13 julho 2014

Sobre uma crónica de Luís Osório

Cuidado com as fantasias literárias



Via Facebook da minha amiga Alice Vieira descubro no Sol uma crónica de Luís Osório sobre o casal Alice Vieira-Mário Castrim que, sob o infelicíssimo título que está aí em cima, no geral, constitui um interessante  testemunho pessoal do autor, carregado de ternura, apreço e admiração, pelo que compreendo muitíssimo bem que a Alice o tenha publicitado na sua página no Facebook.

Até aqui tudo bem, acontece porém que, logo no segundo parágrafo do texto, de boca aberta e olhos arregalados, leio o que se segue:
E, lido isto, testemunho pessoal por testemunho pessoal, também quero deixar o meu de que só soube que Mário Castrim era católico quando cheguei à capela mortuária e vi que estava uma cerimónia ou acto com características religiosas.

Aqui chegados perguntará Luís Osório ou perguntarão muitos leitores: mas o que é que isso prova, ainda por cima vindo de uma pessoa que tem fama de distraído e muitas vezes foi acusado de não cumprimentar camaradas (quando, na verdade. era só porque estava a pensar no comunicado que tinha de escrever ou na receita milagrosa para a alternativa) ?

Peço desculpa mas prova muito. Porque não há distracção que explique que seja só no funeral de Mário Castrim que sabe que ele era católico alguém que, para não falar do para trás, trabalhou 29 anos na António Serpa e na Soeiro Pereira Gomes, exerceu importantes responsabilidades no PCP, participou em centenas de reuniões e em milhares de conversas com militantes na sede central do PCP e pelo país fora ( e inevitavemente, em muitas foi referido o Mário Castrim) e teve contactos particularmente intensos e regulares com jornalistas comunistas. 

Este meu testemunho não invalida evidentemente que muitos outros dirigentes ou militantes comunistas  soubessem que Mário Castrim era católico. O que, imodéstia à parte, não só invalida como arrasa a ideia de que Alice Vieira (que só por Luís Osório soube agora também ser católica, vejam lá !) e Mário Castrim tenham sofrido, do lado do PCP, por serem «comunistas e católicos», sendo uma fantasia delirante a ideia de que, entre os comunistas, haveria alguma intranquilidade ou sensação de não poderem confiar totalmente na Alice e no Mário por serem católicos.

Bem se sabe que há estórias e fantasias que são boas e úteis  para alguns autores apimentarem as suas crónicas. Mas que ninguém conte que eu fique calado quando essas fantasias vêm negar o honroso e valioso património histórico do PCP que é o de, na sua vida interna e no relacionamente entre comunistas, as opções religiosas de cada um serem de uma total irrelevância.

11 julho 2014

A última sondagem do «Expresso» ou...

... antes que voltem o choradinho
e as confusões do costume




A ver se nos entendemos: eu estou suficientemente identificado do ponto de vista político-partidário para que qualquer leitor intua, perante dados como os desta sondagem, quem é que eu acho que merecia, devia e era bom para alternativa que tivesse mais e quem eu é que eu acho que devia ter menos. Mas este post não é sobre isso, é sobre os títulos que já estão a ser feitos sobre esta sondagem numa linha de mistificação que já vem de longe e que traz levadas de água no bico. Eu já escrevi sobre este tema e sobre números similares aqui, aqui, aqui e aqui. Mas, apesar disso, estou certo que vao voltar o choradinho sobre « «mau» resultado do PS e a efabulação sobre a hipótese de PSD e CDS voltarem, a ganhar as próximas legislativas.
Por isso, mais a ditar paara a acta do que na esperança de que alguns finalmente me ouçam ou entendam, absolutamente contra a corrente só quero chamar a atenção para o seguinte:

1. A sondagem incidiu sobre candidaturas separadas do PSD e do CDS e não é nada certo, para mim antes pelo contrário, que coligados obtenham os 34,1%  que lhes dá a soma dos resultados de cada um nesta sondagem;

2. 27,5% para o PSD representaria o seu 3º pior resultado nas 13 eleições legislativas já realizadas, o mesmo acontecendo (3º pior resultado) para os 6,6% do CDS, sendo portanto do domínio do inconcebível que com um resultado assim estes partidos alguma vez formassem governo, a não ser que o PS se abstivesse na moção de censura do programa de governo que PCP e BE certamente apresentariam;

3. De há muito que, como denuncio desde o primeiro dia, que certos títulos e interpretações de sondagens outra coisa não visam do que incutir falsa e erroneamente na opinião pública de que o saldo e a consequência das legislativas se tiram a partir do resultados de apenas três partidos - PS, PSD e CDS.

