12 abril 2024

Atenção, muita atenção

O novo governo 
e o salário mínimo

Carmo Afonso no «Público»

(...) Este Governo encontrou uma forma de acenar com um valor simpático  [1000 euros em 2028), sem ficar obrigado ao seu estabelecimento. As pessoas memorizam o valor e criam legítimas expectativas de o receber. Mas pode não ser assim e é importante, e decente, que saibam aquilo com que podem contar.

O Governo tem a obrigação de esclarecer as centenas de milhares de trabalhadores que ganham o SMN, tem a obrigação de assumir compromissos, digo indicar valores concretos e datas exatas. Não há outra forma de fazer política.
Ontem ouvimos Miranda Sarmento falar da relação entre o aumento do SMN e o crescimento económico. Isto é muito preocupante. Reparem que o programa económico da AD era puramente fantasioso: previa um crescimento do PIB de 3,5% até 2028 e uma progressão de 4% na legislatura seguinte. O anterior Governo previa um crescimento económico de apenas 1,8% até 2027. Ora, se é com base na concretização das alucinadas previsões dos economistas da AD, bem podem os trabalhadores portugueses ir buscar um banquinho para esperarem sentados pelos aumentos salariais. (...)»

11 abril 2024

Paulo Raimundo na AR

Um programa
de retrocessos

Senhor presidente, senhoras e senhores deputados, senhor primeiro ministro.

Uma saudação, um alerta, um compromisso, uma pergunta e uma certeza.

A saudação é aos médicos, enfermeiros, técnicos, professores, auxiliares, oficiais de justiça, profissionais das forças de segurança e das forças armadas, bombeiros, a saudação a todos os trabalhadores e à sua luta que vão obrigar o governo a dar respostas aos seus problemas.

O alerta é a todos os que ambicionam a vida melhor, ainda o Governo tenta iniciar funções e já procura justificações para não cumprir o que lhes foi vendendo.

Que governo é este? Que programa é este?

Sobre direitos dos trabalhadores, reformas, combate à injustiça e desigualdade à precariedade e horários desregulados, considerações vagas, mas nada de soluções.

Sobre salários, demagogia e contenção, são as palavras de ordem numa altura em que cai por terra o mito da produtividade no qual o governo sustenta parte do seu programa.

É que hoje é claro que os salários reais evoluem menos que a produtividade. 

O Governo e seus aliados da concentração da riqueza nas mãos de uns poucos, à custa de quem a produz a riqueza, que são os trabalhadores, procuram sempre justificações para travar o aumento de salários e pensões mas, encontram sempre razões para mais favores aos grupos económicos e retirar ao Estado condições e meios para cumprir o seu papel, como é agora com a redução do IRC.

Há impostos que deviam de facto baixar, vai o governo reduzir o IVA na electricidade, telecomunicações e gás?

Vai o governo ser num passa cheques para o capital?

Vão continuar as parcerias público privadas rodoviárias a sacar por ano mil milhões de euros públicos?

É para manter benefícios fiscais de mil e seiscentos milhões de euros aos grupos económicos?

É desta que os lucros da banca vão suportar o aumento das taxas de juro?

São as respostas a estas questões que se exigem e das respostas virá a definição dos caminhos. 

Senhor primeiro-ministro, do PCP contará com firme combate e oposição ao governo, aos objectivos e aos projectos que unem, entre outros, PSD, CDS, o Chega e a Iniciativa Liberal. 

É este o compromisso do PCP com os trabalhadores e o povo.

Sabemos bem o caminho que querem retomar e aprofundar.

Não alimentamos ilusões, rejeitamos um programa que é negativo pelo o que afirma e mas também pelo o que omite e que está claramente ao serviço dos grupos económicos.

