17 abril 2013

Espectáculo por Abril

Sexta, no Centro
Nacional  de Banda Desenhada




Sim, sexta  dia 19, na Avenida do Brasil, nº 52  , na Amadora, pelas 21 hs.,espectáculo O Canto de Intervenção em Portugal e no Mundo


16 abril 2013

Desculpem lá mas

Declaração para a acta




Venezuela ou...

... quando 50,75% é menos que  50,5%
 e muitíssimo menos que 51% ou  52,9%


Como se calculará, a última coisa que me passaria pela cabeça seria não olhar de frente que Nicolas Maduro, por comparação com a última eleição de Chavez, obtém menos seiscentos e tal mil votos e que a sua vitória é relativamente tangencial e que, por isso, se deseja que os dirigentes da chamada revolução bolivariana ponderem seriamente esse sinal. Isso é uma coisa mas outra muito diferente é, como está acontecendo, esquecer que Obama foi reeleito com 51% dos votos e que Cavaco Silva em 2006 obteve 50,5% em 2006 e 52,95% em 2011. E, quanto a fraudes eleitorais, revisitem-se as declarações de Jimmy Carter sobre o extraordinariamente limpo e moderno processamento eleitoral na Venezuela e informe-se que, nos EUA, há blogues e sitios democratas  e republicanos que se ocupam só a denunciar o que, à vista desarmada, parecem ser casos de gritante fraude       eleitoral.

P.S.: Maduro ganha com mais um ponto e o Público titula hoje:

mas em Outubro Chavez ganhava com mais 10 pontos e o Público já títulava:


sobre Outubro ler aqui

Maratona de dor

B de Boston, B de Blood



15 abril 2013

Adaptando Lewis Carroll

Miguel no
País das Patetices


Eu sei que os velhos como eu sofrem de uma malfadada pulsão para acharem que nunca há nada de novo debaixo do Sol mas, apesar deste relâmpago de lucidez e autocrítica, não posso deixar de confessar que se há coisa que me irrita e desespera é o constante regresso de opiniões, teses e apreciações velhas de 10, 20 ou 30 anos e que, sem contradita razoável ou fundamentada, já foram desmascaradas e espatifadas inúmeras vezes.

É o que volto a sentir quando, na página 5 do último Expresso, leio na primeira parte de um artigo de opinião coisas com estas (sublinhados meus):

«Não gosto da minha Constituição. Tenho pena de o dizer porque acho que a Constituição como o hino e a bandeira, é uma marca identitária da nação, o seu BI, na qual todos, absolutamente todos, se deveriam poder rever. Gostaria que os constituintes de 1976 nos  tivessem dado uma Constituição que, por tão simples, evidente e consensual, fossemos capazes de recitar de cor,  tal como a letra do hino. Mas como se pode recitar de cor uma Constituição que tem 294 artigos [por acaso tem 296], mais a sua divisão em números e alíneas, e nos foi orgulhosamente [???] apresentada como a segunda maior do mundo à época, só suplantada pela da ex-Jugoslávia ?.  Infelizmente os símbolos da Nação foram capturados e impostos pelo mau gosto tribunício da Primeira República. A bandeira é a mais feia do mundo; o hino é ridículo e patético e a Constituição, filha dos filhos da Primeira República é um texto irresponsável e abusivo. É irresponsável porque desresponsabiliza uma nação inteira: há, na Constituição 95 artigos que garantem toda a espécie de direitos  a todos (a sua frase mais comum é «todos tem direito a» mas não há um só artigo que estabeleça um dever dos cidadãos». É abusiva porque é uma Constituição unilateral, ideológica e politicamente balizada. (...) Não venham pois apresentar a Constituição como um boi ápis sagrado, porque a única coisa sagrada é a liberdade e a democracia - e isso caberia em cinco artigos de uma Constituição verdadeiramente democrática, que esta não é.(...)»

Quem assim escreve, no ano da graça de 2013, é nem mais nem menos Miguel Sousa Tavares (confesso que uma espécie de meu velho «inimigo (aqui carradas de aspas) de estimação  » e espero que ele assim também retribua), licenciado em Direito, jornalista, escritor e comentador que, por ironia retroactiva da história, se deve ter estreado, para aí aos 20 anos, na tomada de posições políticas públicas ao apôr a sua assinatura na primeira folha de um abaixo-assinado de solidariedade com os participantes na vigília da Capela do Rato (1972), assinatura essa que tinha a companhia muito próxima de uma data de comunistas, entre os quais Carlos Carvalhas, Sérgio Ribeiro, Lino de Carvalho e eu próprio. Só faltando acrescentar que, et pour cause, este artigo de M.S.T. termina  com um firme defesa da atitude que o governo assumiu perante as recentes decisões do Tribunal Constitucional.

