basta para se ver o tipo de
truques usados pela historiadora
No «cinco dias», Raquel Varela resolveu disponibilizar o capítulo do seu livro «O PCP na Revolução dos Cravos» referente ao 25 de Novembro. Por falta de tempo e de alguns materiais de consulta imediata, não é este o momento para demonstrar que esse texto de Raquel Varela está ensopado em truques indecentes que vão desde citações que propositadamente se ignoram, até outras que são propositadamente salteadas para criar inferências abusivas passando por linhas em que as palavras e caracterizações são da historiadora mas um leitor que não esteja vigilante às aspas ou à falta delas fica a pensar que são do PCP, e isto para já não falar nas constantes deduções que a autora debita sem qualquer apoio fundamentado.
Bastam duas afirmações de Raquel Varela para que muitos leitores percebam como é difícil e penoso discutir com pessoas que usam semelhantes métodos.
Em concreto, afirma Raquel Varela, invocando um editorial do Avante! de 30/11, que «neste texto, a direcção do partido dará inicio àquilo que será um volte-face perante a esquerda militar. O partido deixará de gerir a relação com este sector de forma cautelosa para passar a combatê-lo de forma pública e aberta [*]. Começa por acusar a esquerda militar de «irresponsabilidade»; "As sublevações espontâneas dos paraquedistas mostram a profundidade dos sentimentos de indignação contra métodos administrativos da direita. Ao mesmo tempo que manifesta a sua solidariedade para com os militares revolucionários e progressistas que lutaram e lutam ao lado do povo trabalhador, em defesa da revolução, o PCP atribui graves responsabilidades nos acontecimentos a certos partidos, grupos e sectores esquerdistas irresponsáveis que, julgando poder brincar-se as insurreições e à tomada do poder, comprometeram uma solução política pela qual o PCP se tem batido insistentemente e conduziram ao desastre alguns sectores militares». [não vá alguém fazer confusão, chamo a atenção para todo o texto com fundo branco é retirado das pags. 347 e 348 do livro de R.V.].
E, aqui chegados, façam os leitores o favor de ver se no texto a azul (do PCP) alguma vez encontram a expressão «esquerda militar» por duas vezes usada no texto a castanho (da autoria de Raquel Varela).
O segundo exemplo pode ser dado pela afirmação de Raquel Varela, agarrando-se como uma lapa à ausência de uma palavra, de que «em 1975 e 1976, o acontecimento não é considerado [pelo PCP] um golpe, mas sublevações militares de esquerda irresponsáveis».
Ora, se Raquel Varela fosse capaz de atender mais à substância e menos à forma devia ter reparado no que Álvaro Cunhal escreveu em «A Revolução Portuguesa - o passado e o futuro» (Nov. 1976) : « Na verdade, não houve da parte da Esquerda, nem golpe nem tentativa de tomada de poder. Numa situação caracterizada por gravíssimos conflitos e lutas nas forças armadas, o 25 de Novembro, com as sublevações militares dum lado e as operações cuidadosamente preparadas contra a Esquerda do outro, insere-se ainda no processo de contestação de comandos, por lugares de chefia, de alteração da influência política predominante nas unidades militares , a fim de provocar um desequilíbrio de forças e uma modificação nos órgãos de direcção. Se o 25 de Novembro prova alguma coisa acerca da preparação militar anterior para uma acção militar de âmbito nacional, não foi da parte da Esquerda militar (ainda menos do esquerdismo, reduzido à impotência da anarquia e da contestação) mas da parte de forças e sectores aliados contra a Esquerda militar».
Muitos mais exemplos se poderiam dar da ligeireza e má-fé de Raquel Varela (gravíssimo também que venha dizer que o PCP "apoiou" a "reposição da hierarquia nas Forças Armadas e o fim do MFA", como se não fosse um facto objectivo que a esquerda militar infelizmente saiu do 25 de Novembro praticamentemente destroçada, marginalizada e perseguida e como se fosse honesto transformar uma constatação óbvia num «apoio»). Mas, como já insinuei, há limites para a paciência.
[*] Bastaria os leitores recordarem-se de alguns dos nomes mais conhecidos da esquerda militar para saltar à vista como é totalmente absurda e infundada esta afirmação de R.V. de que o PCP passou a combater «de forma pública e aberta» a esquerda militar !
[*] Bastaria os leitores recordarem-se de alguns dos nomes mais conhecidos da esquerda militar para saltar à vista como é totalmente absurda e infundada esta afirmação de R.V. de que o PCP passou a combater «de forma pública e aberta» a esquerda militar !