19 maio 2012

O caso "Público"-Miguel Relvas

O "centralismo" tout court



Na edição impressa de hoje do Público tudo o que os leitores podem aí encontrar sobre o caso «Público-Miguel Relvas» que ontem rebentou é o comunicado da direcção do jornal sobre o assunto.

Embora a razão deste post seja outra, não quero deixar de mencionar que a direcção do jornal avalizou uma determinada versão do que aconteceu ao incluir no seu comunicado a seguinte passagem : «
Num telefonema à editora de política do jornal, na quarta-feira, Miguel Relvas ameaçou fazer um blackout noticioso do Governo contra o jornal e divulgar detalhes da vida privada da jornalista Maria José Oliveira, de quem tinha recebido nesses dias um conjunto de perguntas relativas a contradições nas declarações que prestara, no dia anterior, na Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias.»

Entretanto, o que me ocupa agora é a circunstância decorrente de que assim os leitores do Público não tiveram direito a ter acesso ao comunicado do Conselho de Redacção do jornal nem, por exemplo, ao comunicado do Sindicato dos Jornalistas (que até estão disponíveis por toda a parte).

Este critério ou atitude da direcção do jornal não me causa a menor surpresa. Já há imensos anos, no quadro de uma polémica muito conhecida sobre o alegadamente nefando «centralismo democrático» do PCP, eu observava que «centralismo» tout court (isto é, sem o adjectivo «democrático») era o que mais havia em diversas esferas da sociedade portuguesa, a começar desde logo, e porventura em caso de recorde nacional, na comunicação social.

Talvez os leitores mais novos não acreditem mas há 20 anos, pelas paragens do Público e de outros órgãos de comunicação social, em nome de uma famosa «transparência», até se sustentava que as reuniões do Comité Central do PCP deviam ser abertas aos órgãos de informação.

E, em resposta, eu sempre sustentei que, se caíssemos nessa demagogia barata da transparência total, então teríamos de começar pela comunicação social porque, em boa verdade, de há muito que ela influencia muito mais o curso da vida política nacional do que os partidos.

Pois é, agora nem os leitores nem os os jornalistas do Público puderam ler nas páginas do seu jornal o comunicado do eleito Conselho de Redacção do jornal.  Como teria dito o manhoso de Santa Comba Dão, «está tudo bem assim e não podia ser de outra maneira».

Porque hoje é sábado ( 272 )

Soledad Vélez 



A sugestão musical de hoje traz-vos
 a chilena Soledad Vélez que acaba
de publicar o seu primeiro álbum intitulado
Wild Fishing.





18 maio 2012

O homem do dia

Mais esplendores do Relvas*...
(*direitos de autor, salvo erro, de Clara Ferreira Alves)






Público online

(extraído de aqui )

E, deixando de parte a questão de saber se o poderoso Ministro sabe o que é a esquizofrenia, bem vistas as coisas nada tenho a acrescentar a não ser que, sem o saber, Miguel Relvas chamou «esquizofrénico» ao seu próprio governo que se caracteriza, designadamente ao nível das suas «contra-reformas» pelo recurso doentio às «velhas fórmulas e velhas receitas».


.... e agora não é esquizofrenia,
é pura falta de vergonha na cara


É que, sem excluir responsabilidades dos governos seguintes do PS, Miguel Relvas se esqueceu apenas de quem promoveu o nascimento legal da coisa.
(...)

(...)

... por fim, um dia em cheio





A campanha dos Republicanos contra as mulheres

Vale a pena ler e saber


aqui


e também aqui sobre outro tema



Grécia país «recente» ou...

[ver Adenda de ontem ao post «Ainda o «Manifesto para...»]

... os novos concertos
para violino de Chopin




Embora não disponha dos vídeos comprovativos, juro que a minha alma ficou parva quando na «Prova dos Nove» da TVI24 de 17 de Maio, ouvi e vi Pedro Santana Lopes, com um ar algo petulante e sobranceiro, a referir-se à Grécia como um «país recente», até porque fez parte longamente do Império Otomano, com o óbvio intuito de se deduzir que naquele país seria fraco o sentimento nacional.

