25 novembro 2020

Há 45 anos

 Três notas à volta 
do 25 de Novembro


O «Público» de hoje confere importante destaque a um trabalho da historiadora Irene Flunser Pimentel sobre o 25 de Novembro que é no essencial uma útil e bem selecionada cronologia(*) de acontecimentos.
Esse texto suscita-me porém  três observações ou correções. Com efeito, afirma I.F.P.:

Lido  isto, venho esclarecer que    nunca, jamais em tempo algum, o PCP reclamou a dissolução da Assembleia Constituinte.  

Escreve I.F.P.:
Lido isto, venho esclarecer que o PCP não «criou» nenhuma FUP, participou sim na criação da FUR (Frente de Unidade Revolucionária) ligada à convocação de uma manifestação em Belém. Como modesto participante desse episódio posso testemunhar que a iniciativa da reunião no Centro de Sociologia Militar que deu origem à FUR não foi do PCP mas sim dos militares do Copcon (arrastando alguns oficiais da esquerda militar) e do PRP de Isabel do Carmo e Carlos Antunes.

Refere I.F. P. :



Lido isto, embora o sentido geral da frase esteja correcto, o que venho salientar é que o que Melo Antunes realmente disse foi que «o PCP é essencial à construção do socialismo» (video aqui). E, a meu ver, a insistente substituição da palavra «socialismo» por «democracia» oculta o significativo facto de naquela época a linguagem ou a semântica estarem muito mais à esquerda do que a realidade.

(*) Infelizmente a cronologia não abrange um aspecto muito importante e revelador : a saber, a data muito antecipada em que os "vencedores" do 25 de Novembro começaram a preparar o seu plano de operações militares.

(Ver esclarecimento de Irene Pimentel na caixa de comentários )               

13 comentários:

  1. Agradeço as correcções algumas das quais confirmo, pelo que vou fazer uma errata. De qualquer forma, os erros factuais não alteram em nada o meu propósito neste artigo. Este não é uma simples cronologia: é uma escolha de factos da minha parte que penso poderem esclarecer o que se passou em 25/11. Tive acesso a 9.000 caracteres, quando tinha escrito o triplo pelo menos e tive de "cortei" vários excertos: por exemplo, a reunião realizada em casa do meu querido amigo, já falecido, Nuno Brederode Santos, com Cunhal e creio que Melo Antunes. Também tive de eliminar muitos antecedentes, relativamente aos quais tive que proceder a uma escolha.
    Dito isto:
    1- Vou reler a minha fonte sobre a reivindicação pelo PCP da Constituinte (pode estar demasiado telegráfica – foi a via que encontrei para abordar muitos factos em pouco espaço - e talvez por isso induza em erro. Tenho de confirmar
    2- O grande erro da minha parte está aqui: com os cortes que fiz surge o PCP a criar a FUP, quando criou a FUR, ou participou na criação da mesma com outros forças políticas da chamada esquerda radical ou extrema-esquerda. A FUR segundo penso terá durado só uns dias e depois as outras forças, sem o PCP, criaram a FUP-
    3. Melo Antunes refere a palavra «socialismo» de facto, mas penso que também se referia à democracia, e para o meu objectivo, não o citei (por isso não coloquei entre comas o que disse), e preferi - foi de facto minha intenção - alterar essa palavra que à época era utilizada até pelo PPD e que motiva ainda hoje erros e apropriações indevidas. Penso que não estou a desvirtuar o sentido que Melo Antunes pretendeu dar. 0Sou historiadora e num livro de história, tê-lo-ia citado. De qualquer forma não modifica de forma nenhuma o que pretendi dizer.

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    1. Cara Irene Pimentel:
      Agradeço sinceramente as suas palavras e esclarecimentos.
      Sim, como diz, o PCP só esteve na FUR uns poucos dias, até à manifestação em Belém.
      Eu devia ter valorizado mais a sua «cronologia» porque de facto contextualiza bem o 25 de Novembro. Vou emendar.
      Quanto è frase do Melo Antunes confesso que prefiro sempre a original pela razão a que aludo no meu post.
      Votos de bom trabalho,
      Vítor Dias

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  2. Excelente o seu texto e crítica ao artigo do jornal «Público».
    Para quando uma investigação, sobre data antecipada em que os "vencedores" do 25 de Novembro começaram a preparar o seu plano de operações militares»?
    E já agora, para quando um estudo e investigação sobre o processo e os militares que foram presos, após o 25 de Novembro?

