29 setembro 2011

Também serve para cá como...

...impulso para sábado, dia 1


Esta manchete de L' Humanité («On ne peut plus» = «Não podemos mais !») traduz um grito de alma popular que bem pode servir de impulso para a nossa presença massiva nas duas manifestações de sábado.

(para quem não tenha lido, outras palavras
minhas sobre o 1 de Outubro aqui).

É conforme...


Estado bom e Estado mau




Leio no Público online o seguinte: «O Governo vai aplicar cem milhões de euros para apoio a estágios profissionais, nas empresas, para cerca de 35 mil desempregados de longa duração, que receberão 420 euros.No âmbito desta iniciativa, o governo vai “pedir às empresas que contratem trabalhadores que estão há mais de seis meses desempregados, e em que esses trabalhadores que vão para as empresas vão receber formação nas empresas. Em vez de ser o Estado a fazer formação, vão ser os trabalhadores, nas empresas, a trabalhar”, explicou o ministro da Economia, Álvaro Santos Pereira, ontem à noite na RTP1.As pessoas que forem contratadas nesse regime “vão receber o correspondente a um indexante de apoio social, que são cerca de 420 euros, o subsídio que a empresa recebe para ter esse indivíduo que está desempregado”, disse também o ministro, que apresentou esta medida como “uma das formas de combater o desemprego de longa-duração”, e que deverá abranger cerca de 35 mil desempregados há mais de seis meses».

E, contado isto que nos podia levar bem mais longe, só quero que saibam que morro de ansiedade à espera que nas televisões, nas rádios e nos jornais, apareçam aquelas centenas de empresários, economistas, jornalistas, comentadores e articulistas que há anos nos andam a jujar o cérebro com a ideia de que, em Portugal, o Estado tem um excessivo peso na economia a dizer agora que esta é uma medida absolutamente invasora da iniciativa privada, cujas leis de funcionamento devem em absoluto excluir o fornecimento de abundante mão-de-obra (35 mil trabalhadores) paga pelo Estado.

28 setembro 2011

Não há direito !


Então não é que o defunto termo
ressuscitou
e logo nos EUA ?



Não há dúvida, como dizia o outro, o mundo está perigoso e cheio de surpresas que, de repente e vindas de quadranrtes inesperados, desmentem ou atiram por terra ladaínhas que nos são quotidianamente impingidas há décadas. Uma delas foi precisamente que a ideia de que as classes e a luta de classes eram expressões já há muito da esfera da arqueologia política e ideológica, só usadas ou sustentadas por uns empedernidos que, por fé, resistiam às gloriosas mudanças ocorridas no mundo, especialmente desde o ínicio da década de 90 do século passado.


Pois então, se não sabem, fiquem a saber que, creio com o impulso inicial dado pelas célebres declarações do multimilionário Buffett, termos como «luta de classes» ou «guerra de classes»(«class war» e «class warfare») são um dos musts do discurso político americano e povoam discursos de políticos (para diversas conveniências como se calcula e sobretudo usadas pelos que mais decretaram a morte de tais realidades), peças jornalistícas e artgos de opinião e até, como se pode ver abaixo, numerosos cartoons políticos.


Verdade seja que não me iludo: no final de 2008 e primeira metade de 2009 o termo «capitalismo» regressou em cheio aos jornais e revistas mandando passear o de «economia de mercado» mas pouco depois este último lá voltava a ganhar o seu hegemónico direito de cidade. E o mesmo vai acontecer daqui a uns tempos com estas súbitas referências à «class war».







Quadros de honra e cacau


Herdeiros da ideologia

do «Portugal profundo»

É uma evidência que este assunto é uma ninharia comparado com a feroz catilinária qie os «100 dias de governo PSD-CDS» mereceriam. Mas quando leio na TSF online «que o Governo deciciu cancelar o dinheiro dos prémios prometidos aos melhores alunos do secundário. A ideia é usar esse montante em projectos solidários nas escolas. Os melhores alunos esperavam receber um diploma e um cheque de 500 euros na sexta-feira e, conta o jornal Público, pelo menos os directores das escolas da região Norte e de Lisboa e Vale do Tejo, já tinham avisado os vencedores e agora não sabem o que dizer aos estudantes. O prémio de mérito é atribuido aos melhores alunos do ensino secundário desde 2008, mas este ano tudo muda. Além da informação ter chegado em cima da hora, dizem as Associações dos Directores de Escolas que há diferenças. (...) No entanto, em vez de ser atribuido aos melhores alunos são os estudantes que deviam receber o dinheiro que escolhem projectos existentes nas escolas que apoiem alunos ou famílias carenciadas.» , não posso deixar de reconhecer que esta é uma daquelas de ninharias que funciona como papel de tournesol em relação à mentalidade assistencialista, semi-pateta e falsamente franciscana dos que hoje desgraçadamente nos governam.


