25 fevereiro 2013

E viva a democracia representativa !

Coisas que convém saber 
sobre o sistema eleitoral italiano



Afinal Berlusconi recupera muito, coligação dirigida pelo PD fica abaixo das previsões mas ganha maioria na Câmara graças ao "prémio" de 116 deputados e, terramoto político sinal dos tempos presentes, «Cinco Estrelas» só não é o partido  mais votado por um diferença de o,o2%. Mas, pelo meio ou no centro, ainda que por diversas vias, um voto massivo e poderoso contra a austeridade. (clicar na imagem para aumentar)

«Ci sono però vincoli di cui le formazioni politiche e gli elettori devono tener conto. La nuova legge elettorale, infatti, prevede tre soglie [limiares] al di sotto delle quali i voti vengono sostanzialmente "neutralizzati". La prima è stata fissata per spingere i partiti a costruire coalizioni il più ampie possibile: se la somma dei partiti coalizzati tra loro (ad esempio la Cdl o l'Unione) non raggiungesse il 10%, la coalizione non porterebbe nessun deputato in Parlamento. Ipotesi che non si realizzerà per le due grandi coalizioni ma che è servita a evitare la nascita di un "terzo polo".

La seconda soglia è stata invece immaginata per spingere i partiti a coalizzarsi: le formazioni che, presentandosi al di fuori di ogni alleanza (come fece la Lega di Bossi nel 1996) non raggiungono il 4% dei suffragi, restano fuori da Montecitorio. Più bassa infatti la soglia per i partiti che si coalizzano: i partiti che, pur alleandosi con altri, non arrivano al 2%, resteranno fuori dal Parlamento. In ogni caso, però, i loro voti conteranno per la coalizione.

Con lo scopo di garantire alla coalizione vincente una maggioranza di seggi in grado di governare, 
il legislatore ha stabilito che lo schieramento che ha ottenuto più seggi avrà il cosiddetto premio di maggioranza che viene attribuito su scala nazionale. Tradotto in numeri, vuol dire che se la coalizione vincente non arriva a 340 seggi, gliene verranno "regalati" tanti quanti ne mancano per arrivare a questa cifra che garantisce un margine di 25 deputati in più (55 per cento) della maggioranza assoluta (316 parlamentari) dell'assemblea di Montecitorio

Copiado isto do Repubblica, porque disto pouco se falará amanhã na imprensa portuguesa, retenha-se portanto a perversa cláusula-barreira dos 4% e sobretudo o «prémio de maioria» que significa dar ao partido mais votado mais uma caterfa de deputados até ter uma folgada maioria absoluta que correspondem a deputados que administrativamente se retiram a outros partidos, inutilizando e retirando eficácia e correspondência parlamentar a votos que os eleitores lhes deram. E estamos conversados sobre esta maravilha de democracia representativa.


 a marcha das projecções
(clicar nas imagens para aumentar)



Desculpem se não for moda mas é necessário...

...voltar atrás para conquistar
o rumo certo para diante



Alguns dirão que este tipo de viagem
pela memória
 já aqui foi muitas vezes usado e outros
dirão que se trata de um post de proselitismo
 como é de esperar de um autor como eu.
Aos que assim pensarem mas estiverem
 de boa-fé, só tenho a dizer que
esquecendo o que está para trás
 é que não reuniremos as forças
nem encontraremos os caminhos
necessários para pôr fim a um pesadelo
tornado vida real e concreta nestes
amargos tempos da nossa vida colectiva.

Há 22 meses
alguém disse:

«(...) O Programa de austeridade, retrocesso e miséria agora subscrito entre as duas troikas – a da imposição externa e a da submissão nacional  –   é a revelação e concretização plenas do que o PEC 4 apresentado pelo Governo em Março passado previa.


Um Programa que, para lá do descarado acto de dissimulação ensaiado pelo Primeiro-Ministro, constitui um acto sem precedentes na escalada de exploração, de venda do país  e de saque dos recursos nacionais.

José Sócrates anunciou ao país o que não estava neste Programa porque quis esconder dos portugueses o que ele contém de declaração de guerra aos trabalhadores, aos seus direitos e rendimentos.  


É preciso que se fale verdade aos trabalhadores, ao povo e ao país.


é a facilitação e embaratecimento dos despedimentos quando o que se impõe é criar emprego e combater a precariedade.


é menos garantia de protecção no desemprego quando o que se impõe é assegurar protecção a centenas de milhar de famílias.


