e documentação dizem
Em artigo publicado no Expresso online intitulado «O bullying político a Rui Tavares» e que, à escala de 99%, não me interessa nada, Daniel Oliveira, a certa altura, postula o seguinte: «Todos os
partidos têm alguma necessidade alimentar o ódio ao dissidente para
manter unida a "tribo". Mas seria interessante o BE perceber que é hoje o
mais empenhado promotor da notoriedade do Livre. Até nisso, repete com
Rui Tavares o erro que o PCP cometeu com o Bloco, há 15 anos. O que não
deixa de ser irónico.»
Sobre a passagem sublinhada, creio que Daniel Oliveira ou está desmemoriado ou equivocado e, por isso, considero útil em certa medida, deixar aqui três observações essenciais:
- a primeira é que vir sublinhar qualquer suposta contribuição do PCP para a «notoriedade» do BE é um gesto de forte ingratidão retroactiva em relação ao estremoso e embevecido papel que a comunicação social teve nessa notoriedade;
- a segunda é que, tendo eu sido membro da Comissão Política do PCP durante os primeiros anos de existência do Bloco (e ainda posteriormente), o testemunho que posso dar é que, em termos de documentos dos órgãos de direcção do PCP ou discursos dos seus principais dirigentes, a começar pelos do Secretário-geral de então, o PCP foi particularmente discreto e comedido em relação ao BE;
- a segunda é que, tendo eu sido membro da Comissão Política do PCP durante os primeiros anos de existência do Bloco (e ainda posteriormente), o testemunho que posso dar é que, em termos de documentos dos órgãos de direcção do PCP ou discursos dos seus principais dirigentes, a começar pelos do Secretário-geral de então, o PCP foi particularmente discreto e comedido em relação ao BE;
- a terceira é que isto não quer dizer que, designadamente nas páginas do Avante!, com alguma frequência, eu próprio e outros dirigentes do PCP não tivessemos comentado e criticado declarações de dirigentes do BE mas, ponto importante, sempre em atitude de legítima defesa, como se pode ilustrar, entre muitos outros exemplos, por duas crónicas por mim assinadas no Avante! e que agora republico com sublinhados feitos neste momento:
Em 21.1.99
Começar mal
Por ocasião do lançamento, no último fim
de semana, da tentativa de mais uma experiência de agregação eleitoral na área
da UDP, do PSR e da Política XXI, alguns dirigentes do PSR e da UDP produziram
declarações relativas ao PCP que se arriscam a ficar como um lamentável indício
de qual poderá ser o seu verdadeiro desígnio eleitoral e dos tristes métodos
que se dispõem a usar para o atingir.
Com efeito, e só para citar algumas frases mais
significativas, Alberto Matos (UDP) invocou as «ambiguidades» do
PCP face ao PS e falou da «colagem do PCP ao Governo à espera de uns lugares». Luís Fazenda (UDP) referiu que o país
não precisa de «uma oposição que num dia
proteste e no dia seguinte esteja a tentar um negócio de poder», reclamando de seguida que «o PCP que se defina». E, para abreviar a lista, acrescente-se que Heitor de Sousa,
no Congresso do PSR, terá também acusado o PCP de ter uma posição de
compromisso com a política de direita assim induzindo uma postura conformista e
rotineira do movimento operário.
Deixando-nos
de punhos de renda, é caso para dizer que os autores destas declarações,
proclamam querer «começar de novo», mas começam é mal.
Porque começam por deturpar, falsificar e amesquinhar a
indiscutível realidade de que o PCP tem sido a grande força de oposição de
esquerda so Governo do PS, agindo em todos os planos da vida nacional com
rigorosa autonomia política e estratégica e desempenhando um papel
incontornável não apenas na defesa de interesses populares imediatos mas também
na luta por valores, por uma política e por um projecto alternativo de
esquerda.
Porque começam dando objectivamente continuidade à operação
lançada pelo PSD, e especialmente acarinhada pelo «Expresso», para apresentar o
PCP como «muleta do PS», precisamente para fazer esquecer que,
nesta legislatura e nas matérias fundamentais e decisivas, os grandes aliados
do PS têm sido o PSD e o PP.
Porque começam com o truque de, olhando o campo da esquerda,
precisarem de decretar que é um deserto para melhor se apresentarem a si
próprios como uma miragem do desejado oásis.
Em 13.07.2000
Lá
vai outra
Já
sabemos que Francisco Louçã pensará desta crónica o que já disse
de outras aqui publicadas : que «o
PCP reage com algum nervosismo, levando o «Avante!» a dedicar-nos
pequenas picardias que muito nos divertem, mas que não têm nenhuma
consistência no debate político nem têm futuro»
(«DN» de 20.5.2000).
Mas
não importa. Toda a gente sabe que F. Louçã é um autêntico
querubim na política nacional; que os responsáveis do Bloco não
perpetram «picardias» nenhumas sobre o PCP nos artigos que, batendo
o recorde nacional do proselitismo partidário em colunas de opinião,
escrevem no «Público», no «DN» e no «Expresso»; e que
continua em vigor o 11º mandamento segundo o qual acusações,
deturpações e insinuações de responsáveis do Bloco contra o PCP
são puro debate de ideias com imensa consistência e futuro, mas
qualquer resposta de dirigentes do PCP já é puro «ataque» ou
«sectarismo».
Mas já que tanto se divertem com as
tais «picardias», bem podem arrecadar hoje mais uma.
Que
consiste em anotar que os famosos «radicais» do Bloco são afinal
cultores do mais chocho formalismo parlamentar, como se voltou a
confirmar agora com a sua acusação de que a abstenção do PCP na
moção de (pretensa) censura do PP revelava «incapacidade
política de fazer escolhas».
Como se as aparências do tipo de voto fossem tudo e as razões e
argumentação políticas (expressas com clareza e vigor pelo
Presidente do Grupo Parlamentar do PCP) fossem nada. E, já agora,
como reagiria o Bloco se alguém dissesse que as suas abstenções na
AR revelavam «incapacidade
política de fazer escolhas»
?
Por
outro lado, é indecente que responsáveis do Bloco, muito para além
da valorização da sua contribuição específica, se dediquem
frequentemente a rasurar o que o PCP faz, chamem a seu mérito
exclusivo a abordagem de temas em que o PCP tem, e de há muito, uma
fortíssima intervenção, e falem como se, antes de se sentarem na
AR, nunca ninguém tenha tratado de toxicodependência, violência
contra as mulheres, imigrantes, reforma fiscal, etc. Ou então como
se o Bloco é que tivesse arrancado alguns desses assuntos ao que
Fernando Rosas chama «modorra
parlamentar»,
mas nós chamamos preconceito, força dos outros, silenciamento
mediático e... desatenção dos pré-bloquistas.