Numa coisa estou pronto a fazer justiça ao actual governo: é quando reconheço que, desde o 25 de Abril, nunca houve um governo assim que, por razões de disfarce, combinasse tão sofisticadamente uma política ao serviço dos poderosos como pequenos gestos de caridade e compaixão pelos pobrezinhos.


E termino com duas observações complementares:

- a
primeira , que tem alguma ironia histórica, é para lembrar que com esta medida este governo de direita imita o errado desprezo e hostilidade que, em algumas circunstância, alguns países socialistas tiveram em relação à questão dos «estímulos materiais»; desconfio por isso que as consabidas piadas, em regra ligeiras, sobre a «construção do homem novo» passarão a ter outros destinatários;


- a segunda é que com esta coisa de serem os premiados a escolher quem são os carenciados da sua escola que, em seu lugar, vão receber os 500 euros, ainda não percebi o que acontecerá se, por bambúrrio, um dos premiados pertencer ele próprio ao grupo dos «carenciados».


Santo Deus, para o que estávamos guardados: os valores do chamado «Portugal profundo», longa e sistemática consolidados ao longo de 48 anos de ditadura, duram, duram, duram muitíssimo mais que a pilha do anúncio, porra.

27 setembro 2011

Os pontos nos is


A benefício dos mais novos e

dos desmemoriados profissionais

Em relação com esta manchete do Público de hoje, desejo apenas esclarecer, em termos tão breves quanto possíveis, o seguinte :

1. O que esta notícia vem exibir de forma despudorada para quem conhecer alguma coisa do tema é que o PSD resolveu aproveitar a boleia e o pretexto da «austeridade» e dos «cortes» para finalmente concretizar as antidemocráticas alterações à lei eleitoral para as autarquias que ele e o PS há muito tentam impôr.

2. Acreditem que este «há muito» e é mesmo há muito porque, embora em versões com algumas diferenças, há mais de 15 anos que PS e PSD tem propostas ou projectos de lei nesse sentido, como ficará provado lendo lá em baixo um extracto da intervenção inicial de Carlos Carvalhas no XVI Congresso do PCP, em 6 de Dezembro de 1996.

3. É completamente careca este truque de querer inserir a eliminação total da presença de vereadores da oposição nos executivos municipais a pretexto de «austeridade» e de «cortes » pois aqueles, salvo quando têm pelouros, exercem essas funções graciosamente e, na imensa maioria dos municípios, não representam qualquer despesa significativa para os erários municipais.

4. Uma vez que o propósito agora anunciado pelo Governo é o de impôr a criação de executivos municipais politicamente homógeneos, isso significa um humilhante alinhamento do PSD pelas propostas do PS, dado que, da última vez que o tema esteve em debate, o PSD mantinha vereadores da oposição nos executivos, dando sim um clamorosamente antidemocrático bónus de maioria de vereadores ao partido mais votado.

5. Remato, para já, lembrando que este não é o primeiro caso nem será provavelmente o último em que o Governo do PSD, nuns casos aliado ao PS e noutros com este a fazer de oposição decorativa, se serve da crise como manto protector para tentar acelerar recuos democráticos que sempre desejou com crise ou sem ela, como aliás também é patente em relação aos direitos dos trabalhadores.

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Carlos Carvalhas no XV Congresso do PCP (1996)

«(...) Mas, para além disso, consideramos particularmente inquietantes as possibilidades de um acordo entre o PS e PSD quanto à alteração do sistema de eleição das Câmaras municipais e do sistema de eleição da Assembleia da República, em ambos os casos afectando gravemente o respeito pela proporcionalidade.

Quanto às Câmaras Municipais, a dificuldade está em saber qual das propostas - se a do PSD se a do PS - é mais antidemocrática.

