04 dezembro 2012

E é colunista do "Expresso" (*) !!!

Momento recreativo ou
ai, filho, queres uma chupeta ?


Graças ao Tiago Mota Saraiva («cinco dias») descubro no Expresso esta maravilha do queque e palerma acima retratado: 
1. Caminhava eu, tranquilamente, pela Avenida da Liberdade em Lisboa, quando me deparo com um cartaz em tons vermelhos com as palavras de ordem da mensagem comunista " exploração capitalista", "desigualdades", e por aí adiante. Julguei tratar-se de mais um (banal) cartaz do PCP, dos muitos que se encontram espalhados pelas ruas de todas as cidades portuguesas. Mas não: aquele cartaz revelava algo especial. Aquele cartaz sinalizava a localização da sede do partido comunista português. E perguntam os caríssimos leitores: a sede do PCP situa-se num edifício modesto, economicamente contido, distante dos centros de lazer "pequeno-burgueses" e das lojas símbolos do capitalismo selvagem? O leitor mais incauto responderá de imediato: é evidente, os comunistas, esses verdadeiros defensores dos interesses dos trabalhadores, jamais aceitariam trabalhar na mesma rua do que os "porcos capitalistas" que tanto censuram. Lamento desapontá-lo, ao quebrar porventura as suas crenças de infância, mas os dirigentes comunistas têm hábitos e práticas de burgueses. Diz-se que o PCP é um partido ortodoxo - conclui que tal afirmação não é inteiramente correta. O Partido Comunista é, pelo contrário, um partido que revela uma notável e peculiar heterodoxia - tem um discurso pró-proletariado, de defesa dos trabalhadores e da democracia social, mas simultaneamente os seus dirigentes têm hábitos de burgueses. Por isso é que o partido comunista será, cada vez mais, um partido marginal no quadro político-partidário português.
2. Pois bem, vamos aos factos. O Partido Comunista tem a sua sede no dos edifícios mais luxuosos e caros da Avenida da Liberdade, praticamente ao lado da loja de acesso restritíssimo que é a Prada e da Gucci - lojas em que só os "manhosos" dos grandes capitalistas poderão adquirir produtos. O PCP convive, pois, lado a lado com os dois símbolos da "alta finança", do "grande capital", na principal Avenida de Lisboa.
(...)


Como se compreenderá, não vou explicar ao «piqueno» em que rua fica a sede do PCP, nem quando a Organização Regional de Lisboa se instalou no Hotel Vitória, nem que o PCP não escolhe vizinhos muito menos ainda quando chegam vinte anos depois. A modos de chupeta, apenas lhe vou oferecer a indicação de que, na revista 2 do Público do penúltimo domingo, poderá encontrar uma interessante «crónica urbana» de Alexandra Prado Coelho que conta o essencial sobre a história do Hotel Vitória.

(*) Registe-se que, ao longo de toda a vida do Expresso sempre foram raríssimos os colunistas comunistas e que hoje não há nenhum. É o que faz o PCP, ou a sua área, serem consabidamente um «deserto de valores», pois então.

Começa a ser demais !

Aprendam a falar, bolas !

O primeiro-ministro disse o que disse na entrevista à TVI sobre uma nova repartição do esforço das famílias e do Estado no que toca ao financiamento do ensino secundário, existe a gravação vídeo  que não consente nenhuma outra interpretação se não a que estava a atirar o barro à parede para a introdução de propinas e, no entanto, veio depois dizer que foi mal interpretado.
O ministro das Finanças disse o que disse na AR sobre a extensão a Portugal das medidas que foram concedidas à Grécia, existem as gravações áudio e vídeo que não consentem nenhuma outra interpretação e, no  entanto,  agora vem dizer que as suas palavras foram  mal interpretadas e  descontextualizadas.
Bastava um módico de seriedade e respeito pela verdade para que, pura e simplesmente, admitissem que tinham errado ou se tinham precipitado, primeira forma. Mas não, não resistem a tomar-nos a todos por tolos. Até nisto, estamos fartos !

Falando de cassetes

Ainda não há pedidos

Para que não digam que não tenho sentido de humor, aqui acolho tranquilamente a imagem ao lado que num blogue foi considerado um «momento-maravilha», embora a imagem diga o contrário das interpretações correntes, ou seja, se Jerónimo de Sousa estivesse a debitar uma cassete, o computador não estaria a dizer para inserir uma. Aproveito entretanto para informar que, na caixa respectiva do «jugular» deixei este comentário: «Informo todos os velhos ou novos críticos da chamada cassete dos comunistas ou do PCP que, na época mais tranquila do Natal, estou à vossa disposição para, desde que me dêem meia hora para cada um, escrever para qualquer outro partido português, um texto ilustrando as suas - nunca reparadas e sempre ignoradas - cassetes.»

Até agora não há pedidos nem encomendas.

