23 dezembro 2012

O cronista clown (sem ofensa para a profissão)

Mais uma do eremita rezingão


Na sua crónica de ontem no blico, a propósito da Constituição e das condições em que foi elaborada, entre outras «tropelias» do PREC, Vasco Pulido Valente citava «o cerco ao Parlamento» e eu estoicamente resisti à tentação de perguntar pela 224ª vez se alguém me encontra nas fotos da época algum pano ou cartaz da manifestação dos trabalhadores  da construção civil que seja relativo à elaboração da Constituição ou se alguém me mostra um recorte da época onde sejam relatadas as reivindicações que esses trabalhadores dirigiram ao Presidente da Assembleia Constituinte ou aos seus deputados.

Hoje, na sua crónica, o eremita rezingão de Benfica dedica-se à cultura e sentencia, sem apelo nem agravo que «durante trinta anos de absoluta liberdade,  não apareceram "actividades culturais" de qualidade e consequência» e que «em 2012, continua a não haver cinema, teatro, dança, ballet e tudo o resto», além do mais assim ofendendo não apenas a verdade mas insultando centenas e centenas de animadores e criadores culturais e artistas das mais diversas áreas.

É claro que VPV é mais antigo mas não sei se os leitores se lembram que há uns anos esteve na moda um economista chamado Arroja que conseguia ser lido precisamente pelo seu soberbo espectáculo de parvoíce e reaccionarismo. Pois VPV é uma espécie de Arroja para todos os assuntos. É certo que continua a ser muito lido mas, como eu, desconfio que muitos já o lêem como uma espécie de clown da crónica de imprensa.

Generoso por feição, tendo sempre a pensar que Vasco Pulido Valente é daqueles cidadãos que, desde muito cedo, criaram um personagem e depois ficaram para todo o sempre prisioneiras dele.

22 dezembro 2012

Porque hoje é sábado ( 304 )

Blouse

A sugestão musical de hoje destaca
a banda norte-americana Blouse



21 dezembro 2012

Tudo esclarecido

Relvas explica comunicação de ontem


Lusa, Lisboa, 21.12.2012, 14 hs.: - Em comunicado enviado aos órgãos de comunicação social, o ministro Adjunto Miguel Relvas explica a comunicação ao país ontem feita por Pedro Passos Coelho sobre «o fim do mundo» no dia de hoje. É o seguinte o teor integral do comunicado:

1. Obviamente sem necessidade de esperar pelo final do dia, o governo entende pedir desculpa aos portugueses pelos efeitos da comunicação ontem feita pelo primeiro-ministro e deplora profundamente o alarme e inquietação que possa ter causado na sociedade portuguesa.

2. O governo lamenta de forma especialmente sofrida a vaga de suicídios verificada, regista entre a dor e o reconhecimento que, segundo as informações disponíveis, a maioria deles foi provocada não pela ideia do fim do mundo mas sim do fim deste governo e anuncia que, em próxima reunião de Conselho de Ministros aprovará um sistema de pensões ou indemnizações extraordinárias para os familiares destes cidadãos.

3. A verdade é que o governo em conjunto e cada ministro individualmente nunca acreditaram  que o mundo acabasse hoje, até porque sabiam que, no mais mundialmente reputado ensaio histórico-antropológico sobre aquela extinta civilização, - da autoria do português Eça de Queiroz e precisamente intitulada Os Maias - não consta qualquer referência àquela previsão do fim do mundo para o dia hoje.

4. Acontece porém que o governo entendeu que, face a uma opinião pública compreensivelmente descontente e irritada com as fortes medidas de austeridade impostas por razões de salvação e regeneração nacionais, a questão do alegadamente iminente fim do mundo representava uma oportunidade de ouro para que pelo menos a maioria da população pudesse relativizar melhor as coisas, isto é, intuísse e compreendesse que afinal há cenários e perspectivas muitíssimo piores e mais dramáticos.

