09 outubro 2011

Até ao último minuto

Jardim e a sua
«querença natural»


No Público online pode ler-se mais esta maravilha sobre a «democracia» madeirense :

presidente do governo regional da Madeira, Alberto João Jardim, considerou “normal” o transporte de eleitores em viaturas de organismo públicos, acompanhados por autarcas sociais-democratas. “Aqui foi sempre assim”, reconheceu o também líder do PSD, justificando esta disponibilidade com a dispersão populacional.
E na edição impressa do Público pode ler-se que funcionários regionais começaram às 22 hs (!!!) de sexta-feira a retirar das ruas toda a propaganda dos partidos alegadamente por causa do «dia de reflexão». Ora acontece que, nunca em Portugal, desde as primeiras eleições livres, o respeito pelo «dia de reflexão» (e pelo dia de votação) implicou a retirada da propaganda afixada, salvo aquela que está colocada a uma distância das assembleias de voto que está fixada na lei.

A este último aspecto, a maioria dos cidadãos já encolherá os ombros por cansaço e desfastio. Mas, à beira do encerramento das urnas,  eu faço questão de, para usar linguagem tauromáquica e bovina que mais estes dois aspectos ilegais e arbitrários fazem parte da «querença natural» de Alberto João Jardim.

Para começar o seu domingo

Sete canções dos Ladytron

THE NEW ALBUM OF THE BAND OF LIVERPOOL 

08 outubro 2011

Quem os viu e quem os vê

Com direito a foto, ora toma !


No «cinco dias», Nuno Ramos de Almeida assinou ontem um post cuja parte essencial considero merecer a maior divulgação. Reza assim: «(...)Há dias tive o privilégio de ouvir na rádio o professor Augusto Mateus, ministro da Economia de António Guterres, a falar sobre a reforma do Sistema Nacional de Saúde. O especialista que justificou a construção do Aeroporto de Beja, em estudo pago no tempo do governo Sócrates, para ser utilizado como plataforma para distribuição de géneros frescos, vem propor uma medida salvífica para a saúde. Os médicos devem ser responsabilizados pelos meios de diagnóstico que pedem e, eventualmente, ganhar à percentagem das poupanças que induzem. Em vez de começarem “a inventar” e pedir TACs para doentes que parecem ter cancro, passam a fazer contas ao preço das coisas e só marcam esses exames caros se tiverem uma certeza absoluta. Uma decisão que se espera temperada com o prémio que vão perder. Os doentes mortos seriam uma espécie de vítimas colaterais nesta guerra virtuosa para cortar nas despesas do SNS. Para os génios que nos trouxeram até aqui, os valores da preservação da vida humana, o acesso igualitário aos cuidados de saúde e até o preço social a pagar pelas vítimas dessa medida são um pequeno preço para ter uma saúde como a economia neoliberal manda.»

O post de N.R.A., como se pode ver, diz o essencial e até acaba por ser relativamente sereno e elegante. Mas eu, num caso destes e estando em causa quem está, ou seja Augusto Mateus, não me apetece ser sereno nem elegante. E, por isso, só acrescento duas coisas:

- a primeira, com a expressa ressalva de que isto não envolve nernhuma generalização sobre pessoas, é que, sendo correcta a descrição de NRA, dói e indigna sempre mais especialmente ver barbaridades destas  a ser debitadas  por pessoas extraordináriamente «radicais» e «revolucionárias» nos idos de 1973/74/75, em relação a algumas das quais não esqueço o tempo, as palavras e a energia que me fizeram perder em discussões e debates em que me tomavam e tratavam como  um «reformista» ou «revisionista»;

- a segunda é que estou certo, e é isso que é humanamente compreensível, que o Prof. Augusto Mateus, ao primeiro susto ou suspeita, irá ao privado fazer e pagar o TAC que o tranquilize (assim o desejo).