é, de facto, o congelamento dos salários, incluindo do Salário Mínimo Nacional, o congelamento e novos cortes no valor das pensões, o que significa a perda real de poder de compra, quando o que se impõe é valorizar os salários e as reformas para assegurar condições de vida dignas, combater a pobreza e dinamizar a economia.


é a escandalosa tributação fiscal das prestações sociais quando o que se impõe é que se tribute a banca e as grandes fortunas.



é o anúncio de um aumento brutal de encargos e de redução do rendimento disponível para a generalidade das famílias com aumentos na factura da electricidade, nos bens essenciais, nos transportes e nos encargos com a habitação.



é uma significativa penalização por via da carga fiscal, designadamente com a redução e eliminação das deduções no IRS de despesas com saúde, educação ou habitação.


é o aumento das taxas moderadoras, o aumento dos medicamentos e a degradação dos cuidados de saúde, impedindo de facto o acesso a cuidados de saúde a centenas de milhar de portugueses, em particular dos mais idosos.


Todos estes sacrifícios que atingem o povo português não vão resolver qualquer problema do país. São medidas que, segundo os seus próprios responsáveis, vão significar recessão económica ( quebra de 4%), com mais destruição da produção nacional. Com estas medidas Portugal em 2013 vai retroceder para níveis de há uma década atrás e o desemprego vai passar dos actuais 800 mil desempregados para próximo de um milhão em 2013. (...)»

Jerónimo de Sousa,
em 5 de Maio de 2011

Espírito positivo no começo da semana

Tal como Ruy Belo,
também quero acreditar


O portugal futuro

O portugal futuro é um país
aonde o puro pássaro é possível
e sobre o leito negro do asfalto da estrada
as profundas crianças desenharão a giz
esse peixe da infância que vem na enxurrada
e me parece que se chama sável
Mas desenhem elas o que desenharem
é essa a forma do meu país
e chamem elas o que lhe chamarem
portugal será e lá serei feliz
Poderá ser pequeno como este
ter a oeste o mar e a espanha a leste
tudo nele será novo desde os ramos à raiz
À sombra dos plátanos as crianças dançarão
e na avenida que houver à beira-mar
pode o tempo mudar será verão
Gostaria de ouvir as horas do relógio da matriz
mas isso era o passado e podia ser duro
edificar sobre ele o portugal futuro



(imagem e poema tirados
da revista LER  de Fevereiro de 2013
)

Óscares 2013



Óscar de melhor actriz
para Emanuelle Riva aos 86 anos


 Em «Amor» de M. Haneke

Em 1959, em "Hiroshima meu amor" de Alain Resnais

Juntos pela mudança

Vozes pelo 2 de Março

 

Quousque Tandem Abutere Patientia Nostra?


Quando eu era criança, o meu pai vivia num forte que parecia um castelo.
E isso era normal — normal, quer dizer, era extraordinário! Mais ninguém tinha o pai a viver num castelo, rodeado de mar!
Era normal apanhar o comboio ou a camionete, de madrugada, aos fins de semana, para ir ao castelo visitar o meu pai. Ele enchia-me de prendas (que afinal era a minha mãe que levava), fazia-me desenhos, emoldurava os que eu fazia para ele e eu gostava. Era normal falar com ele através de um vidro com uma rede de metal e só raramente conquistar um colo, amansando com os meus lindos olhos de azul inocente o agente que vigiava a entrada do parlatório.
O meu pai era um preso político, o que queria dizer que não tinha sido preso por roubar bancos ou carros. Quando mais tarde prenderam um primo meu não percebi o alvoroço familiar: estar preso era normal.

Um dia houve uma revolução e eu percebi que afinal normal era as pessoas não estarem presas e os colos serem um direito.
A liberdade tornou-se normal e isso queria dizer que já podia cantar em todo o lado aquilo que dantes só podia cantar em surdina ou em casa. Já não era preciso baixar a voz quando chegava à parte do «ou vai-te embora, pulga fascista». Nessa altura, toda a gente saía à rua para participar na liberdade; reuniam, planeavam, decidiam, envolvendo-se naquilo que dantes era normal ser decidido por outros.
Passou a ser normal a política ser feita por todos, que todos tivessem os mesmos direitos e que a riqueza de um país fosse usufruída em igualdade; bastava ser-se humano, já não era preciso pertencer a elites. Fez-se uma constituição para garantir que seria assim.
Para nós, crianças, isso significava que o mundo deixaria de ter dois lados, um com «prédios bem altos e mais jardins floridos muita luz e muitas cores», outro com «barracas escuras feitas nem sabe de quê e miúdos a chorar e onde os brinquedos são pedras e a lama são os jardins», como o Zé Pimpão mostrou à Maria-dos-olhos-grandes. Só podia ser normal querer que houvesse apenas um lado do mundo, «com todos do mesmo lado», e que, se não houvesse jardins para todos, se dividissem os canteiros e, se os canteiros não chegassem, uma flor para cada um e, se as flores fossem poucas, haveria pétalas, enfim, cheiro, mas todos teriam igual. Fomos pelo sonho e o mundo tornou-se a nossa casa.