Por acaso ou talvez não, logo no último «Quadratura do Círculo», Pacheco Pereira com patente desprezo intelectual e justo fastio se encarregou, sem identificar Santana Lopes, de ridicularizar os que parecem não saber que a Grécia tem milénios de história. que a ocupação otomana de quase cinco séculos (conquistou a independência em 1823) não anulou a existência permanente de comunidades gregas unidas, para além do mais, pelo factor religioso e que a Grécia é, sem dúvida, um dos países europeus de mais arreigado sentimento nacional.

Vá lá, Pedro Santana Lopes, «un petit effort», até há uma coisa chamada Wikipédia.


P.S.: Por aqui fico também a saber isto:



17 maio 2012

E agora a mezzo-soprano

Alicia Hall Moran




Um ano sob a pata das «troikas» (a nacional e a estrangeira)

Tempo de balanço... e de memória




«(...) É pois legítimo concluir que a teimosia doentia em prosseguir este caminho não é ditada pela motivação da melhoria económica e financeira do país, mas encarada como uma oportunidade de vingança de natureza marcadamente ideológica. De desregulamentação do mercado de trabalho, de consideração do desemprego como uma realidade estrutural "natural" e inelutável, de depreciação da força de trabalho assimilando-a a uma qualquer mercadoria dependente do jogo da oferta e da procura, de fragilização dos sindicatos,, de eliminação tendencial dos sistemas públicos de e gerais de saúde e segurança social. Impondo uma efectiva regressão social.(...)» (Octávio Teixeira, em depoimento hoje ao Público)

E agora, contra a amnésia e o preconceito,
recomenda-se a leitura do comunicado do
PCP datado de 5 Maio de 2011

texto e vídeo aqui


16 maio 2012

Fim de dia com a contrabaixista americana

Marlene Rosenberg



 Thus and So

O desastre do IVA a 23%

Agostinho Lopes hoje na AR


texto aqui.

Ainda o «Manifesto para uma Esquerda Livre»

Um péssimo ponto de partida




Ao ler a lista das pessoas que já subscreveram o «Manifesto para Uma Esquerda Livre», várias das quais aliás minhas amigas, sinto a necessidade de, depois deste breve comentário, voltar ao assunto. Assim:



Começo por formular o voto de que os autores e subscritores do Manifesto interiorizem e exteriorizem bem a ideia de quem assina manifestos públicos com este conteúdo e formulações, perante os comentários críticos que este receba, ultrapassem a tendência que há em todos nós para o melindre, a susceptibilidade e a irritação. E que tenham o «fair-play» de perceber que se podem escrever indirectamente que eu pertenço a uma esquerda da «inconsequência» então eu também tenho direito de lhes responder pelo menos com palavras tão directas e fortes como as que usaram.

Para o caso de poder haver dúvidas, esclareço que nada do que eu escreva sobre o citado Manifesto colide com a minha convicção de que, na sua imensa maioria, os seus subscritores são cidadãos em regra movidos por preocupações respeitáveis e intenções generosas e que se deve contar com a sua contribuição na complexa, árdua e muito difícil (não sei é se todos terão consciência da justeza destes adjectivos) luta pela   consolidação de uma política alternativa e construção de uma alternativa política à esquerda.

Devo agora acrescentar que o meu ponto não está nas iniciativas que tencionam anunciar ou nas propostas sobre os problemas nacionais que venham a apresentar mas sim, e para já exclusivamente, no teor do Manifesto que apresentaram e no que ele revela sobre os caboucos doutrinais ou conceptuais desta iniciativa política. Simplificando, creio que em boa verdade este conjunto de cidadãos podia ter escrito ou assinado um manifesto que simplesmente anunciasse um desejo de participação cidadã em torno de diversas causas ou temas ou como contribuição para fortalecer o movimento de luta, intervenção e de proposta já existente. Mas não foi isso que aconteceu pois os autores do Manifesto escolheram para matriz fundacional deste seu projecto um espécie de forçada terraplanagem do que já existe e se move à esquerda (releia-se aqui uma recente afirmação de um dos autores do Manifesto), ideia que percorre todo o manifesto, desde logo a começar o título que comporta a ideia de que há uma «esquerda» que não é livre. E, neste quadro, no Manifesto tudo valeu: desde a amálgama absurda e nada séria que  o «esquerda» no singular induz até à ideia de que até hoje ainda ninguém à esquerda apresentou «alternativas concretas e decisivas para romper com a austeridade e sair da crise» passando por um tacticismo que leva a furtar, com infinita caridade, o PS às suas enormes responsabilidades. Ironia da história é que quem tanto diferente do que há quer ser, tirando isto, quase tudo o que escreve no Manifesto  de natureza vagamente programática parece escolarmente copiado dos discursos do PCP, do BE e de algumas personalidades do PS. Os autores deste Manifesto até podem vir a querer que os seus termos concretos sejam rapidamente esquecidos e até podem desejar pôr rapidamente a tónica principal na mobilização de cidadania ou nas iniciativas que almejam promover. Mas, desculpem lá, o Manifesto existe, por alguma razão foi escrito da maneira que foi e ninguém se pode queixar que olhares e pensamentos exteriores à iniciativa o vejam como uma espécie de papel de tournesol.


