de um editorialista
»A
Assembleia da República regressou ontem aos tradicionais
jogos de cintura que
fizeram fama na legislatura anterior. Ouvindo o que os representantes
das bancadas disseram ao longo da sessão, só mesmo os crentes
poderiam acreditar que o Orçamento Suplementar iria sobreviver. Mas,
apesar das críticas generalizadas à sua insuficiência, à sua
falta de ambição, às vistas curtas, aos supostos erros das
previsões, aos riscos que abre ao futuro, à opacidade e demais
censuras e vilipêndios, o diploma
foi aprovado na generalidade.
Porquê? Porque, apesar de tantos defeitos, só os partidos mais à
direita (CDS, Chega e Iniciativa Liberal) foram
capazes de passar das palavras aos actos e transformar as críticas
num voto contra.»
-Manuel
Carvalho em editorial no «Público»
Lida
esta magnifica e ácida prosa, o que se impõe a qualquer leitor é
uma coisa muito simples. Nem mais nem menos do que imaginar o que
Manuel Carvalho teria escrito caso o Orçamento suplementar tivesse
sido ontem chumbado logo na generalidade. Por mim estou absolutamente
certo que teríamos um editorial igualmente magnifico e ácido a
vituperar a terrível irresponsabilidade de quem chumbou um Orçamento
em plena situação de pandemia. Em síntese são os «jogos de
cintura» dos editorialistas, gente especialmente dotada para
criticar tanto uma coisa como o seu contrário dependendo do dia.