O PSD quer que o partido mais votado, mesmo que não tenha a maioria absoluta, receba um bónus administrativo por forma a ter sempre direito a uma maioria absoluta de vereadores.

E o PS tem o atrevimento de pretender acabar com o direito e a prática que os portugueses exercem há 20 anos de elegerem directamente as Câmaras Municipais pelo sistema proporcional, e poderem assim determinar e escolher quem são os vereadores do Executivo municipal.

Segundo a aberrante proposta do PS, deixaria de haver eleição para as Câmaras Municipais e o Presidente da Câmara seria o candidato mais votado da lista para a Assembleia Municipal que ficaria investido do poder absoluto de escolher a seu bel-prazer todos os vereadores.

Queremos deixar absolutamente claro que a nossa total oposição a esta proposta não tem nada que ver com cálculos de ganhos e de perdas e só tem que ver com a nossa firme convicção de que o sistema actual - permitindo uma representação pluralista nas Câmaras Municipais, ao permitir que a gestão municipal seja fiscalizada a partir da própria vereação e ao permitir que vereadores da oposição possam exercer pelouros - tem um grande e insubstituível valor democrático.

Nós damos grande importância e não abdicamos de ter vereadores nos Municípios de maioria de outras forças políticas e não temos nenhum problema nem nos sentimos incomodados em que nas Câmaras de maioria CDU haja vereadores de outras forças políticas. (...)»

Não por rotina mas com uma energia vibrante


A quatro dias


Sim, é a hora de, se possível mais longe
e mais largo que o habitual, ampliar uma
sólida convicção
de que, no próximo sábado,
é necessário exprimir na rua e alto e bom som

o movimento de indignação e descontentamento
que, com himalaias de razões,
percorre grande parte
da sociedade portuguesa.

É curto dizer uns palavrões quando na banca
dos jornais
se vêem os títulos de novas
desgraças e ataques.

É pobre ficar por uns resmungos com os
companheiros e
companheiras de trabalho.
É fatal a rendição, o conformismo, a resignação.
É injusto, absurdo e inútil que este mal-estar
e preocupação que nos consomem se projectem
numa palavra torta do marido para a mulher ou vice-versa.
É cómodo mas demissionista o cansaço com tudo,
a desconfiança com tudo, o pensar e sentir
mas não agir
e nada fazer
para mudar o rumo das coisas.

Sózinhos não podemos nada,
juntos podemos poder muito.
Está na hora de voltar a mostrar aos que governam
em nome e no interesse dos poderosos
que o país que trabalha e que o país que sofre
não rasgou nem enrolou as bandeiras da luta,
da confiança e da esperança.



Rapazes lestos no gatilho


O azar de se chamarem
Silva numa zona da Líbia



(...)

aqui, via Helena Borges no «cinco dias»

26 setembro 2011

60 minutos com os...


Wilco




... no David Letterman Show (CBS)

Na União Europeia


Crise e mudanças de opinião



Durante muitos e muitos anos, eu costumava dizer, acreditem que mais por graça do que por presunção, que pertencia ao selecto grupo dos 27 portugueses que consultava com alguma atenção e detalhe os Eurobarómetros publicados duas vezes por ano pela Comissão Europeia. Depois, vá-se lá saber porquê, isso passou-me mas, a não ser que tivessem sido os banhos estivais que me distraíram, também me parece que a imprensa portuguesa não reparou bem nos resultados do Eurobarómetro nº 75, com trabalhos de campo feitos na Primavera e divulgados em Agosto. Recomendando aos mais interessados a consulta do documento na íntegra, o que posso aqui deixar é que me pareceu que, sob o impacto da crise, esta sondagem apresenta assinaláveis mudanças na opinião pública europeia em numerosas matérias, de que dou aqui quatro exemplos, pedindo desculpa pela má qualidade de três das imagens:



Aqui a pergunta era sobre se os inquiridos tinham
sobretudo " confiança" na União Europeia
ou sobretudo "não confiança"
:


A azul a "confiança", a vermelho a "não confiança" e a cinzento os «não sabem não respondem». Dos inquiridos portugueses 44% pronunciaram-se pela "confiança" e 46% pela "não confiança" o que, na minha memória e opinião, é coisa nunca vista desde que Portugal aderiu à CEE em 1.1.1986.

aqui a seguir, a evolução desde 2004
da média
europeia sobre a mesma questão