Posto isto, faltando paciência para mais, sete observações:



É francamente espantoso que pessoas que se reclamam sempre de um desperto olhar sobre a evolução e mudanças nas sociedades contemporâneas, marcadas indiscutivelmente por uma sempre crescente complexidade das situações, dos conflitos  e dos problemas, venham suspirar  por uma Constituição que « pudéssemos recitar de cor». Neste domínio, é caso para dizer que até um ex-estudante fracassado de Direito como eu tem autoridade para dizer ao licenciado em Direito Miguel Sousa Tavares   que deve ter andado a passar pelas brasas durante as aulas de Direito Constitucional e que, para o ansiado  recitar de cor, melhor será então rezar Avé Marias.


A campanha contra a extensão da Constituição da República Portuguesa, actualmente com 296 artigos, tem tantos anos quanto a vigência da Constituição e, sobre isso, limito-me a repetir um desafio que já lancei no passado e que se pode resumir desta forma: «Deixem de ser preguiçosos, arregaçem as mangas e digam em concreto o que querem cortar e eu vos direi o que é que ideologicamente inspira esses cortes e o que procuram obter com eles; e também vos direi a quantidade de sarilhos e litigâncias de ordem constitucional que vão arranjar bem como as margens de incerteza, arbítrio e desprotecção que vão criar.»

A respeito de tamanhos, cumpre-me recordar que recordar que, entre os mais persistentes críticos da extensão da nossa Constituição, não me lembro de ter havido algum que tenha criado semelhante clamor a propósito do projecto de Constituição Europeia que tinha quase quinhentos artigos ou que, com regularidade, denuncie os normativos da UE  ( dos jaquinzinhos às galinhas poedeiras) dos quais se costuma dizer que, comparados com eles, os planos quinquenais soviéticos eram um modelo de simplicidade e liberalismo.


Já quanto ao alegadamente excessivo carácter programático da nossa Constituição, trata-se de uma clara manifestação simultaneamente de má-fé e de ignorância. Na verdade. só para citar alguns exemplos, a Constituição italiana (de 1947), a francesa (de 1958) e a espanhola (de 1978) estão cheias de artigos programáticos muito similares aos portugueses. A tal ponto que há uns anos num debate ocorrido no Museu-República e Resistência, como ilustração ou quase provocação, comecei a ler esses artigos durante cinco minutos e  depois disse aos assistentes: «Posso continuar por mais um quarto de hora, querem ou já lhes chega ?»., tendo os participantes optado pelo «já chega». Acresce ainda que uma maior densidade programática da nossa Constituição resulta naturalmente de ela ter incorporado não apenas o património específico de conquistas e aspirações da Revolução de Abril mas também do património de reflexão que internacionalmente se foi acumulando desde a elaboração das Constituições no pós-guerra.


Já quanto à demagogia fácil de M.S.T. sobre o «todos os direitos» e o «nenhum dever» na Constituição, só me apetece dizer duas coisas: uma é que foi pena que o ilustre comentador não nos tivesse explicado qual a lista de deveres que gostaria de ver consagrada na Lei Fundamental (ser bom "chefe de família", ser sócio do Benfica, perdão, do Futebol Clube do Porto, trabalhar honestamente, pagar impostos  ?(mas é preciso ?) ; a segunda é que o elevado Q.I. de MST e a sua formação jurídica não lhe permitiram perceber que, como vivemos em sociedade, por detrás de cada um dos direitos atribuídos aos cidadãos está reversamente consagrado o dever de não os ofender ou desrespeitar. Assim, entre dezenas de outros exemplos, se a Constituição consagra «o direito à vida» ou à «integridade pessoal» está automaticamente a consagrar o dever de não pôr em causa o direito à vida e o direito à integridade pessoal. And so on.