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  3. Seria também interessante recuperar a pista sobre o documento que estava a ser redigido de convergência entre a 'esquerda militar' (não me refiro aos 'otelistas') e o 'grupo dos nove'. Que circunstâncias levaram a que esse entendimento não se tivesse chegado a concretizar dada a ocorrência do 25 de Novembro?
    Também não costuma ser referido que, durante os acontecimentos, os fuzileiros navais atravessaram a ponte e foram para Belém proteger e salvaguardar a liberdade de atuação do Presidente da República.
    Há apontamentos que costumam ser esquecidos.

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  4. Quando se escreve sobre a história é quase sempre assim. Gostei dos teus comentários (alguns tiveram a eficácia de uma adenda da Irene Pimentel no fim da versão online do artigo) e não me surpreendeu que Irene Pimentel tenha preferido democracia a socialismo. Saúdo-te também pela tua contenção, pois sabemos todos que uma outra possível cronologia pode por em destaque uma outra história muito mais interessante da recomposição dos blocos políticos com uma grande Fonte Luminosa pelo meio. De qualquer modo, acho bem que a política olhe para a história não se tentando confundir com ela. Parabéns pelo teu trabalho neste blog de referência.

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  5. A história numa conversa civilizada. Obrigado !

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  6. Volto ao assunto, Vitor Dias, para lhe pedir um esclarecimento. Estou a ler muitas memórias e livros de militares (derrotados e viroriosos em 25/11) e apercebi-me que há uma enorme confusão sobre a FUR e a FUP (até porque parece ter havido duas FUP, umas das quais, a final, apenas do PRP. Claro que vou rever as fontes, mas também eu - de memória - tinha a ideia da criação da FUR, primeiro, também pelo PCP, e com a saída deste, da criação da FUP por partidos e grupos de extrema-esquerda (nem todos). É assim? Obrigada

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    1. Irene Pimentel:
      Não lhe disse em ocasião anterior mas a verdade é que para mim
      a criação de uma FUP é uma ideia completamente estranha à minha memória.
      Temo que seja confusão com a criação muito posterior ao 25 de Novembro de uma entidade chamada salvo erro OUT (Organização Unitária dos Trabalhadores) criada pelo tandem PRP/Otelo.
      É preciso ter em conta que após a saída do PCP a FUR continua muitos meses e o MDP/CDE manteve-se lá (representado por mim), ainda que em boa verdade mais para evitar disparates aventureiros do que para outra coisa.
      Portanto nesse período não há a criação de nenhuma FUP.
      É o meu testemunho, falível claro pela erosão do tempo.
      Saudações cordiais.

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    2. Ó ex-prima .Reveja as suas fontes. FUR sim, FUP não.Estive numa reunião q coordenei com representantes da FUR no Centro de Sociologia Militar para consensualizar "palavras de ordem" numa manifestação da FUR...Não foi nada fácil, Valeu-me o Barros...filho de Henrique de Barros ,militante do MES, com grande capacidade de diálogo.Sobre o 25 de Novembro ler o meu livrinho feito à pressa mas que hoje e ontem...muito escrevo na mina pág do FB...a verdade a que temos direito, Claro que Vitor Dias não fala do acordo de Vladivostok/Nov-1974...entre Brejnev e Ford. Se tivesse sido publicitado ter se ia evitado muito anti comunismo em 1975

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  7. Não houve FUP nenhuma. Sim a FUR continuou a existir mesmo depois da saída do PCP. Devo dizer que sem relevância nenhuma. Tive uma reunião com representantes da FUR no Centro de Sociologia Militar para acertar palavras de ordem para uma manifestação. Mas a minha "ex-prima" Irene Pimentel devia ter mais cuidado com as fontes que escolhe ou tem escolhido. Uma procura da verdade deve ser mais consistente e ampla. Debitar só factos e esquecer contextos ou não os referir,omitir, é manipular. Lamento e ela sabe isso.MDC.

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  8. Não reparei que estes diálogos,a meu ver positivos,são de há um ano. Andei minutos à procura do artigo no Publico -recentes- e nada. Gostava de ler esse artigo e a "estória" de IFPimentel.

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