem o trabalho nem as obrigações de ser um partido a sério.»

E, por hoje, mais não digo porque estou fartinho de escrever sobre estes temas (por exemplo, entre muitos outros posts,  aqui e aqui) sem que ninguém se digne discutir ou polemizar comigo.

Hoje no «New York Times» ...

... e amanhã certamente
nos jornais portugueses