havia quem avisasse
Nos ásperos tempos que correm e diante das sombrias e dramáticas ameaças que perigosamente se perfilam, naturalmente que me cumpre dar as boas-vindas a todos os que, seja qual for o seu quadrante político,  foi preciso chegar-se a  este inferno anunciado para descobrirem que a austeridade assassina a economia e dilacera incalculavelmente o tecido social ou que, por estas ou outras palavras, se aproximam da ideia da renegociação da dívida e do memorando com a troika. Mas,  exactamente agora que me parece maior, e não menor, o perigo de se ampliar a ideia mentirosa de que quem está em causa  é toda «a classe política» ou todos os partidos, quem quiser ser sério e quiser aprender alguma coisa, deve ficar a saber que em 21 de Junho de 2011 já o PCP afirmava:
«(...) No prosseguimento do acordo com a troika, o programa de governo: ataca os 
direitos dos trabalhadores com a perspectiva de alterações à legislação laboral 
em várias e importantes domínios, designadamente em matéria de facilitação dos 
despedimentos, horários de trabalho, remuneração de trabalho suplementar; avança 
com um conjunto de privatizações de empresas e serviços públicos; em simultâneo 
aprofunda a restrição de direitos sociais; projecta um novo ataque à 
administração pública e aos seus trabalhadores; prevê a restrição do direito à 
saúde, a desagregação da escola pública e o plafonamento da segurança social; 
aumenta os impostos sobre o trabalho, a habitação e o consumo, entre outras 
matérias.
A antecipação de um conjunto de medidas, dão expressão ainda mais nítida à 
natureza e objectivos do Programa do Governo enquanto instrumento ao serviço da 
acumulação de lucros pelo grande capital e de exploração e sacrifícios sobre os 
trabalhadores e do povo. A antecipação do calendário de privatizações e em 
particular o anúncio do roubo no subsidio de Natal que PSD e CDS pretendem impor 
a quem vive do seu salário ou pensão de reforma e decidida à revelia de tudo o 
que afirmaram em campanha eleitoral, dão expressão a uma política dirigida para 
acentuar injustiças e manter intocáveis os benefícios e apoios ao bancos e 
grupos económicos.
Sublinha-se que o programa que agora o Governo, em colaboração com o PS, se 
prepara para concretizar não constitui uma solução para os problemas nacionais, 
mas antes um factor que conduziria ao seu dramático agravamento. Um programa que 
os trabalhadores e o povo têm não só o direito mas o dever de o contestar, de 
lhe resistir e de o derrotar.
A presente situação do país, nomeadamente no plano económico, com o crescente 
agravamento dos défices estruturais, com o prosseguimento da destruição do 
tecido produtivo, num quadro da prolongada estagnação e recessão económicas, mas 
também no plano social com o crescente agravamento das desigualdades, o 
alastramento da pobreza e do desemprego e a fragilização extrema da protecção 
social que o presente programa de agressão vem acentuar, torna mais urgente e 
indispensável uma ruptura com o actual rumo da vida nacional e a concretização 
de uma política patriótica e de esquerda capaz de dar resposta aos problemas do 
país, vencer as dificuldades e assegurar o seu desenvolvimento. 
Rejeitar o programa ilegítimo de submissão externa, renegociar a dívida 
pública, defender a produção nacional e uma justa distribuição da riqueza, 
constitui a resposta patriótica e de esquerda de que o país precisa, em torno da 
qual se devem mobilizar e unir os trabalhadores e o povo.
Um processo de renegociação – nos seus prazos, juros e montantes – compatível 
com uma estratégia de estabilização financeira sustentável, com o crescimento 
económico, o equilíbrio das contas públicas e o emprego. 
Um processo que permita potenciar uma política de promoção da produção 
nacional que: valorize a agricultura e as pescas, e promova um programa de 
industrialização do país; valorize o mercado interno com a indispensável 
elevação dos salários, pensões de reforma e rendimentos da população; reforce o 
investimento público orientado para o crescimento económico, defenda e reforce o 
sector empresarial do Estado nos sectores básicos e estratégicos; apoie as MPME 
designadamente por via do controlo dos custos dos principais factores de 
produção e do financiamento público.» (aqui)
Não é por falta de avisos que chegamos a este descalabro.
ResponderEliminarUm beijo.
Depois de tanto tempo de abstenções violentas, António José Seguro começa a render-se à realidade e já fala em renegociar prazos e juros mas parece ainda demasiado preocupado com os credores para propor a renegociação dos montantes.
ResponderEliminarAté um banqueiro (o presidente do BPI, salvo erro) já advertiu que se "eles" verificarem que dependemos "deles" "chupam-nos o sangue até à medula".
Admirei a franqueza e calculo que o "eles" se possa traduzir por troika, ou credores, ou especuladores (a ordem é arbitrária e o significado idêntico).