Chamando sempre a atenção para o texto sublinhado no início ponto anterior, devo agora acrescentar que não me causa admiração que tantas e por vezes tão ilustres personalidades possam ter subscrito um Manifesto com semelhante conteúdo e formulações. Bem pelo contrário considero que essa atitude, que não reputo de sinal positivo e de que já havia indícios anteriores, é um sintoma dos conturbados e interpelantes tempos que vivemos e revela um entrecruzamento das sequelas da crise em curso com processos de alterações nos sistemas de valores, referências ou afinidades político-ideológicas. Embora isso esteja longe de esgotar a questão, o que acontece é que, em geral, os signatários de um Manifesto com este teor ou são membros ou simpatizantes de um partido à esquerda da direita e estão descontentes com a sua orientação actual ou são independentes que, em rigor, não se reconhecem ou sentem representados pelo PS, pelo PCP e pelo BE e que, em diversos momentos e situações, são muito cativáveis para ou sensíveis a apelos genéricos a uma «unidade das esquerdas» (incluindo o PS) que saltam por cima de muita coisa, ou seja e sem ofensa, assentam numa espécie de amnésia e perdões de conveniência que creio ser fruto de uma grande dificuldade intelectual e política em lidar com a complexidade, incerteza e aspereza que,  a meu ver marca a questão da alternativa de esquerda em Portugal. 

Nestas circunstâncias, se é essa a sua atitude ou sentimento, para além da sua sempre bem-vinda intervenção em causas e lutas de diversa natureza, creio honestamente que o caminho coerente que devem percorrer é ou lutarem democraticamente dentro dos seus partidos pela correcção das suas orientações ou, se mantêm a assumida diferenciação com as esquerdas que há e que está bem expressa no Manifesto, no caso de serem independentes deitarem mãos  à obra da construção de forças políticas isentas dos defeitos ou erros das já existentes o que introduz apenas o «pequeno problema» de conseguirem um mínimo de agregação político-ideológica.

Por fim, só dizer que, sem dúvida que, por todas as razões e mais algumas, precisamos em Portugal da mais vasta agregação e convergência à esquerda de múltiplas e diversificadas  contribuições, patrimónios e capacidades de luta e de proposta. Mas, dizendo isto, tenho também de dizer, por dever de sinceridade e de lealdade, que o texto do Manifesto, desejava que fosse por infelicidade momentânea, em nada serve esta necessidade e aspiração.

Adenda em 17/5:
Relativamente á apresentação pública hoje ocorrida do «Manifesto», refere o Público online:
(...)
Depois do que já escrevi sobre o assunto (até aqui sem resposta digna de nota) só quero acrescentar agora:

- quanto à afirmação do estimado José Vítor Malheiros, só quero recomendar que antes de começarem a obrigar os partidos «a tomar posição», pelo menos quanto ao PCP, talvez convenha consultarem o seu sítio não vá dar-se o caso de o interpelarem sobre coisas sobre as quais está farto de se pronunciar;

- quanto à afirmação de Rui Tavares de que «dentro dos partidos não há democracia», só quero lembrar-lhe a evidência facilmente demonstrável de que, quanto mais informal ou inorgânico for um movimento, menos democracia e prestação de contas há nele e mais os verdadeiros poderes de decisão estão concentrados num vúcleo muito restrito de pessoas.

Dito isto, agora vou ali à ervanária para ver se também há chá contra a arrogância porque tenho umas prendas dessas para dar.