03 dezembro 2012

Um post de Daniel Oliveira

Um péssimo arranque




Um post de Daniel Oliveira no «arrastão», substancialmente dedicado a questão do peso dos funcionários nas direcções partidárias - matéria que talvez discuta em outra altura - arranca, quanto a mim, espantosamente, assim (sublinhados meus):

«Quando vi que o Congresso do PCP começava numa sexta-feira, de dia, não pude deixar de pensar: como pode um partido político juntar os delegados a um congresso num dia de semana? Só de uma forma: se uma parte significativa desses delegados trabalharem para o partido, forem eleitos para cargos políticos com disponibilidade a tempo inteiro ou forem assalariados de organizações que lhe são próximas. ».

Sobre isto, apenas quero deixar quatro notas:

1. Como é sabido, o que não têm faltado são manifestações promovidas pelo movimento sindical em dia de trabalho (14 de Novembro foi a última e até contou  com afluentes de outros movimentos,  e também manifestações «inorgânicas» em iguais dias de trabalho e nunca vi Daniel Oliveira sentenciar que isso só era possível porque parte significativa dos participantes dependia financeiramente dos sindicatos ou de quem quer que fosse.

2. Daniel Oliveira parece ignorar que mesmo os que são trabalhadores por conta de outrem podem, ao abrigo da legislação em vigor, pedir dispensa de um dia de trabalho e descontá-los nas férias.

3. Ao longo de três décadas, assisti a muitas eleições de delegados a Congressos do PCP e nunca vi as candidaturas de delegados serem justificadas pela disponibilidade resultante das situações profissionais elencadas por Daniel Oliveira.

4. De momento, não tenho à mão  os elementos probatórios mas aposto dobrado contra singelo que a maioria dos delegados ao XIX Congresso do PCP não corresponde aos perfis profissionais desenhados por Daniel Oliveira. E, ainda que correspondessem, é saber muito pouco do «povo comunista» supor que isso seria qualquer séria condicionante à sua liberdade e vontade.

Fernanda Câncio ou...

... ai que afirmações tão graves !


No DN de hoje, a incontestada criatividade da jornalista Fernanda Câncio, misturando declarações responsáveis com desabafos soltos de militantes apanhados ao acaso, consegue apresentar o PCP como um partido que diz as coisas (alegadamente) mais pavorosas mas que são misteriosamente «desculpadas».

Por ora, retenho e comento duas (sublinhados meus) invocadas por Fernanda Câncio:

- a primeira é que  « se um congresso socialista ou social-democrata incluisse no manual do bom militante a leitura diária [???!!!] do Povo Livre  ou do Acção Socialista qual não seria a risota ?».

A isto respondo educada e serenamente que, mesmo deixando de lado que não creio que o Avante! seja comparável em termos jornalísticos com as publicações citadas do PSD e do PS e sublinhando que na prosa de F.C. «manual», «bom militante» e «leitura diária» são deturpações e caricaturas nada inocentes, não percebo qual é a extranheza por o PCP, que nisso investe energias e recursos, apele aos seus militantes para que leiam a imprensa partidária como instrumento útil para a sua acção e meio não exclusivo de informação.

- a segunda é que «é imaginável que o líder de outro partido dissesse, como disse ontem Jerónimo, «com ou sem eleições, nos momentos mais difíceis, o PCP lá estará», sem que ninguém lhe perguntasse que quer dizer com isso?»

A isto, de forma igualmente educada e serena, respondo que provavelmente ninguém lhe perguntou «que queria dizer com isso» porque, sensatamente, não quis passar por pouco atento ou inteligente, uma vez que a frase fala por si, diz o que diz cristalinamente, não permite mais do que a interpretação óbvia de que, havendo ou não eleições, em eleições ou fora delas, nos momentos difíceis, o PCP lá estará na luta, ou seja continuará fiel à sua identidade e natureza de partido que conjuga a sua representação institucional e intervenção eleitoral com uma intervenção quotidiana na sociedade  portuguesa.

Entretanto, se Fernanda Câncio está de facto interessado em coisas que passam sem que ninguém repare ou critique, deixo-lhe aqui uma pista para uma sua peça de reportagem. É que apesar de eu ter escrito sobre isso há mais de 15 anos no Semanário, ainda hoje oficialmente continua em vigor no PSD, um Regulamento de Disciplina (ler aqui) que faz das tão difamadas regras internas do PCP uma brincadeira de querubins.



02 dezembro 2012

XIX Congresso do PCP

Hoje fim de Congresso,
amanhã de novo na luta



(...)

Por aqui perpassou a confiança.
Numa situação dura como punhos,
quando os trabalhadores, o povo
 português e o país sofrem o
vendaval destrutivo e arrasador
da política de direita deste governo,
 nós afirmamos:
Nada está perdido para todo o sempre.
Quando os trabalhadores e as
populações intensificaram e
alargaram a luta, o governo abanou.
 Se essa luta crescer, o governo
 será derrotado. E contem com este
Partido que, com ou sem eleições,
 nos momentos mais difíceis lá estará,
sempre e sempre como força de combate,
como força portadora da esperança
e da alternativa, com a a convicção
 de que sim é possível uma vida melhor
 num Portugal com futuro.
(...)

no encerramento do Congresso

O socialismo por que luta o PCP

Já lá estava mas, se não
leram antes, leiam agora !