Depois vieram as eleições e afinal não era normal que todos quisessem partilhar as flores ou as enxadas. Não fazia mal, mais tarde ou mais cedo haveriam de perceber que a Maria-dos-olhos-grandes tinha razão.
Mas não. Pouco a pouco, começaram a convencer-nos de que a política se fazia apenas por quem percebia do assunto e o assunto era muito complicado. E as pessoas confiaram. Confiaram que podiam viver as suas vidas e que os partidos em que votavam se encarregavam da política. Para muitos, a política tornou-se uma chatice. A esquerda voltou a ser o bicho papão, que só queria virar o país do avesso, com essas ideias radicais de dividir jardins, canteiros, flores, pétalas, enfim, cheiros, por todos os seres humanos. E o PS e o PSD, com ou sem CDS, passaram a revezar-se no trono, como os únicos partidos que garantiam que o país não se virava do avesso e que quem tinha jardins os podia guardar só para si. E muitos deixaram de votar. Para quê, se já se sabe que eles só se interessam em ajudar os amiguinhos? Para quê, se nada muda?

Mas aos poucos muito ia mudando. De revisão constitucional em revisão constitucional, de lei em lei, de governo em governo, fomos perdendo direitos e ganhando obrigações, fomos passando de senhores a vassalos. As contribuições que fazíamos para garantir que todos vivêssemos com qualidade, em igualdade de direitos, foram-se transformado em rendas a pagar pelo privilégio de existir e viver neste país.
Aos poucos, o Estado tinha sido privatizado e as eleições serviam apenas para definir os accionistas-governo que iriam assegurar a gestão nos quatro anos seguintes. E os accionistas começaram a especular na bolsa com a riqueza que devia ser nossa — que é nossa! E sentiram-se impunes. Aliaram-se aos comparsas internacionais mais poderosos e, avidamente, decidiram estrangular a galinha dos ovos de ouro. Sofregamente, quiseram transformar os vassalos em servos. Em pouco mais de um ano empobreceram milhares para aumentar as fortunas de dezenas, transformaram direitos em favores, a serem usados com parcimónia. Começaram a vender bens públicos aos amigos para pagar as dívidas que contraíam ao jogo nos mercados. Como garantia, os amigos exigiam que nos reduzissem ainda mais os direitos, que tivéssemos de pagar os favores — o favor de estudarmos, de termos assistência na saúde, o favor de existimos. Em coro, asseguram-nos que é tudo normal e que os protestos são coisa de arruaceiros.

A mudança foi tão brutal que um dia olhámos em volta e não reconhecemos o país. O normal tornara-se absurdo. E o absurdo entra-nos em casa diariamente. Há nababos com riquezas pessoais de milhares de milhões de euros enquanto famílias são desalojadas, crianças passam fome, milhares de jovens são obrigados a emigrar e muitos, novos e velhos, ficam sem assistência médica. Perdoam-se distracções na declaração ao fisco de milhões de euros em rendimentos e perseguem-se aqueles que não têm dinheiro para pagar descontos obrigatórios mas injustos, já que não têm vínculos laborais nem rendimentos estáveis para assegurar a própria sobrevivência. Condena-se quem rouba duas latas de comida para animais e enaltece-se quem enriquece, de forma corrupta, à conta do estado.
Nada do que vemos é normal, mas até quando iremos esperar passivamente que tudo se resolva? Quando iremos perceber que temos de resistir e combater o absurdo, saindo à rua e defendendo os nossos direitos?
O que leva um povo massacrado a dizer «basta!»?
Quanto mais tempo passar, mais dolorosa será a nossa luta: a mesa do comércio, ainda posta e já gasta, poderá acabar como jangada para evacuar fugitivos da fogueira incendiada pelos outrora cativos.

Queremos fazer a luta com cravos, mas não deixaremos de a fazer se os cravos não forem eficazes. Os nossos pais não tiveram medo e mostraram-nos que vale a pena.

No dia 2 de Março sairemos à rua gritando «basta!» e exigiremos que nos devolvam o nosso país. Nesse dia, levaremos cravos.


