falamos de "classe média" no Brasil ?
Numa altura em que, sem conta nem medida nem rigor, quase toda a gente passou a falar da «classe média» no Brasil e da sua ascensão, o blogue «a essência da pólvora» prestou o assinalável serviço público de publicar um gráfico do Wall Street Journal sobre a decomposição da população brasileira segundo escalões de rendimento.
Ora, eu próprio, há algum tempo quandio os jornais brasileiros fizeram manchetes anunciando que a classe média do país havia ultrapassado os 50% da população, já havia aqui chamado a atenção para que, sem ignorar as mudanças positivas verificadas, tanto os conceitos de pobreza como de «classe média» são relativos de país para país e que, para uma paridade de 1 euro = 2,9 reais, isso significava então no que no Brasil quem ganhar muito menos (1000 reais = 330 euros) que o salário mínimo português já está no topo da «classe média»ou mesmo na «classe alta». Aliás, bem me lembro que vai talvez para 20 anos que, quando o reputado jornalista brasileiro Caco Barcelos esteve em Portugal e deu uma entrevista ao Avante! muito estranhei eu a sua afirmação de que no Brasil havia 30% de ricos porque, para mim, tirando talvez o Brunei, não havia no mundo nenhum país com 30% de ricos. Esta afirmação era pois manifestamente uma decorrência dos critérios relativos usados no Brasil. E pronto mas já agora e no mesmo sentido sublinhado por «a essência da pólvora», talvez tantas referências à «classe média» brasileira» não nos devessem fazer esquecer que talvez 80% ou mais dela devem ser trabalhadores assalariados.