5. Os mais empedernidos e sectários adversários  do governo dirão natural e certamente que o mundo não acabou mas o governo continuará  a transformar a vida dos portugueses num ardente inferno. Mas agora está muito mais consolidado e ancorado no sentimento colectivo que entre uma coisa e outra vai uma abissal diferença e que a necessária austeridade é, apesar de tudo e por comparação com o fim do mundo, o mais ínfimo dos males.

Eurobarómetro 78

A opinião pública europeia
na preocupação, desconfiança e temor

Acaba de ser publicado o Eurobarómetro nº 78 com trabalhos de campo realizados em Novembro e que pode ser consultado aqui. Alguns quadros:
(
(clicar nas imagens para aumentar)
 azul - má, amarelo - na mesma, vermelho - pior

 









20 dezembro 2012

Em conferência de imprensa inesperada

Passos Coelho surpreende
Portugal, a Europa e o Mundo

Lusa, Lisboa, 20.12.2012, 14 hs. - O primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, surpreendeu hoje o país, a Europa e o Mundo (a CNN fez um «Breaking News» sobre o assunto) ao declarar em conferência de imprensa (sem direito a perguntas) em que estava acompanhado por todo o governo, o seguinte :

« Portugueses e portuguesas:

Antes não o podíamos fazer mas hoje é chegado o momento de vos comunicar que todas as medidas, aliás injustamente criticadas, inscritas no Orçamento de Estado para 2013 se destinaram apenas a enganar a troika e os mercados por umas semanas pois o meu governo sempre teve a firme e sólida convicção de que o mundo acabará amanhã, dia 21 de Dezembro de 2012.

Como alguns queriam e reclamavam, vamo-nos portanto embora mas ninguém se ficará a rir por vos levamos a todos connosco.

Obrigado e até outro mundo noutro tempo.»

Contactados pela Lusa, o Presidente da República declarou estar «a ponderar atentamente a situação criada» e informou já ter pedido com fulminante urgência vários pareceres a diversos constitucionalistas; de Bruxelas, José Manuel Durão Barroso declarou que «mesmo que o mundo acabe amanhã, isso não muda o facto de o governo português estar a fazer um excelente trabalho e que Portugal continuará com grandes potencialidades na captação de investimento alienigena»; por sua vez, o líder da oposição, António José Seguro declarou estar-se perante mais uma prova da «irresponsabilidade e incompetência do governo pois este, fazendo orelhas moucas às sugestões do PS, não mandou construir uma abrigo anti-fim do mundo por forma a poder concluir o seu mandato até ao fim»; em Washington, Hilary Clinton declarou dever estar-se perante uma «precipitação» pois «mesmo que os EUA passassem a exportar maciçamente matanças de crianças e de jovens em escolas, seriam preciso muitos milhares de anos para exterminar toda a população mundial». Por fim, Abebe Selassie, do FMI, declarou secamente «a ver vamos».

19 dezembro 2012

Readaptando Clausewitz

Business as usual 


Albright com Thaçi, o então lider da UÇK
e agora primeiro-ministro do Kosovo.

Na página 28 da sua edição de hoje , o DN, titula que  «Equipa de Clinton faz negócios no Kosovo» e faz um resumo dos principais protagonistas destes negócios, 13 anos depois dos bombardeamentos americanos daquele território então reconhecido pela ONU com parte integrante da Jugoslávia.

São eles:

- Madeleine Albright : ex- secretária de Estado dos Estados Unidos durante a Administração de Bill Clinton, Albright lidera um consórcio (que inclui a Portugal Telecom) que quer comprar a empresa de comunicações kosovar PTK;

- Wesley Clark : ex-comandante supremo das forças alçidas da NATO no período entre 1997 e 2000, Clark liderou os bombardeamentos que expulsaram as forças sérvia´s do Kosovo. A sua empresa, a Endivity, quer uma concessão para para explorar carvão;

- James W. Pardew : ex-enviado especial de Bill Clinton para os Balcãs, James W. Pardew também está na corrida para a compra da PTK, sendo o maior rival no negócio do consórcio liderado pela ex-secretária Madeleine Albright.

