Há 50 anos, o dia
em que colaborei com as
irregularidades eleitorais
do fascismo
em que colaborei com as
irregularidades eleitorais
do fascismo
Neste preciso dia, há 50 anos, eu era aspirante miliciano (abençoadas dioptrias) do S.A.M. (Serviço de Administração Militar) e estava colocado numa coisa pomposamente chamada Quartel-General da 3ª Divisão no Campo Militar de Santa Margarida e que, na verdade, era um triste resto de umas grandes manobras feitas salvo erro na década de 50.
Acontece que, no dia da votação das "eleições" fascistas de 1969, o Brigadeiro que comandava aquela coisa perguntou aos oficiais milicianos daquela unidade quem queria ir votar com ele e só eu respondi afirmativamente. Escusado será dizer que disse que sim porque estava devidamente munido do boletim de voto da CDE de Santarém pois eu e outros oficiais milicianos os tínhamos ido buscar (em jipe militar !) à sede de Abrantes.
Chegados à assembleia de voto que era na Junta de Fregueisa de Santa Margarida da Coutada, o Brigadeiro votou primeiro e ficou à espera que eu votasse por causa da boleia de regresso ao Campo Militar.
Sucede que, quando me cheguei à frente para votar, o presidente da Junta me disse : «O meu aspirante desculpe mas não está inscrito no recenseamento». E eu respondi : «desculpe, mas isso não pode ser, os oficiais milicianos são sempre inscritos oficiosamente». Ao que o sujeito retorquiu prontamente: «não há problema, meu aspirante, acrescentamos já aqui o seu nome à mão no livro». E eu respondi : «olhe lá, isso não me parece muito legal». E foi nessa altura que a conversa começou a azedar pois o Presidente da Junta resmungou já irritadamente : «não o ´tou a perceber, o meu aspirante quer ou não quer votar ?. »E, nessa altura, reparando que o Brigadeiro já não escondia o seu nervosismo, resolvi aceitar a proposta feita e lá votei.
Naquele tempo a RTP a preto e branco começava à noite por dar números eleitorais de pequenas freguesias e estando eu numa sala de convívio da messe de oficiais ( o televisor estava na sala do bridge onde eu nunca punha os pés) ouvi claramente a voz do locutor a dizer : «Santa Margarida Coutada , 105 votos para a União Nacional e 9 votos para a CDE».
Mas, logo de seguida, também ouvi esta sensacional exclamação de um ignoto oficial do quadro que estava na tal sala de jogos : « 9 votos para a CDE ?! Temos de saber quem eles são !"
E, logo e ainda hoje, conclui que tinha valido a pena ter votado, quanto mais não fosse para ouvir esta pérola de "espírito democrático".
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