Acresce qye, para cúmulo do despautério, Miguel Sousa Tavares vem considerar um escândalo de bradar aos céus e, segundo ele, sem paralelo em todo o mundo, que um Tribunal Constitucional possa corrigir pontualmente  ou anular  por inconstitucionalidade um Orçamento de Estado, tese  que ainda por cima num tempo em que os governos passaram viciosamente  a despejar para dentro do Orçamento normas que deveriam ser objecto de autonomia legislativa, significaria um livre passaporte para todas as injustiças e prepotências.

Por fim, tenham dó e, por favor, não me venham com o exemplo da Constituição dos EUA que tem só 8 artigos (mas com várias secções) e 27 Emendas. É que os EUA tem a sua história própria, ficam do outro lado do Atlântico e a sua Constituição tem a impetuosa e fascinante juventude de ter sido escrita há 200 anos.

No Centro Mário Dionísio

Até 21 de Abril e a não perder

ARTISTAS AMIGOS DE MÁRIO DIONÍSIO - pintura e desenho do século XX

Até  21 de Abril de 2013
Horário de Funcionamento:
Segunda 
15:00 / 20:00
Sábados e Domingos
11:00 / 18:00
«Com esta exposição quisemos continuar a pôr à disposição das pessoas o espólio de Mário Dionísio.
Desta vez, obras de arte que lhe foram oferecidas, quase todas por quem as fez.
Juntam-se, assim, 28 artistas, todos do século xx, de características muito diferentes. O que têm em comum é terem vindo das paredes (poucos das gavetas) de uma mesma casa: a de Mário Dionísio e de Maria Letícia, na Av. Elias Garcia, em Lisboa. E quase todas ficaram emolduradas como estavam lá.
Por isso, chamámos a esta mostra reconstituição das paredes duma casa. O que não é bem verdade: algumas (poucas) obras têm molduras novas; havia nessa casa muitas outras peças nas paredes, nomeadamente quadros de Mário Dionísio; não estavam dispostas lá como nos pareceu interessante fazer aqui.

É que, além de disponibilizar uma «fatia» da arte portuguesa (e não só) do século xx, nem toda bem conhecida e parte dela esquecida, quisemos organizá-la de forma a que se entendessem as (diferentes) relações de Mário Dionísio com os seus autores. Ou seja, porque é que teriam ido parar àquela casa e porque é que Mário Dionísio as teria tido sempre diante dos olhos, nalguns casos a vida inteira.
- Os três diabos em pessoa(s) são, como lhes chama Mário Dionísio, os responsáveis por esse «novo amor» (a pintura) que nasceu nele nos primeiros anos 40: Álvaro Cunhal, José Huertas Lobo e António Augusto de Oliveira, cabo-verdiano (havemos de conseguir mais informações sobre ele).
- As Exposições Gerais de Artes Plásticas – uma luta contra a ditadura é a secção maior: reúne obras (de características muito diversas) de companheiros (de várias idades, de várias estéticas») dessas exposições de que Mário Dionísio foi em 1946 um dos principais responsáveis e que abandonou antes do fim, em 1954. E dois deles faltam aqui: foram parar à secção «Os quatro júlios» (José Júlio e Júlio Pomar).
- Encontros em Paris – que realismos? só inclui estrangeiros, encontrados «fora de portas», todos eles entrevistados por Mário Dionísio (as entrevistas com Portinari não estão editadas em Encontros em Paris), pouco tempo antes de a «polémica do neo-realismo» rebentar nas páginas da Vértice.
- Os quatro júlios junta quatro pintores sobre os quais Mário Dionísio escreveu mais do que sobre muitos outros, mesmo quando as coincidências de linguagem e os itinerários políticos não pareciam grandes (Júlio, Júlio Resende). Nos quatro casos, interesse e admiração bem à vista, da sua parte.
- Encontros vários é o conjunto mais ecléctico e talvez invulgar: nasceu da multiplicidade de encontros de que as vidas se fazem. Quase nenhum de «acaso» – cumplicidades literárias e/ou artísticas totais, ou prolongadas ou ocasionais, encontros de férias, familiares, de trabalho, editoriais…
Destes aqui reunidos Mário Dionísio só não terá conhecido António Cunhal.

Muitos dos artistas presentes nestas paredes são «amadores». Os tais que «entre outras coisas, pintam». Como Mário Dionísio.
Foi para a Casa da Achada um desafio bem grande pôr lado a lado obras dessas gentes várias (maravilhadas com o mundo e maravilhosas nas suas vidas e nas suas artes) e obras de pintores «profissionais», alguns deles com lugar na História da Arte (até mundial) e outros que poderão vir a tê-lo – em breve ou daqui a muito tempo. Sabe-se lá.»

