... gracinha por gracinha
Em entrevista ao Público de hoje a estimável e estimada militante do BE Ana Drago afirma a dado passo:«Alguém me dizia, com uma certa ironia, que o PCP funciona como um cofre. Vota-se, e o partido guarda o voto, faz uma defesa do Estado social, da democracia. Mas não se espera uma alteração... Quem deixou de votar no Bloco e passou a votar PCP fêlo por estar zangado com o Bloco mas sem grandes expectativas em relação ao PCP».
Por ser domingo e sobretudo por não querer parecer paternalista em relação à pessoa em causa, não vou recordar que o BE nos seus primeiros anos andava a leste das preocupações de participação governativa e até proclamava vir «correr por fora»; não vou explicar aqui que, sem qualquer conformismo ou resignação minha, o problema da alternativa não é de há 3, 5 ou 10 anos, antes tem tantos anos como o regime democrático-constitucional; também não vou explicar que há um minúsculo problema chamado correlação de forças no plano político e eleitoral que, grande chato, por vezes não se deixa resolver nem com a maior audácia e criatividade política nem com golpes de imaginação nem com ansiedades compreensíveis mas pouco lúcidas e algo desesperadas; e também não vou lembrar que, entre tantos outros exemplos, desde 1947 até à sua dissolução no princípio dos anos 9o, o Partido Comunista Italiano, que chegou a obter 34% dos votos, nunca conseguiu participar no governo e certamente não foi por falta de puxarem pela cabeça mas mais por uma coisa que foi chamada de «conventio ad excludendum» e que, de forma mais sorrateira, também tem existido em Portugal.
Prefiro antes, com toda a cordialidade, vir aqui testemunhar em sentido favorável à ideia do «cofre» expendida por Ana Drago, confiando que toda a gente perceba a autoridade em que nesta mátéria estou investido. Assim:
1. O PCP tem, de facto, um cofre com os votos que recebe e posso até informar que ele se encontra na sala 507 da Soeiro Pereira Gomes;
2. Os votos que estão nesse cofre são semanalmente arejados até porque todas as segundas-feiras, no termo das suas reuniões, a Comissão Política se desloca em peso àquela sala para um momento de recolhimento em sinal de fidelidade aos compromissos eleitorais do Partido;
3. Todos os anos, em data próxima do aniversário do Partido, há uma visita guiada de militantes ao referido e ainda assim volumoso cofre dos votos.