Para finalizar deixo a certeza e a convicção de que os trabalhadores, os reformados, a juventude, o povo; todos os que exigem a mudança, salários, reformas, acesso à saúde, educação, serviços públicos, justiça, habitação, combate à corrupção e às suas causas, respeito e dignidade, todos os exigem uma vida melhor, não vão baixar os braços perante ataques nem recuos nos seus direitos e vão exigir com a sua luta respostas aos seus problemas, e o direito que tem a uma vida melhor, a um País soberano e desenvolvido, com uma mais justa redistribuição da riqueza criada.

Senhor primeiro-ministro, não iluda os problemas do nosso País e acima de tudo não iluda as dificuldades dos que cá vivem, trabalham e estudam.

São estes que precisam de respostas e não os que concentram a riqueza como se não houvesse amanhã.


09 abril 2024

Na apresentação do livro dos cavernícolas

 Sobre os Estados
 Gerais da reação

Notícia no «Público» : «Passos Coelho apela a entendimentos políticos depois de “sinal claro” nas eleições. Passos sublinhou a necessidade de as pessoas “se entenderem colectivamente” e avisou que não se pode dizer aos eleitores que se tem “muito respeito pelas suas preocupações”, mas ignorar a escolha que fizeram nas eleições.
Passos Coelho apela a entendimentos políticos depois de “sinal claro” nas eleições.“Isso é um bocadinho um insulto às pessoas, não podemos dizer ‘estou muito preocupado com os seus anseios, mas se fizer esta escolha, daqui não leva nada, se fizer aquela escolha, comigo não fala’”, afirmou. 
Na assistência estava Nuno Melo, ministro da Defesa Nacional, e os deputados do Chega Rita Matias e Diogo Pacheco Amorim, além de outras  personalidades que participaram no livro e que são conotadas com uma ala mais conservadora. À saída, ainda dentro da sala, Passos Coelho trocou algumas palavras com Ventura. “Já nos cumprimentámos no Parlamento, temos sempre de reconhecer o mérito dos outros, muito bem, já o felicitei pela eleição, e pela prestação que tem tido no Parlamento , disse, desejando um “bom mandato”. “[A intervenção] Foi brilhante”, respondeu o líder do Chega.
Em declarações aos jornalistas, Ventura considerou que foi um discurso inspirado nas “bandeiras do Chega como a “ideologia de género, a questão da família, da imigração”. “Há um caminho que é de convergência na lógica do dr. Pedro Passos Coelho. Talvez essa convergência permita um candidato presidencial. Porque não Pedro Passos Coelho?”, questionou.`»

08 abril 2024

Cada vez mais à direita

 

As boas companhias
de Passos Coelho

«O  livro chama-se “Identidade e Família” e reúne contributos de dezenas de pessoas da direita conservadora (no sentido de ‘não liberal’), alguns dos quais ex-ministros, ex-líderes partidários, ex-deputados, entre outras personalidades que tentam influenciar há anos o pensamento político das direitas. É o caso de Bagão Félix, um dos organizadores, César das Neves, Jaime Nogueira Pinto, Ribeiro e Castro, Manuel Monteiro. Tem a benção do Cardeal Manuel Clemente, assim como de outros membros do clero. E acaba por se afirmar como uma espécie de manifesto anti-progressista.»

«Ex-primeiro-ministro apresenta “Identidade e Família”, um livro que reúne 22 contributos da direita mais conservadora, contra a “destruição da família” tradicional. Textos falam da imposição de uma “ideologia de género” como “modelo de pensamento único”, de “disforia de género associada a várias patologias psiquiátricas”, de “senhoras, alegadamente tiranizadas, que nunca se queixavam” e do “direito à resistência” face à transformação do aborto e da eutanásia em direitos".» (EXPRESSO) 

06 abril 2024

O reacionarismo de uma decisão

Nem  mais

Pacheco Pereira no «Público»

«Mas a decisão (do Governo de substituir o novo logotipo) é mais importante do que possa parecer, para que seja conveniente minimizar. Ao escolher fazer isto em primeiro lugar, o Governo quis dar um sinal, um sinal de ruptura, um sinal ao Chega, um sinal sobre o local onde se quer colocar. E sinais e símbolos são
muito mais eficazes e empáticos do que medidas governamentais, para dizer ao que se vem ou para onde se vai.»

