01 junho 2017

1938-2017

Armando da Silva Carvalho :
cala-se a voz, ficam
belíssimos poemas


POEMA QUE FOI CURTO
Num poema curto a corrente do sangue corria
como um planeta levando no dorsal
a filosofia pública da hora,
e a luz nua e directa incidia sobre o corpo,
real, absoluta.

Hoje o poema teima sempre em ser maior,
e a história, o tempo, a memória e o verso porque é velho,
ocultam-lhe a idade nas curvas irreconhecíveis
dum vulto.
É sempre cada vez mais longa a maratona,
e as insistentes palavras
parecem desistir enquanto avançam.

in «A Sombra do Mar» 
(Assírio & Alvim)

Varanda de Pilatos

Não há tempo. Há o espaço. O sol e as nossas voltas.
Os bocejos da lua, o clã dos astros.
Os buracos negros.
Ó mãe! Para onde foram os seres vivos de ainda
Há pouco em todo o seu esplendor?
Mortos como tu, a natureza recebe-os.
A Terra, essa criança atroz, destrói os seus brinquedos
Numa rotina mecânica.
Quantas noites me faltam? Quantos beijos no escuro?
Quanta luz me cabe ainda nas pupilas?
Os anos não me matam, não me ferem os meses,
As horas não me guilhotinam.
As células vão ardendo nos seus mapas
De nervos, o sangue demora sempre mais um pouco
A chegar ao seu destino orgânico.
Devagar, devagar, a cabeça amolece.
Devagar no colo do sono.
Ó mãe. Um ninho. Uma cama macia no teu ventre.
Uma exposição de sinais. Uma geometria
Que me liga ao saber acumulado. 

 in 'Sol a Sol'

31 maio 2017

30 maio 2017

Sobre as mudanças nas leis eleitorais mas...

... guardando
a artilharia pesada

Parece que, por falta de melhor assunto, o PSD nas suas Jornadas Parlamentares decidiu repescar as ideias da redução do número de deputados e do voto preferencial. Como, por agora, não falaram nos famigerados círculos uninominais (sejam eles de candidatura ou de eleição), não vou hoje buscar aqui a uma estante a artilharia pesada que, desde há mais de 20 anos, tenho guardada para quando, e se, a batalha for a sério.

Mas como estas duas propostas do PSD deram logo origem a fórum da TSF onde se ouviram muitas das inanidades, superficialidades e sofismas do costume, não quero deixar de observar o seguinte:

Quanto à redução do número de deputados é bom que se saiba (é só ver o que aconteceu quando o seu número desceu de 250 para 230) que esta nunca afecta por igual todos os partidos mas sim, de forma mais acentuada e gravosa, os mais pequenos por causa dos efeitos do método de Hondt quando aplicado, como é o nosso caso, à escala de 18 distritos, 2 círculos de emigração e 2 Regiões Autónomas.

Já quanto ao chamado «voto preferencial» permito-me apenas reproduzir na íntegra o post que publiquei aqui em 20 de Outubro de 2014. Rezava assim: 

 
 
 

26 maio 2017

As célebres «ordonnances»

Saiba como Macron
pretende governar


[ não, as «ordonances» não são ao mesma coisa que o recurso ao famigerado 49-3 da Constituição francesa. Enquanto o recurso à alínea deste artigo, permite ao governo passar completamente por cima da Assembleia Nacional, com a única consequência de poder ter de suportar uma moção de censura, já o governar por «ordonnances» consiste em obter da Assembleia uma autorização legislativa para poder governar por decreto até em matérias da competência da Assembleia.]

A revista «Politis» explica a coisa:


 (clicar para aumentar)

25 maio 2017

É a CNN que o diz

Trump: o Robin dos
Bosques ao contrário



Orçamento de Trump: grandes presentes
para os ricos, grandes cortes para os pobres

«He would give a lot more money to the defense industry and wealthy taxpayers, and he would pay for that with an unprecedented slashing of safety net programs for America's poor.
It's a "tanks and tax cuts" budget.
Mick Mulvaney, Trump's budget director, spelled it out clearly for reporters on Monday. The largest savings in the budget come from these items:
1. Cuts to Medicaid (Over $600 billion in the next decade) 
2. Cuts to food stamps, known as SNAP ($193 billion over 10 years) 
3. Cuts to student loans ($143 billion over 10 years) 
4. Cuts to federal worker retirement programs ($63 billion over 10 years)
Mulvaney probably should have added a fifth bullet: Disability programs also get a massive haircut.
Advocates for the poor are stunned at the magnitude of the cuts.It's a "reverse Robin Hood agenda," says the Center on Budget and Policy Priorities, a left-leaning think tank that is one of the top voices for low-income Americans in Washington.»

mais aqui e

aqui em «The Nation»