Dizia Clausewitz que «a política é a continuação da guerra por outros meios». Talvez seja agora tempo de descobrirmos que «os negócios são a continuação da guerra por outros meios» ou vice-versa, como queiram.

18 dezembro 2012

Passos Coelho e as «reformas milionárias»

Voltando à vaca fria, 
talvez contra a corrente


Anotando de passagem que, a respeito de pensões e reformas, Passos Coelho leva hoje pró tabaco de Bagão Félix em artigo no Público, volto ao assunto para declarar para a acta :


1. Que estas referências, seja de Passos Coelho seja desta manchete do CM de hoje, às «reformas milionárias», sendo de efeito fácil e talvez de êxito garantido, são de um populismo atroz e completamente falhas de rigor; com efeito, chamar «milionárias» a reformas acima dos cinco mil euros (ou 1353, noutras versões discursivas) é, além do mais, um clamoroso atentado à semântica e à língua portuguesa; é que «milionário» não tem que ver com mil pois até num velhíssimo e amarelecido Dicionário Complementar da Língua Portuguesa que tenho aqui à mão (edição de 1948!) se explica que «milionário» quer dizer «que, ou quem tem milhões» e que a palavra deriva da palavra em latim milione (milhão).

2. Que nem a minha inserção (aqui referida) no grupo de reformados «privilegiados» nem sequer o facto de ter sido uma das muitas vítimas da quebra por parte do governo Sócrates do compromisso (lembram-se ?) de que o cálculo das reformas com base em toda a carreira contributiva só começaria em 2017 me faz alinhar neste truque de meter tudo no mesmo saco ou de alvejar uns milhares como forma de fazer esquecer as agressões praticadas contra cerca de 2 milhões de reformados.

3. Que não tenho nada, mas nada, a objectar a que haja pessoas que aufiram reformas superiores a cinco mil euros se elas corresponderem ao que lhes é devido pelas contribuições que fizeram e pela duração das respectivas carreiras contributivas. E aproveito para lembrar que não foi certamente por amor à segurança social pública que várias governos muito ensaiaram o empurrar obrigatoriamente  estes contribuintes para sistemas privados; o problema chave e a gritante imoralidade estão sim em todos aqueles casos de pessoas que, graças a sistemas especiais e diferenciados de reforma, conseguiram obter o que a generalidade dos portugueses obviamente não conseguiu nem conseguirá: ou seja, ter duas ou três reformas com duas ou três diferentes origens e, entre estes se inclui o caso ainda mais escandaloso dos Mira Amarais e outros que ficaram com reformas vultuosas só por terem estado uns anitos na CGD ou no Banco de Portugal.

4.Que foi com base nestes príncipios agora reexpostos que, ao contrário de tanta gente de esquerda, tive a coragem de oportunamente sustentar duas coisas a respeito de Cavaco Silva: a primeira é que  nesse caso a questão não está em ter optado pelas reformas em vez do vencimento de PR mas sim no facto de ele ser um dos abençoados que conseguiram somar três reformas; e a segunda é que não me chocaria nada que acumulasse uma reforma normal (isto é, de um única fonte) com o vencimento de PR, dado que não vejo nem qualquer justiça nem nada de glorioso em que Portugal tenha um Presidente da República que trabalha pro bono.

17 dezembro 2012

Manobra de diversão

Pronto, já estou
convencido  e mais descansado


Como Passos Coelho agora tirou da cartola a ideia de que a grande guerra do seu governo é com os que têm pensões acima dos 5 mil euros (907 pessoas), eu vou fazer de conta de que nunca li nada sobre os cortes nas pensões e reformas por diversas vias  e até ao dia 1 de Janeiro, a favor do abençoado Natal, vou mergulhar na ilusão de que pertenço ao grupo dos 155.943 felizardos que têm reformas entre 500 e 1000 euros (ou seja, de acordo com as parvoíces circulantes, classe média concerteza, ora essa).