Porque hoje é sábado ( )

 Melissa Aldana

Sempre com o povo palestiniano

 Hoje

05 abril 2024

Elogio da selvajaria

 O FMI sempre
igual a si próprio

FMI considera "impressionante" progresso na Argentina com
governo de Milei em 2024

(DN)

04 abril 2024

Perdoados e reabilitados

 Um livro muito
interessante e esclarecedor

Edição da Casa das Letras
Em 1968, o chancelar alemão Kurt Georg Kiesinger foi esbofeteado em público, perante as câmaras de televisão, por uma jovem e atraente caçadora de nazis chamada Beate Klarsfeld.

O momento seria o princípio do fim da carreira de um dos muitos cúmplices de Adolf Hitler que, apesar do seu currículo maldito, triunfaram de forma retumbante no pós-guerra. Mas ao contrário de Kiesinger, denunciado nesse instante de vergonha pelos seus antecedentes sombrios, muitos outros destacados nazis mantiveram-se impunes e não encontraram obstáculos à sua ascensão, fosse na própria Alemanha, fosse em países vencedores do conflito como os Estados Unidos.

Reinhard Gehlen, criminoso de guerra e responsável pela inteligência militar na frente leste, fundou e dirigiu os serviços secretos da República Federal Alemã. Adolf Heusinger, chefe de operações no alto comando das forças armadas de Hitler, alcançou a presidência do comité militar da NATO.

Ernst Achenbach, grande angariador de fundos para o Partido Nacional Socialista e organizador do saque à economia da França sob ocupação, esteve à frente da comissão dos Negócios Estrangeiros do parlamento germânico e chegou até a ser indicado para comissário europeu.

Rudolf Diels, primeiro chefe da Gestapo, membro das SS e figura envolvida no incêndio do Reichstag em 1933, acontecimento decisivo para consolidar o poder nazi, foi contratado pela CIA como caçador de comunistas.

Otto Skorzeny, protagonista de numerosas operações especiais rocambolescas, entre as quais o rapto de Mussolini de uma fortaleza inexpugnável, tornou-se espião ao serviço de Israel, personificando uma das reviravoltas mais insólitas e irónicas deste conjunto de figuras.

E há ainda os casos de Albert Speer, Wernher von Braun e Friedrich Paulus, entre outros militares, políticos e espiões que ocultaram o seu currículo manchado de sangue para renascer das cinzas do Terceiro Reich ou que, bem pelo contrário, se serviram precisamente da experiência adquirida no regime nazi para triunfar num tempo que estende os seus tentáculos até aos dias hoje, de forma frequentemente inesperada…

Éric Branca, jornalista e historiador francês, desmonta de forma implacável o percurso de uma galeria de personagens negras nesta saga que se lê com sofreguidão.

03 abril 2024

Sobre a milonga do «líder da oposição»

 Reconhecimento de 
um clamoroso fracasso

Imitando o que centenas de jornalistas, comentadores e outros opinantes quotidianamente despejam sobre as nossas meninges, Henrique Monteiro escreveu no «Expresso» que «No caso português, em que tanto o líder do partido mais votado, como o do segundo mais votado foram eleitos deputados, o caso é simples: Pedro Nuno Santos, e apenas Pedro Nuno Santos (salvo se o PS em algum momento designasse outro secretário-geral) é efetivamente o líder da Oposição ».

Sucede que, sem que até hoje alguém me tenha explicita ou implicitamente contestado, em 17 de Novembro de 2006, ou seja há mais de 17 anos, publiquei no «Público» um artigo intitulado «Líder de quê?» (*) em que desbaratava aquela velha falsificação, sublinhando sobretudo que o PCP se considera e é um partido da oposição que se lidera a si próprio e que não passou procuração a ninguém para o liderar.

(») Os cinco leitores interessados podem encontrar esse artigo aqui (os exemplos de nomes referidos no artigo correspondem obviamente àquela época de 2006).