4. Como os 100% que estão em disputa não esticam (e como a abstenção não é para aqui chamada), era bom que aquelas pessoas que se dizem à esquerda do PS mas choram os seus «maus» resultados nas sondagens explicassem finalmente quem é querem que tenha menos percentagem para o PS ter mais.

Quando a propanganda se transforma em boomerang

Dois tiros no porta-aviões


Hoje na primeira página do DN

Isto ainda vai acabar mal

Comment ?
Seis mil milhões de euros ?


 i
DN

O "momento certo" será em Outembro

Ai, credo, tão de
esquerda que ele é 


 na primeira página do i


10 julho 2014

Fim de dia com

John Hiatt em
Terms of My Surrender




Um direito fundamental



Intervenção de Jorge Machado,
deputado do PCP, na AR em 27.6.2014
A luta dos trabalhadores e o 25 de Abril de 1974 consagraram a contratação coletiva de trabalho como um dos mais importantes instrumentos de progresso e desenvolvimento no nosso país.
A contratação coletiva de trabalho, enquanto direito fundamental e como tal consagrado na constituição, é essencial para assegurar uma justa distribuição da riqueza por via da consagração de direitos para os trabalhadores.
Para ajustar contas com o 25 de Abril, para agravar a exploração e assim concentrar ainda mais a riqueza em meia dúzia de grupos económicos, sucessivos Governos PS/PSD/CDS promoveram alterações ao código do trabalho.
Assim, o processo de ataque e tentativa de destruição da contratação coletiva já é antigo. Pela mão do PS, PSD e CDS foram efetuadas sucessivas alterações ao código do trabalho, evocando a competitividade e a necessidade de criação de emprego, mas que na verdade, consagraram profundos retrocessos que fragilizaram a contratação coletiva, agravaram a exploração e aumentaram o desemprego no nosso país.
A Proposta de lei, agora apresentada, não visa dinamizar a contratação coletiva, não visa modernizar o "mercado laboral", não visa sequer o crescimento ou o emprego. O objetivo é a liquidação da contratação coletiva para assim baixar ainda mais, e rapidamente, os salários dos trabalhadores.
Para cumprir este objetivo, este Governo de desgraça e afundamento nacional, por diversas vias, tem vindo a bloquear a contratação coletiva. Se em 2003 mais de um milhão e 500 mil trabalhadores estavam abrangidos por contratos coletivos, em 2013, dez anos depois, cerca de 200 mil trabalhadores estão abrangidos.
Não satisfeitos e não obstante o nível de contratação coletiva estar inaceitavelmente baixo, o Governo pretende agora que os prazos de caducidade dos contratos coletivos de trabalho sejam novamente reduzidos, pretende consagrar a possibilidade de suspensão dos contratos coletivos de trabalho e por fim, pretende que os prazos do processo de sobrevigência sejam, também, reduzidos.
No fundo, PSD e CDS pretendem que os contratos coletivos de trabalho terminem o mais rapidamente possível para tentar destruir os direitos conquistados pelos trabalhadores.
Para que se perceba o que a contratação coletiva de trabalho significa basta dar dois exemplos:
- O contrato coletivo do setor de hotelaria no Algarve, que está a ser negociado, impede a eliminação de categorias profissionais, a imposição dos bancos de horas, a redução dos níveis remuneratórios, e a tentativa de reduzir os dias de descanso semanal.
- No setor de transportes de mercadorias impede o aumento da carga de trabalho e consagra uma cláusula de compensação pelo trabalho no estrangeiro.
Se estes contratos coletivos de trabalho caducarem, mais fácil é para os patrões imporem a exploração.
Fica assim claro que o Governo PSD/CDS não governa para quem trabalha mas para quem explora e mesmo sem a desculpa da Troika e do pacto de agressão, PSD e CDS continuam o caminho do empobrecimento, o caminho de atacar os salários e impor o retrocesso e a exploração. Este é o verdadeiro programa político deste Governo.
Aos trabalhadores dizemos que a contratação coletiva de trabalho foi, por via da luta organizada dos trabalhadores, conquistada antes do 25 de Abril e consagrada com a revolução, pelo que é a luta que vai dar o golpe final neste Governo moribundo e sem legitimidade e é a luta que vai impor a contratação coletiva de trabalho e os seus valores no futuro de Portugal.