29 maio 2020

Uma festa talvez excessiva

Desconfio que vamos
lembrar-nos muito destas
 manchetes quando, mais à
 frente, falarmos de miséria,
  desemprego massivo e
outros dramas sociais


Convém notar que só se chega a este número considerando também fundos que já estavam anteriormente atribuidos.

28 maio 2020

Puro desconchavo

O azar
de um ultra-liberal

No «Observador» (é o melhor sítio para uma coisa destas) um tal Diogo Prates que é apresentado como tendo sido cabeça de lista da Iniciativa Liberal por Setúbal sentencia que «Desde o 25 abril de 1974 que todas as Câmaras no distrito de Setúbal são governadas por socialistas ou comunistas e tudo o que conseguiram foi espalhar pobreza e agora a doença.»
Deixando de lado a magna estupidez desta responsabilização pela «pobreza» e até, imagine-se !, pela pandemia do covid 19, acontece que este sujeito teve um azar dos diabos.
É que dois parágrafos mais à frente já estava a opinar acertadamente que «A recente pandemia vem lembrar-nos o que nunca devíamos esquecer: foi o saneamento básico generalizado que permitiu reduzir substancialmente a taxa de mortalidade de muitas doenças, nomeadamente a tuberculose». 
O ilustre articulista não se deu ao trabalho (talvez por razões de idade) de nos contar quem é que no distrito de Setúbal generalizou o saneamento básico ou se pensa que caiu do céu aos trambolhões. Mas eu explico-lhe que foram sobretudo autarcas comunistas que, começando desde logo nas Comissões Administrativas democráticas, dirigiram e concretizaram no distrito de Setúbal (e também no Alentejo) uma notável obra no dominio do saneamento básico, inicialmente até com uma grande contribuição de trabalho voluntário das populações. Na verdade, poucos anos depois do 25 de Abril, a população abrangida pelo saneamento básico nessas regiões já representava 90% da população enquanto no centro e norte do país andava à volta os 30%.
O escrevente no «Observador» perdeu pois uma bela oportunidade para estar calado.

Extraido do famoso video

Brasil: conversa de
 Conselho de Ministros muito
pior que conversa de taberna

Presidente (Bolsonaro): “É putaria o tempo todo para me atingir, mexendo com a minha família. Já tentei trocar gente da segurança nossa, oficialmente, e não consegui. Isso acabou. Eu não vou esperar f. minha família toda de sacanagem, ou amigos meus, porque não posso trocar alguém da segurança na ponta da linha — que pertence à estrutura nossa. Vai trocar! Se não puder trocar, troca o chefe dele; não pode o chefe dele? Troca o ministro. E ponto final… Eu quero, ministro da Justiça e ministro da Defesa, que o povo se arme! Que é a garantia que não vai ter um filho da puta aparecer pra impor uma ditadura aqui! Que é fácil impor uma ditadura! Facílimo! Um bosta de um prefeito faz um bosta de um decreto, algema, e deixa todo mundo dentro de casa. Se tivesse armado, ia pra rua. E se eu fosse ditador, né? Eu queria desarmar a população, como todos fizeram no passado quando queriam, antes de impor a sua respectiva ditadura. Aí, que é a demonstração nossa, eu peço ao Fernando e ao Moro que, por favor, assine essa portaria hoje que eu quero dar um puta de um recado pra esses bosta! Por que que eu tô armando o povo? Porque eu não quero uma ditadura! E não dá pra segurar mais! Não é? Não dá pra segurar mais.”

- extraido do artigo de Boaventura
 Sousa Santos no «Púnlico de hoje

27 maio 2020

Em bicos de pés

Hoje já vamos dormir
com este desgosto !


No assassinato de George Floyd

"Strange Fruit"


Lizz Wrjght interpreta a célebre cannção antiracista popularizada por Billie Holliday e escrita em 1939 pelo comunista norte-americano Abel Meeropol.

A América mergulhada nos seus pesadelos

Sem mais palavras

No «Público» de hoje

Nem mais.



