19 junho 2012

Glórias do jornalismo português ou...

... quando (naturalmente)
escrevemos para o boneco





Uma pessoa escreve o que escreve aqui e até publica um quadro que fala por si sobre a iniquidade e não proporcionalidade do sistema eleitoral francês. Mas, hoje, consegue ler no Público esta prosa (que mais alguém leu antes de ser publicada) de uma jornalista experiente  que propositadamente acho não adiantar identificar. Referindo-se a projectos de mudanças no sistema eleitoral francês, escreve ela (sublinhados meus) que uma das ideias é «Acabar com a actual forma de escrutínio exclusivamente proporcional, pelo menos nas legislativas - em que os candidatos são eleitos em círculos uninominais em duas voltas (...)». Trata-se provavelmente do recorde nacional da contradição nos próprios termos. Qualquer coisa como se alguém dissesse que tem um pomar muito viçoso e formidável mas em que as maçãs estão todas pôdres ou bichosas. É claro que ninguém é obrigado a saber de tudo mas perguntar é bom e ajudar a evitar dislates.

18 junho 2012

Já me estava a atrasar

Patti Smith em This Is The Girl



do seu novo álbum Banga

As tontices do dia

O disparate a cinco colunas...


Não, como é óbvio, não foi a maioria absoluta a nível nacional do PS que travou a entrada de Marine Le Pen no Parlamento francês: foi o facto de, na circunscrição de Hénin-Beaumont, ter tido cerca de menos 200 votos que o candidato do PS Philippe Kermel que com ela disputava a 2ª volta, depois da desistência a favor dele de Jean-Luc Melenchon do Front de Gauche. Coisa que poderia ter perfeitamente acontecido mesmo que o PS não tivesse obtido a maioria absoluta. Desculpem lá, estimados chefes do Público, mas levar a título de cinco colunas a explicação de um facto local por um balanço nacional é coisa que não lembraria ao diabo.


... e o DN sobre o Bloco
e Louçã sobre o KKE
(em parte, via Bruno de Carvalho aqui)



 Francisco Louçã em entrevista

 na última página do DN



Repare-se pois na extrema arrogância  com que Louçã se refere ao resultado do KKE sobre o qual diz que
«praticamente desaparece». Francisco Louçã apenas se esqueceu de uma coisinha de nada: é que o KKE teve 8,48% em Maio e 4,51% ontem, o que significa uma perda de 3,97 pontos percentuais. Já o partido de Louçã teve 9,81% em 2009 e 5,17% em 2011, o que representa uma perda de 4,64 pontos percentuais. Resumindo, pelos critérios de Louçã, o Bloco de Esquerda está praticamente desaparecido, coisa que eu nunca tive a insensatez de dizer ou escrever.

O sempre doloroso...

... regresso à realidade



Hoje, na 1ª página do
Correio da Manhã

2ª volta das legislativas francesas...

... ou o que, há 20 e tal anos,
chamei de «escrutínio de ladrões»



Tendo em conta o que já escrevi aqui, talvez convenha ponderar o que nos diz o quadro a seguir sobre o sistema eleitoral francês.


Vistos estes dados (de que nenhum jornal hoje falará), podem-me falar quanto quiserem do «supremo valor da governabilidade» ou até, no caso francês, do jeito que dá o «cordão sanitário» em torno da Frente Nacional (que desta vez até rebentou). É claro que eu bem sei que pior que isto só sistema eleitoral maioritário a uma só volta como vigora na Grã-Bretanha e nos EUA mas olhe-se o quadro acima da minha autoria e perceba-se que é de pessoas e cidadãos e do seu direito de representação política que estamos a falar. E do que o quadro acima nos fala é de partidos que tiveram deputados a mais em relação à sua real influência eleitoral (é a 1ª volta que a mede) e há partidos que tem deputados a menos para os votos que alcançaram, que há partidos a quem cada deputado saiu baratíssimo em termos de votos e a outros a quem saiu saiu caríssimo, e, mais grave que tudo, a desigualdade que assim é criada entre cidadãos quanto à eficácia do seu voto e a lesão que isto não pode deixar de comportar para a soberania popular. Talvez para aí há cerca de 25 anos, quando assinava uma coluna semanal em «o diário», sob o pseudónimo de Vasco Pinto de Morais e a meias com um  outro (então) camarada, chamei a isto um «escrutínio de ladrões». Mantenho.


ADENDA em 20/6: como se infere da imagem inicial, este post foi construido a partir de previsões baseadas em sondagem da Ipsos à boca das urnas. Conhecidos os resultados finais e oficiais (que estão aqui), algumas coisas haveria a modificar na segunda imagem (por exemplo, o Front de Gauche não obteve 13 deputados mas apenas 10).

