sobre um ninho de divergências
Como os leitores mais atentos terão reparado, vezes sem conta me tenho distanciado (melhor dizendo, tenho criticado) das muitas vozes que, de forma insistente mas sem contra-argumentar, movidas por preocupações e aspirações de cuja autenticidade e generosidade não quero duvidar, lançam apelos genéricos a uma «unidade» entre PS, PCP e BE para uma alternativa ao actual governo e à sua política, sempre fugindo nessas ocasiões a definirem qual é o seu posicionamento pessoal perante as conhecidas divergências e diferenças de orientação política que existem entre, grosso modo, de um lado, o PS e, do outro, o PCP e o BE.
Só para citar dois textos mais recentes, ainda no inicio deste mês, ou seja aqui em 1/3 e aqui em 4/3, dirigi respectivamente ao Prof. André Freire e a José Vítor Malheiros um convite para que suprissem a lacuna que refiro no final do parágrafo anterior.
De passagem, devo entretanto referir que estas posições me gelam tanto mais os ossos quanto, puxando pela memória, encontro em algumas destas pessoas uma razoável coincidência entre as críticas que eu próprio tenho formulado em relação a opções estruturantes ou atitudes importantes do PS e as que eles também têm formulado.
Agora, sem novidade porque há muito que surfa esta onda, leio aqui este naco de prosa de Daniel Oliveira:
Face a isto, está na hora de estender o convite acima já referido a Daniel Oliveira. Quanto mais não fosse pela sua profissão de comentador político, Daniel Oliveira tem todas as condições para reconstituir com detalhe e rigor quase todos os importantes temas, problemas, opções, questões e votações em que PCP e BE se diferenciaram do PS ou vice-versa. Por isso, aqui lhe apelo a que tenha a coragem clarificadora de nos contar a todos em quais é que concordou ou se sentiu mais próximo das posições assumidas pelo PCP e pelo BE e em quais é concordou ou se sentiu mais próximo das adoptadas pelo PS.
Por fim, também pela enésima vez, aqui venho espadeirar contra a sua insistente aplicação ao substantivo «alternativa» do adjectivo «credível» (que já tive ocasião de considerar absolutamente envenenado). De facto, nunca vejo estas pessoas explicarem o que significa neste âmbito o «credível». «Credível» como, aos olhos de quem e segundo que critérios ? É que, por certos padrões, as alternativas propostas pelo PCP ou pelo BE, a muitos olhos, nunca serão «credíveis» não por causa da real natureza das propostas mas pela noção de que sózinhos não chegam lá. Se fôr isso que estejam a pensar, os utilizadores do «credível» passem antes a trocar as coisas por miúdos e substituam esse adjectivo por «moderada» ou mesmo «muito moderada» que é a forma delicada de dizer que não devem pôr em causa as grandes opções e orientações até aqui seguidas pelo PS.
Estou francamente cansado de pregar no deserto. Se, como é provável, a avaliar pela experiência anterior, estes meus pacatos desafios continuarem a cair em saco roto, não voltarei a escrever nada de novo sobre o assunto, apenas, de cada vez que houver razão para isso, republicarei este post até cansar o juízo de toda a gente.