14 abril 2013

Para o seu domingo, o álbum

Ghost on Ghost
de Iron & Wine


Até dia 16, ouça aqui as canções Caught in The Briars, The Desert Babbler,Joy, Low Light Buddy of Mine,GRace for Saints and Ramblers,Grass Widows,Singers and The Endless Song, Sundown, Winter Prayers, New Mexico's No Breeze, Lovers Revolution e Baby Center Stage

Um bom título mas...

... R.I.P. é claro !

















artigo a ler aqui 

13 abril 2013

Uma referência de Pacheco Pereira ou...

 ... voltando 19 anos atrás




Em mais um dos seus densos e acutilantes artigos que vem publicando no «Público», José Pacheco Pereira, numa reflexão interessante em grande parte centrada  sobre a sua própria intervenção no espaço público e mediático, refere acessoriamente a dado passo um seu «artigo sobre os incidentes  na Ponte 25 de Abril [*], que vem hoje  nas antologias e é dado nas escolas».

Sem nenhuma acrimónia e longe de qualquer retardado ajuste de contas com o autor mas apenas porque não faltarão  hoje pessoas que ou não se lembram com a necessária amplitude dos factos ou que, por razões de idade, os desconhecem, julgo ser de lembrar duas coisas essenciais: uma é que o celebrado artigo em causa evocava de forma de facto muito impressiva a aspereza das condições de uma «familia de Paio Pires» que todos os dias se tinha de deslocar para Lisboa através da Ponte 25 de Abril; e a outra é que Pacheco Pereira, à época, conseguiu compatibilizar esta comovida descrição com um claro apoio à acção do governo Cavaco Silva perante aqueles incidentes, nunca se tendo sequer demarcado dos seus aspectos brutalmente repressivos.

Foi neste quadro que, em 1.09.1994, escrevi por exemplo, no Avante! que «Neste esquema, não pode causar admiração que, entre muitos outros tão devotos das « realidades virtuais » quanto insensíveis à realidade que toda a gente conhece , Pacheco Pereira venha dizer que « o principal efeito não foi o protesto mas o consentimento » , e que Marcelo Rebelo de Sousa venha dizer que « alguns buzinaram », que « não houve insatisfação activa » mas apenas «passiva » [?!] e, portanto, se registou uma « vitória esmagadora do Governo ».

E que, em  19.9.1996, viria a escrever também no Avante! a respeito de Pacheco Pereira uma crónica intitulada «Duplicidades» (e que não me custa reconhecer a esta distância que a palavra «Ambivalências» teria sido mais rigorosa) onde assinalava  com uma dureza que tem de ser entendida à luz daqueles tempos e circunstâncias e que não se justificaria no momento actual :

«(...)
É assim Pacheco Pereira: sempre trabalhando sabiamente para a construção do seu próprio mito.
Desmascarando a obsessão da «marcação da agenda política»,  mas nunca descurando qualquer hipótese apetecível de ser «o protagonista da notícia do jornal do dia seguinte».
Escrevendo em vésperas de Congresso do PSD sobre «os pecados mortais que impedem o consenso», mas integrando depois uma lista inevitavelmente repleta de pecadores.
Descrevendo, a próposito da «revolta da Ponte», o mal-estar social nas zonas suburbanas, mas clamando logo a seguir que o buzinão não contava nada e que o único dado relevante era não haver recusa generalizada de pagamento da portagem.
Debitando periodicamente umas finas considerações sobre ética política, mas aterrando na campanha presidencial de Cavaco Silva para colocar o seu terrorismo verbal ao serviço da exploração dos «incidentes» do Barreiro.(...).»

E, pronto, adiantando que não julgo que Pacheco Pereira quisesse esconder alguma coisa, acho entretanto que a história fica assim mais completa e mais bem contextualizada.

 [*] Recordo que os chamados incidentes na Ponte 25 de Abril tiveram uma primeira fase em Junho de 1994 e outra, não menos importante e expressiva em Setembro desse ano.

Marcha contra o empobrecimento

Depois de um patente 
blackout informativo,
terminou 
hoje em Lisboa




um vídeo aqui