29 dezembro 2018

Manuel Loff no «Público» de hoje

Sábias palavras


«(...)Creio que muitos de nós ainda não se deram conta do que significaram os anos da troika. Habituados a ouvir falar de economia através de uma desfocada lente macro, traduzimos o discurso da recuperação económica numa genérica sensação de alívio, como se pudéssemos, por fim, retomar uma vida, já de si precária, subitamente interrompida há dez anos, como se tivéssemos passado por uma guerra e agora nos devêssemos concentrar na reconstrução. Essa, aliás, foi uma das imagens que Passos Coelho escolheu, no Natal de 2014, para descrever o que então vivíamos, convidando-nos a aprender com o exemplo dos combatentes da Guerra Colonial, “servindo a pátria de forma absoluta”! É de uma moral assim que surgem estes discursos contra os direitos dos professores, uma moral de pós-guerra: todos perdemos, ninguém pode recuperar o que perdeu; se o fizesse, trairia a comunidade dos magoados, como se esta se tivesse constituído em torno de um pacto de sacrifício que todos assumimos! Ora, nem é verdade que todos tenham perdido (a concentração de rendimentos nos mais ricos aí está para o comprovar), muito menos que todos tenhamos assinado um pacto de sacrifício económico e social que nenhum governo, nenhuma troika, nenhum patrão negociou connosco, estabelecendo responsabilidades, fixando partilha de sacrifícios, preservando os que, de tanto se terem sacrificado antes, não deveriam contribuir para este novo esforço. (...)»

1 comentário:

  1. A sociedade portuguesa deveria estar hoje a julgar pessoas, como Passos Coelho e Paulo Portas (e até Vítor Gaspar) pelos crimes cometidos contra os portugueses, entre 2011 e 2015 (tal como José Sócrates foi julgado pelas decisões do seu governo). No caso de Passos Coelho, os crimes que aqui menciono, começaram com a campanha política (para ser eleito como governo) em que prometeu não aumentar impostos, para depois levar os portugueses a uma austeridade nunca antes vivida no país. Outra parte do crime cometido, foi a forma como governaram: irresponsável, incapaz e sem preparação nenhuma, apenas conseguindo sobreviver no poder com uma espécie de tirania estabelecida (um presidente, um primeiro-ministro e uma presidente do parlamento, todos da mesma cor política). Em vez de o julgar (e até pessoas, como Pedro Mota Soares, por ter deixado a segurança social no estado em que deixou), estamos a esquecê-lo e a deixá-lo à solta, talvez (um dia) para voltar como herói do país.

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