06 outubro 2011

Prémio Nobel da Literatura


Um poema de
Tomas Tranströmer

The Indoors is Endless

It's a Spring in 1827, Beethoven
hoists his death-mask and sails off.

The grindstones are turning in Europe’s windmills.
The wild geese are flying northwards.

Here is the north, here is Stockholm
swimming palaces and hovels.

The logs in the royal fireplace
collapse from Attention to At Ease.

Peace prevails, vaccine and potatoes,
but the city wells breathe heavily.

Privy barrels in sedan chairs like paschas
are carried by night over the North Bridge.

The cobblestones make them stagger
mamselles loafers gentlemen.

Implacably still, the sign-board
with the smoking blackamoor.

So many islands, so much rowing
with invisible oars against the current!

The channels open up, April May
and sweet honey dribbling June.

The heat reaches islands far out.
The village doors are open, except one.

The snake-clock’s pointer licks the silence.
The rock slopes glow with geology’s patience.

It happened like this, or almost.
It is an obscure family tale

about Erik, done down by a curse
disabled by a bullet through the soul.

He went to town, met an enemy
and sailed home sick and grey.

Keeps to his bed all that summer.
The tools on the wall are in mourning.

He lies awake, hears the woolly flutter
of night moths, his moonlight comrades.

His strength ebbs out, he pushes in vain
against the iron-bound tomorrow.

And the God of the depths cries out of the depths
‘Deliver me! Deliver yourself!’

All the surface action turns inwards.
He’s taken apart, put together.

The wind rises and the wild rose bushes
catch on the fleeing light.

The future opens, he looks into
the self-rotating kaleidoscope

sees indistinct fluttering faces
family faces not yet born.

By mistake his gaze strikes me
as I walk around here in Washington

among grandiose houses where only   
every second column bears weight.

White buildings in crematorium style
where the dream of the poor turns to ash.

The gentle downward slope gets steeper
and imperceptibly becomes an abyss.

Não vão ao médico, não

Mais ils sont fous ces troikistes !

Na SIC online

No DN

Gitarrista escocês faleceu ontem

In memoriam de Bert Jansch



05 outubro 2011

Coisas de farsantes


Como apagar incêndios com gasolina


Cavaco Silva num dos seus célebres «alertas»

Como estava anunciado, o Presidente de Honra das troikas (a estrangeira e a nacional), perdão, o Presidente da República Aníbal Cavaco Silva discursou no 5 de Outubro e, enfático, disse (sublinhados meus):
«Acabaram os tempos de ilusões. Temos um longo e árduo caminho a percorrer, para o qual quero alertar os Portugueses de uma forma muito directa: a disciplina orçamental será dura e inevitável, mas se não existirem, a curto prazo, sinais de recuperação económica, poder-se-á perder a oportunidade criada pelo programa de assistência financeira que subscrevemos.

A par do inevitável saneamento das contas públicas, tem de existir revitalização do tecido produtivo nacional, investimento privado, combate ao desemprego, aumento da produtividade e da produção de bens e serviços capazes de concorrer nos mercados externos. Se tal não ocorrer, os desequilíbrios financeiros terão uma correcção meramente temporária e estaremos de novo colocados na contingência de recorrer à ajuda externa, a qual, a acontecer, se irá processar em condições ainda mais gravosas para os Portugueses(...).»

Sei que outros tem usado este truque em intervalos das vezes em que reconhecem as consequências inevitavelemnete recessivas do acordo com a troika e das medidas de austeridade. Mas, parvo que sou, esperava eu que, ao menos o Presidente da República, que, como se sabe por demais, cultiva a imagem de economista distinto, não viesse dizer aos portugueses ser necessário que aconteça tudo aquilo que o seu tão gabado e amado acordo com a troika afecta, prejudica e compromete.

Pelos vistos, vale tudo até tirar olhos. A partir de hoje, ficamos a saber, pela voz do mais alto magistrado da nação, que para combater incêncios não há nada melhor do que despejar-lhes gasolina em cima.