«(...) 2. Para alcançar tais objectivos, o PCP aponta como características da sociedade socialista em Portugal:

– no sistema político, o poder dos trabalhadores, a permanente fiscalização da actividade dos órgãos do Estado e o aprofundamento das formas de participação popular; a democratização de toda a vida nacional, a garantia do exercício das liberdades democráticas, incluindo a liberdade de imprensa e de formação de partidos políticos, a protecção na ordem jurídica dos direitos dos cidadãos, o respeito por opiniões, interesses sociais e aspirações diferenciadas e pelas crenças religiosas e a prática do culto, a realização de eleições com a observância estrita da legalidade pelos órgãos do poder, a intervenção e participação das massas trabalhadoras na direcção política e económica do País através dos órgãos de soberania, do Poder Local democrático e das organizações de classe, sindicais, populares, políticas e outras;
– na organização económica, a propriedade social sobre os principais meios de produção, uma direcção planificada da economia combinada com a iniciativa e directa intervenção das unidades de produção e dos trabalhadores, a coexistência de formas de organização estatais, autogeridas, cooperativas, colectivas, familiares e individuais, com empresas privadas de diversa dimensão, a realização completa e definitiva da Reforma Agrária com inteiro respeito pela vontade dos trabalhadores e dos agricultores, a consideração do papel do mercado, o desenvolvimento harmonioso dos recursos e sectores da economia nacional e de todas as regiões, considerando o impacto ambiental dos planos de desenvolvimento, a dinâmica e eficácia da economia baseada nas melhores realizações do progresso cientifico-técnico;
– no plano social, a libertação dos trabalhadores de todas as formas de opressão e exploração, o pleno emprego, a retribuição de cada um segundo o seu trabalho, o direito ao trabalho com relevo para a garantia do primeiro emprego aos jovens, a garantia dos estímulos materiais no desenvolvimento da produção, o respeito da propriedade individual resultante do trabalho próprio, a edificação de relações sociais baseadas no respeito pela dignidade e personalidade de cada cidadão, o desenvolvimento dos serviços sociais, a solução do problema da habitação, a generalização da prática desportiva e de uma saudável ocupação dos tempos livres, a defesa do meio ambiente, a erradicação dos grandes flagelos sociais como a fome, o analfabetismo, a miséria, a poluição, a droga, a prostituição, o tráfico de seres humanos, o alcoolismo e a criminalidade;
– no plano cultural, a transformação da cultura em património, instrumento e actividade de todo o povo, o progresso da ciência e da técnica, a expansão da criação artística, o estímulo à criatividade, o pleno acesso ao ensino e um elevado nível de democracia cultural resultante da conjugação permanente da política das instituições do Estado socialista com a iniciativa, a participação e a actividade criadora individual e colectiva;
– no plano ético, a formação da consciência social e individual em conformidade com os ideais da liberdade, dos deveres cívicos, do respeito pelo ser humano e pela natureza, da solidariedade, amizade e paz. »
(in Programa do PCP)

Louvor da transparência

Quem são os delegados
ao XIX Congresso do PCP




Total: 1241; homens 69,9%; mulheres 30,1%; operários e empregados 56,6%; idades- -21 anos 23; 21-30 anos 139; 31-40 anos 258; 41-50 anos 211; 51-64 anos 447; + 64 anos 159; 65% são dirigentes de movimentos e organizações de massas, destacando-se 22,7% que são membros de comissões de trabalhadores, dirigentes e delegados sindicais; 39,9%  são eleitos em diversos órgãos do poder local e central.

Por mim, registo com especial satisfação que mais de metade dos delegados ou ainda não tinha nascido ou tinha no máximo 12 anos de idade em 25 de Abril de 1974.


Nem é preciso ser o PCP

O DN desmente o DN



O DN noticia em título que «No dia em que homenageou Cunhal, o PCP traçou metas que não incluem nem o PS, nem BE nem euro» e, em editorial, consegue referir foi defendido m «governode esquerda «patriótico e internacionalista» co o PCP, mas sem socialistas e bloquistas».

Ora acontece que, no corpo da notícia é o próprio DN que refere que o que Agostinho Lopes defendeu foi a necessidade de um governo de esquerda «preparar o país para a reconfiguração da zona euro, nomeadamente a saída da união económica e monetária, por decisão própria ou crise na União Europeia, salvaguardando os interesses de Portugal». 

É também o próprio DN que refere que A. Lopes salientou que «há duas ilusões a evitar: a de que é possível uma política alternativa coma manutenção do euro e mais federalismo (…) e a ideia de que tudo se resolve com uma saída pura e simples do euro, qualquer que seja a forma como se sai e as condições de saída».

Já quanto à atribuição exclusão pura e simples do PS e do BE [??!!!] de uma alternativa de governo, aguardo ansioso que o DN forneça aos seus leitores qualquer declaração autêntica de dirigentes do PCP que autorizem semelhante dedução ou conclusão.
Se saber ler é bom, saber entender ainda é melhor.