(copiado de aqui)

24 fevereiro 2013

Hoje e amanhã

Eleições numa Itália
sofrida mas desorientada




A muitos títulos, as eleições italianas de hoje e amanhã poderiam justificar muitas reflexões e indagações mas da minha parte seriam certamente carregadas de inquietações, perplexidades, desgosto e alguma desesperança. Fica para outra ocasião. Para já tudo parece indicar que as eleições não serão ganhas nem por Berlusconi nem por Monti mas pelo P.D, (ex-DS. ex-PDS, ex-PCI), o partido que mais solidamente apoiou a governação Monti, que as listas do fenómeno «Cinco Estrelas» de Beppe Grillo alcançarão um resultado impressionante (falta saber o que farão dele). Enquanto isto, já que quase ninguém fala deles, aqui deixo um vídeo contra o mal chamado «voto útil» das listas Rivoluzione Civile ( com muitos independentes e apoiadas pela Refundação Comunista, pelo Partido dos Comunistas Italianos e pela Itália dos Valores de di Pietro), como forma de solidariedade e homenagem aos que, em circunstânias tão ásperas e difíceis, não meteram os ideais de esquerda na gaveta.

Uma edição «Accords Croisés»


O Nilo - 1º CD da série
O Canto dos Rios




Le Nil dépose ses musiques, comme il le fit toujours
de ses alluvions, sur un parcours de plus de 6.500 kilomètres.
Les expressions qu’il charrie jusqu’à nos oreilles
sont glanées sur les rives de neuf pays d’Afrique Noire
dont l’Egypte, le Soudan et l’Ethiopie qui s’imposent
comme sources essentielles dans l’histoire des musiques du monde.
De Port Saïd au Caire en passant par Assouan, Port Soudan,
Khartoum, Addis Abeba, les deux disques de ce coffret
dévoilent toute la richesse musicale traditionnelle
ou contemporaine. On écoute, émerveillé par Ali Hassan Kuban
qui devient le parrain de la nubi-shaabi au Caire ;
Emmanuel Jal, rappeur soudanais, qui rejoint Abdel Gadir Salim,
lui-même venu du Kordofan ; Mohammed Jimmy Mohammed
ou Mahmoud Ahmed qui font le lien entre la tradition
des azmaris d’Addis Abeba et un chant nouveau
que ne renierait aucun chanteur de soul américaine...



23 fevereiro 2013

Porque hoje é sábado (314)

Sarah Lee Guthrie
& Johny Irion

A sugestão musical de hoje destaca
o duo norte-americano constituído 
por Sarah Lee Guthrie (a terceira geração
 dos Guthries) e Johny Irion,

cujo último álbum se intitula Brigth Examples.





mais canções aqui do lado direito

22 fevereiro 2013

"Anda Pacheco !"

Which side are you on ?
No lado do costume, respondem eles


Francisco Assis, Augusto Santos Silva, Maria de Lurdes Rodrigues e António Costa (ontem na Quadratura do Círculo) conseguiram a proeza de se juntarem ao pessoal do governo na cínica transformação de Miguel Relvas numa pobre vítima de um alegado ataque à sua liberdade de expressão. E todos fizeram uma triste, vergonhosa e imperdoável figura ao pé de Pacheco Pereira que, ontem na referida «Quadratura», a todos - os do PSD e os do PS - deu uma enorme lição de lucidez, de sensibilidade social e de justiça política.

21 fevereiro 2013

Procurando ser educado

"Tanto quanto sei", o problema
dele é não saber do que fala !


Em entrevista  ao Público de hoje, o jornalista e director de informação da TVI José Alberto de Carvalho afirma a dado passo : « Tanto quanto sei a lei eleitoral autárquica é a única lei do período gonçalvista que permanece em vigor. Não faz sentido sermos condenados por não cumprirmos regras do tempo do gonçalvismo».

Depois de devidamente registada na memória a fobia desta «estrela do jornalismo» ao terrível «gonçalvismo», só resta dizer que José Alberto de Carvalho fala do que não sabe e não cuidou de se informar, como se pode ver nas imagens a seguir tiradas do "Diário da República" nº 188 de 14 de Agosto de 2001.

E, por fim, sugiro a José Alberto de Carvalho que mande emoldurar e colocar na sua sala de estar esta primeira página do Público porque, ao fim e ao cabo, não é todos os dias que a ignorância atrevida de uma pessoa é consagrada desta forma. Para mais tarde recordar.


Será esta terrível norma que tanto incomoda José Alberto Carvalho ?