National Rifle Association ou...

... os que continuam
a dormir que nem anjos




Nada tira o sono ou atormenta a consciência dos dirigentes da americana National Rifle Association,  o poderosíssimo lobby pró-armas (incluindo de assalto!) dos EUA:  Sandy Hook Elementary School (14/12/2012),Oikos University, Cardon High School, Virginia Politechinic Institute,  West Nickel Mines, School, Red Lake High School, Campbell County CHS, Santana High School, Columbine High School, Thurston High School (só neste conjunto de matanças, 128 mortos !).

E o estuporado, cínico e repugnante argumento é sempre o mesmo:coitadinhas das armas (e do seu comércio) que não disparam sózinhas !.

16 dezembro 2012

Para o seu domingo, o espanhol

Luis Eduardo Aute




Uma defesa que enterra

O Vasco e a Jonet


Comentando o último Quadratura do Círculo onde esteve em discussão uma nova afirmação de Isabel Jonet de que prefere a caridade ao Estado Social, Vasco Pulido Valente desembainha hoje no Público a espada em extremada defesa da senhora. Ora acontece que, para esmagar os índigenas, VPV sentencia que se os comentadores da Quadratura se tivessem dado ao trabalho de ir ao site do Banco Alimentar logo descobririam que ele não aspira a ser senão «uma resposta necessária mas provisória» a uma situação desesperada, porque o Estado deve garantir a qualquer pessoa «um nível de vida suficiente que lhe assegure e à sua família, a saúde e o bem-estar,  principalmente quanto à alimentação, ao vestuário, ao alojamento, à assistência médica.» 

Resumindo e concluindo: o sagaz Vasco Pulido Valente não se deu conta de que, no seu afã de defender a sua dama, nos veio afinal contar e revelar que o Banco Alimentar contra a Fome é dirigido por uma pessoa que tem concepções antagónicas em relação aos príncipios fundamentais da organização que dirige.

Estejam certos

Para o ano há mais


manifestação da CGTP ontem em Lisboa

Por uma vez

Estou inteiramente de acordo

O ministro José Pedro Aguiar Branco, e entrevista ao Público, faz hoje a seguinte declaração:

"Não podemos esquecer que
 o que o governo fizer nos
próximos meses vai marcar
o que o país será
nas próximas décadas"

Por uma vez, estou 1oo% de acordo. Só que acrescento: é por isso mesmo que a sua demissão é uma prementíssima urgência nacional.

15 dezembro 2012

Porque hoje é sábado (303)

Show of Hands

A sugestão musical de hoje é dedicada

 à prestigiada banda de folk inglesa
 Show of Hands
.



Esta canção foi abusivamente apropriada pelo
Brittish National Party para um anúncio televisivo,
Show of Hand moveu-lhe um processo que ganhou
 e integra o movimento
Folk Against Fascism

14 dezembro 2012

Bolas !

Não há meio de aprenderem !


Em artigo hoje no Público, obviamente recheado de invocações e citações de Edmund Burke e Alexis de Tocqueville, José Manuel Fernandes resolveu dar como boa a recente afirmação de Abebe Selassie de que «Portugal é um dos países que mais gasta com pensões» ( embora o próprio reconheça que, simultaneamente «tem uma das proporções  maiores de idosos em risco de pobreza»).

Mais à frente, torna-se patente que José Manuel Fernandes alude indiferenciadamente a «despesas sociais» e a «prestações sociais», que não são exactamente a mesma coisa, e atira tudo isso para despesas ou encargos do Estado.

Por isso, embora com algum cansaço para alguns leitores,  volta a ser necessário explicar a tanta gente que escreve nos jornais e fala nas televisões  que grande parte das prestações  sociais (pensões, reformas, abono de família, subsídios de doença, de funeral e de desemprego, designadamente) não são pagas com os impostos cobrados aos cidadãos mas sim pelo Orçamento da segurança Social com recurso ao acumulado dos descontos dos trabalhadores e das entidades patronais.