17 junho 2012

Eleições na Grécia

Apesar de...



... a Nova Democracia ter conseguido ser o partido mais votado (por 3,5 pontos de vantagem) e de, graças ao bónus de 50 deputados, até poder formar uma coligação maioritária com o PASOK (ao fim e ao cabo, os dois partidos grandes responsáveis pela situação a que a Grécia chegou), a verdade indesmentível é que, globalmente embora com matizes diferenciados para as diversas forças de esquerda (novo êxito do Syrisa, desaire do KKE), os resultados de hoje, tendo em conta as chantagens e ameaças internacionais  que foram feitas sobre os cidadãos gregos, representam uma forte rejeição das políticas antipopulares há muito em curso e uma poderosa afirmação de dignidade nacional. É certo que a proporção do seu sofrimento e desespero não tem comparação com outro país europeu mas bem se pode registar que ali houve um sobressalto e uma condenação que não se verificaram nem nas últimas eleições portuguesas nem nas espanholas. A luta continua, na Grécia, cá e em toda a parte onde faz falta.

Portugal apurado

Cristiano Ronaldo não deve ter lido
mas resolveu pôr as coisas em pratos limpos


 Título de artigo no El País de hoje

Para o seu domingo

Patti LuPone em
I dreamed a Dream




16 junho 2012

No «El País» de hoje

por Andrea Rizzi

Existen desde la noche de los tiempos y, en épocas oscuras como esta, vuelven a brotar como flores en primavera. Los estereotipos son muy resistentes. El reciente estudio del Pew Center European unity on the rocks dedica un apartado a comprobar cómo anda la cosa. El resultado, obviamente, no es ninguna sorpresa.
Los europeos consideran que los más trabajadores del continente son los alemanes; que los más corruptos son los italianos; que los menos trabajadores son los griegos; y los menos corruptos... los alemanes, naturalmente.
Pero las estadísticas cuentan otra historia. Según un estudio publicado el pasado mes de diciembre por el Office for National Statistics británico, el pueblo que trabaja más horas por semana es... ¡el griego!
Según esa estadística, los griegos trabajan más de 42 horas por semana, frente a las 35 de los alemanes. La productividad alemana es superior, pero tampoco son los primeros en este apartado, sino tan solo los sextos.
Por supuesto, estos datos deben ser sometidos a muchas matizaciones. Se puede observar que la oficina de estadística griega quizá no sea tan fiable como la alemana (¿otro estereotipo?). U, objetivamente, que la masiva destrucción de empleo de los últimos años fuerza a aquellos griegos que mantienen su puesto a trabajar a destajo. Aun así, hay materia para poner en discusión certidumbres sin cimientos.
Y, para desmentir otro mito, los datos del número de horas trabajadas muestran que varios países católicos superan a otros protestantes, por muy celebrada que sea su tradicional ética del trabajo.




no Babelia

É sempre assim...

Estranhas maneiras de dizer,
perversas formas de pensar


Julgava eu que o PS andava sempre pelo seu pé mas, segundo este título do
Público, coitadinho, é a moção de censura do PCP que o «empurra» para «o lado da maioria». Fosse eu do PS e defenderia com unhas e dentes que «empurrado» jamais e que o PS votasse favoravelmente a moção de censura. Enquanto isto, de forma tão prevísivel como a noite cair todos os dias, lá vem o editorial do mesmo jornal proclamar que «a moção será como um tiro de pólvora seca: fará barulho sem ferir ninguém». Por detrás deste juízo, está obviamente a noção de que, havendo uma maioria parlamentar que sustenta o governo, a moção não produzirá os efeitos constitucionalmente previstos (e o Público atreve-se mesmo a afirmar que, se pudessem produzir, o PCP não a apresentaria, no que, creio, estão muitos enganados). Estamos portanto a este nível de grau zero de pensamento político que nos devia conduzir directamente a esta conclusão: havendo uma maioria parlamentar, não vale a pena, por exemplo,  o PCP, o BE e os Verdes esfalfarem-se a apresentar dezenas de projectos de lei porque as probabilidades de os mais importantes  serem chumbados pela maioria PSD-CDS são para aí da ordem dos 99,9%.


P.S.: não tem nada que ver com este assunto, mas aproveito para recuperar um atraso: é que há dias li nos jornais que este ano as vagas em Medicina não aumentarão. Será que ,tendo-se andado para aí 10 ou 15 anos a falar da falta de médicos, o problema está mesmo resolvido ?