Além de outras verdades incómodas, alguém escreveu isto hoje num jornal:
«(...)Quando a "revolução árabe" chegou à Líbia foi tratada pelo mesmo príncipio de amálgama com o caso egípcio e tunisino, mas quem conhecia o que passava sabia que havia uma forte componente tribal no conflito que não era novo na Líbia e tinha já originado a divisão pelos italianos do país em duas colónias, a Cirenaica e a Tripolitânia. Khadafi respondeu à ameaça ao seu seu poder como sempre o fez, com toda a violência possível. A diferença no caso líbio é que quando se percebeu que Khadafi iria derrotar militarmente os seus adversários, países como a França, e em menor grau o Reino Unido e com alguma relutância os EUA começaram a desencadear um clamor internacional para defender os «civis» líbios a ameaçar fazer uma intervenção militar. Os franceses foram particularmente activos.
Após um processo complicado de negociações foi aprovada na ONU a Resolução 1973, que abriu caminho à intervenção militar naquilo que era uma guerra civil na Líbia. Uma mera leitura dessa Resolução revela que, tomada à letra, ela tinha muito mais sentido para países como a Síria, cuja matança de civis e muito mais significativa do que na Líbia, onde havia uma revolta armada. Mas na Síria, Bashir El Assad pode matar os civis que quiser sem ter os caças da OTAN a sobrevoar Damasco.
Se voltarmos à Resolução é fácil ver que ela está longe de legitimar o tipo de intervenção que culminou no assassinato de Khadafi. Ela fala de «interdição do espaço aéreo", na ajuda humanitária, num embargo de armas ao regime líbio e, embora tenha uma forma ambígua que oermitia «usar todos os meios necessários para proteger os civis», estava longe de legitimar o que aconteceu. O que aconteceu, à completa revelia da resolução, foi uma intervenção militar da OTAN ao lado dos revoltosos líbios, actuando como parte integrante político e militar de uma das partes numa guerra civil. Os bombardeamentos a Tripoli tinham como objectivo instalações militares e civis de Khadafi, o governante reconhecido por eles próprios como chefe de Estado de um país soberano, a que se somou a participação total em operações concertadas, com a presença de "consultores" e instrutores de forças especiais no terreno, fornecimento de armas aos revoltosos e perseguição directa a Khadafi e à sua família. Durante este período os revoltosos competiram com Khadafi em todo o tipo de abusos de direitos humanos, fuzilando prisioneiros, torturando e matando opositores e impondo às populações civis, que suspeitavam de ser simpatizantes de Khadafi, todo o tipo de violências. A imprensa permaneceu regra geral silenciosa sobre estes actos, e a opinião pública ocidental e árabe indiferente ao que passava na Líbia. Deste ponto de vista, Khadafi foi bem escolhido, porque se fosse Bashir El-Assad outra história diferente estaria a ser escrita e é também por isso que ele pode continuar a matar os seus civis à vontade. E não tem petróleo.
Quando Khadafi foi, por fim, assassinado, num ataque militar que começou com aviões da OTAN e terminou com uma execução sumária, não foi o «povo» líbio que ganhou a guerra. Foram Sarkozy, Cameron e Obama e é por isso que toda esta história é muito bizarra. Porquê ? E para quê ?».
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Da minha lavra, só fica uma pergunta:
porque é que a imprensa portuguesa
ocultou esta notícia referida aqui
ocultou esta notícia referida aqui
neste blogue ?
imagens nada recomendáveis sobre Khadafi
antes e depois de ser assasinado aqui
antes e depois de ser assasinado aqui