ai, filho, queres uma chupeta ?
Graças ao Tiago Mota Saraiva («cinco dias») descubro no Expresso esta maravilha do queque e palerma acima retratado:
1. Caminhava eu, tranquilamente, pela Avenida da Liberdade em Lisboa, quando me deparo com um cartaz em tons vermelhos com as palavras de ordem da mensagem comunista " exploração capitalista", "desigualdades", e por aí adiante. Julguei tratar-se de mais um (banal) cartaz do PCP, dos muitos que se encontram espalhados pelas ruas de todas as cidades portuguesas. Mas não: aquele cartaz revelava algo especial. Aquele cartaz sinalizava a localização da sede do partido comunista português. E perguntam os caríssimos leitores: a sede do PCP situa-se num edifício modesto, economicamente contido, distante dos centros de lazer "pequeno-burgueses" e das lojas símbolos do capitalismo selvagem? O leitor mais incauto responderá de imediato: é evidente, os comunistas, esses verdadeiros defensores dos interesses dos trabalhadores, jamais aceitariam trabalhar na mesma rua do que os "porcos capitalistas" que tanto censuram. Lamento desapontá-lo, ao quebrar porventura as suas crenças de infância, mas os dirigentes comunistas têm hábitos e práticas de burgueses. Diz-se que o PCP é um partido ortodoxo - conclui que tal afirmação não é inteiramente correta. O Partido Comunista é, pelo contrário, um partido que revela uma notável e peculiar heterodoxia - tem um discurso pró-proletariado, de defesa dos trabalhadores e da democracia social, mas simultaneamente os seus dirigentes têm hábitos de burgueses. Por isso é que o partido comunista será, cada vez mais, um partido marginal no quadro político-partidário português.
2. Pois bem, vamos aos factos. O Partido Comunista tem a sua sede no dos edifícios mais luxuosos e caros da Avenida da Liberdade, praticamente ao lado da loja de acesso restritíssimo que é a Prada e da Gucci - lojas em que só os "manhosos" dos grandes capitalistas poderão adquirir produtos. O PCP convive, pois, lado a lado com os dois símbolos da "alta finança", do "grande capital", na principal Avenida de Lisboa.
(...)
Como se compreenderá, não vou explicar ao «piqueno» em que rua fica a sede do PCP, nem quando a Organização Regional de Lisboa se instalou no Hotel Vitória, nem que o PCP não escolhe vizinhos muito menos ainda quando chegam vinte anos depois. A modos de chupeta, apenas lhe vou oferecer a indicação de que, na revista 2 do Público do penúltimo domingo, poderá encontrar uma interessante «crónica urbana» de Alexandra Prado Coelho que conta o essencial sobre a história do Hotel Vitória.
(*) Registe-se que, ao longo de toda a vida do Expresso sempre foram raríssimos os colunistas comunistas e que hoje não há nenhum. É o que faz o PCP, ou a sua área, serem consabidamente um «deserto de valores», pois então.