Miguel Sousa Tavares
no último «Expresso»
«O problema do pensamento único imposto a tudo o que respeita à guerra na Ucrânia — incluindo a informação reportada e a que é escamoteada, a unilateralidade da cobertura da guerra e a falta de contraditório de cada vez que há alguém importante à frente de um microfone — é que ele não apenas distorce necessariamente a verdade dos factos, em Lisboa como em Moscovo, como também pode prestar um mau serviço à causa que se quer servir. Vou dar apenas dois exemplos.
Em Mariupol, na fábrica Azovstal, durante dois meses relatou-se que 2 mil civis estavam encurralados dentro das instalações porque os russos, que cercavam a fábrica, impediam a sua saída em segurança — o que estes negavam. Mas bastou que António Guterres fosse a Moscovo falar com Putin e a seguir mandasse uma delegação da ONU a Mariupol e, em dois dias, todos os civis saíram em segurança para a Ucrânia. Afinal, e como era fácil de adivinhar, estavam, sim, reféns dos combatentes ucranianos do Batalhão Azov, entrincheirados dentro da fábrica e que só os deixavam sair utilizando-os como escudos, para não terem de se render aos russos. Agora a cena repetiu-se com as toneladas de cereais ucranianos retidos no porto de Odessa, porque, segundo os relatos do lado ucraniano e “nosso”, os russos não os deixavam exportar, “utilizando a fome como arma de guerra” — coisa que, como garantiu um exaltado político ocidental, decerto absolutamente ignorante de História, nunca antes tinha sido vista. Mas bastou que a ONU entrasse mais uma vez em cena, que os turcos se oferecessem como mediadores e que todas as partes garantissem aos russos que os navios que irão buscar os cereais não levarão na ida armas para os ucranianos para um acordo estar iminente. Afinal, os russos negoceiam, mesmo que o acordo apenas interesse à Ucrânia e mesmo que, entretanto, a brava Lituânia, invocando as sanções europeias à Rússia, tenha ameaçado pôr tudo em causa, boicotando a passagem pelo seu território de mercadorias provenientes da Rússia para o seu enclave de Kaliningrado — ou seja, da Rússia para… a Rússia!»
Em ambos os casos, no mínimo, perdeu-se tempo e acumularam-se danos, não resolvendo situações que se poderiam ter resolvido antes se a prioridade não fosse fazer passar por verdade a propaganda que interessava.
Em minutos o facebook "escondeu" esta publicação alegando infringir as normas da comunidade, classificando-a como spam, publicidade enganosa, fraude ou falha de segurança. Da primeira vez partilhei a partir dum blog que (ainda) não está na lista negra do FB, da segunda a partir do próprio site do Expresso. Está a ser cada vez mais frequente esta "censura" do FB, contra a qual cada vez mais pouco se pode fazer. Pois, publicar "imagens" ainda consegue tornear os algoritmos.
ResponderEliminarTambém, vi há pouco tempo o condenado e mercenário britânico Aiden Aslen, cantar o hino da Rússia. Por muito que tentasse, estava ali um ex-mercenário.
ResponderEliminarMiguel Sousa Tavares pode tentar tudo e até no seu melhor latim. No entanto, o pior da sua carreira já foi demonstrado, ao serviço dos seus patrões e sempre contra a classe trabalhadora. Vimos também o modo como tratou Vasco Gonçalves numa entrevista quando o 25 de Abril fez 20 anos. Por isso, estas suas palavras até podem mostrar alguma diferença de opinião, mas não convencem.