«(...) Com efeito, há um manifesto desequilíbrio entre os apoios concedidos pelo Governo à área empresarial comparativamente aos disponibilizados para a área social. «(...) A “fatia de leão” dos apoios do Estado continua a ser canalizada para as grandes empresas. As mesmas que, em alguns casos, preferem distribuir dividendos aos seus accionistas, em vez de investir na recuperação da economia, na produção de valor-acrescentado, na criação de emprego com direitos e na resposta às necessidades do país.


Mas mais do que constatar, é preciso agir. A situação económica justifica e o tecido social exige um antivírus contra a austeridade, o desemprego, a precariedade e os baixos salários.Os que antes defendiam menos Estado para os trabalhadores e os serviços públicos, são os que agora reclamam mais financiamento a fundo perdido para as suas empresas. (...)»



24 maio 2020

Um grande escritora, um espirito insubmisso

Maria Velho da Costa
(1938-2020)

Revolução e Mulheres

Elas fizeram greves de braços caídos.
Elas brigaram em casa para ir ao sindicato e à junta.
Elas gritaram à vizinha que era fascista.
Elas souberam dizer salário igual e creches e cantinas.
Elas vieram para a rua de encarnado.
Elas foram pedir para ali uma estrada de alcatrão e canos de água.
Elas gritaram muito.
Elas encheram as ruas de cravos.
Elas disseram à mãe e à sogra que isso era dantes.
Elas trouxeram alento e sopa aos quartéis e à rua.
Elas foram para as portas de armas com os filhos ao colo.
Elas ouviram falar de uma grande mudança que ia entrar pelas casas.
Elas choraram no cais agarradas aos filhos que vinham da guerra.
Elas choraram de verem o pai a guerrear com o filho.
Elas tiveram medo e foram e não foram.
Elas aprenderam a mexer nos livros de contas e nas alfaias das herdades abandonadas.
Elas dobraram em quatro um papel que levava dentro uma cruzinha laboriosa.
Elas sentaram-se a falar à roda de uma mesa a ver como podia ser sem os patrões.
Elas levantaram o braço nas grandes assembleias.
Elas costuraram bandeiras e bordaram a fio amarelo pequenas foices e martelos.
Elas disseram à mãe, segure-me aí os cachopos, senhora, que a gente vai de camioneta a Lisboa dizer-lhes como é.
Elas vieram dos arrebaldes com o fogão à cabeça ocupar uma parte de casa fechada.
Elas estenderam roupa a cantar, com as armas que temos na mão.
Elas diziam tu às pessoas com estudos e aos outros homens.
Elas iam e não sabiam para onde, mas que iam.
Elas acendem o lume.
Elas cortam o pão e aquecem o café esfriado.
São elas que acordam pela manhã as bestas, os homens e as crianças adormecidas.
Maria Velho da Costa

23 maio 2020

Porque hoje é sábado ( )

Michelle Lordi




António Guerreiro ontem no «Ipsilon» do «Público»

Sábias palavras

«(...) Para esta propaganda total contribui também a publicidade. Todos reparámos certamente que os spots publicitários não desapareceram, mas foram atacados pelo vírus do pudor e do didactismo moralista, paternalista e geralmente piegas. Deixaram de dizer «compre», «pague um e leve dois»,«X lava mais branco», para passarem a dizer « seja responsável», «fique feliz em casa: carpe diem», «o nosso automóvel é experiente em curvas, saiba como achatar esta com que estamos confrontados», «tudo vai ficar bem com a nossa ajuda». De maneira mais ou menios directa, a publicidade passoiu a só falar do vírus. Tornou-se tão insuportável como as afectações «poéticas» de alguns apresentadores de jornais televisivos, ilustrando na perfeição a verdade enfática dos propagandistas. E foi assim que ficámos não apenas reféns do medo, mas também dos bons sentimentos, das afecções da alma. Distanciamento social ? Não, o que houve foi a «partilha» em modo superlativo. Fechados em casa, mas a receber de todos os lados - da publicidade, do jornalismo, do discurso público dominante - mensagens de medo e de bons sentimentos. E o medo como o melhior dos sentimentos. O que fazer agora com todo o medo que sobra ? (...)»,