Esta verdade e esta regra têm natural e justamente excepções já que é o Orçamento de Estado e os impostos cobrados que suportam os encargos, por exemplo, com os regimes não contributivos, o que acontece desde que, em boa hora, se pôs fim a uma prática de 10 anos de cavaquismo que se calcula ter prejudicado a segurança social em cerca de mil milhões de contos.

Já vem de longe esta concepção ou percepção de que as pensões e reformas seriam uma benesse do Estado para o que, ao contrário do que sucede noutros países europeus, em muito terá contribuido, em Portugal ter sido sempre relativamente fraca a consciência de que a segurança social é sobretudo um património comum dos trabalhadores.

E só aquela erradíssima concepção poderá explicar o facto ainda hoje muito pouco conhecido de um Orçamento de Estado anterior (o de 2013 deve ter mantido isso), em puro contrabando legislativo, ter legislado no sentido de que os reformados da segurança social se porventura recebessem qualquer tipo de remuneração de entidades públicas teriam de optar por uma delas - a reforma ou a remuneração, o que na maioria dos casos, significariam trabalharem, de forma esporádica ou continuada,  à borla para qualquer entidade pública.

O desconchavo desta disposição fica bem à vista se se perceber que um aposentado pela Caixa Geral de Aposentações pode auferir o que quiser de entidades privadas mas já um reformado da segurança social mesmo que, como eu, tenha 42 anos de carreira contributiva no sector privado, já não pode acumular a sua reforma nem com um cêntimo recebido por qualquer trabalho prestado a uma entidade pública.

Ora isto, ofende manifestamente, dois princípios que deviam ser sagrados: o primeiro é que a reforma, desde que reunidos os exigidos requisitos legais, é um direito adquirido e não uma proibição de continuar a trabalhar, se essa for a vontade dos cidadãos em causa; a segunda é que o trabalho de qualquer tipo deve ser remunerado.

E, por causa disto, certamente que poucos leitores o saberão,
houve cidadãos que ou deixaram de fazer qualificados programas para a RDP ou de nela participarem em termos de comentário político ou então, em bofetada de luva branca continuam hoje a gastar tempo, esforços e trabalho não despiciendos para os manter não recebendo um cêntimo sequer por isso e inevitavelmente ainda gastando algum do seu bolso.

13 dezembro 2012

Lá chegaremos

Nada de confusões, esta
manchete não está escrita em grego



Sob o título «Sem remédios há três dias», a notícia respectiva explica também que «os doentes com paramiloidose, a doença dos pézinhos, estão sem tomar a medicação há 3 dias e o problçema vai manter-se até ao ínicio da próxima semana. Estes doentes são seguidos no Centro Hospitalar do Porto».

12 dezembro 2012

Indemnizações por despedimento

Eu volto a não ter medo de o dizer


Já aqui abordei este assunto várias vezes e, desde logo, quando esta intenção apareceu pela primeira vez. Mas é legítimo voltar a ele agora que o governo se apronta para concretizar mais este infamante retrocesso na legislação laboral e direitos dos trabalhadores que nenhumas fórmulas ou variações concretas poderão atenuar.
Entretanto, segundo a TSF, parece que o "PS acusa Governo de estar a criar «novo conflito social»", certamente esquecido de que esta medida estava na memorando que assinou e que a UGT, em sede concertação social, deu o seu acordo a esta alteração do fim de um mês de indemnização por cada ano de trabalho,  a pretexto de uma viciosa «harmonização».
E volto a repetir que esta é uma das muitas medidas que não justificaveis pela crise, que não têm qualquer influência sobre o défice e a dívida e nem sequer sobre a competitivade da economia portuguesa, apenas visando favorecer o patronato em detrimento clamoroso dos direitos dos trabalhadores e das suas condições para, por um tempo, enfrentar as sequelas do seu despedimento.
Calculo que haja democratas e pessoas de esquerda que, por medo de interpretações esquemáticas e ilegítimas, não sejam capazes de me acompanhar no lembrete que vem a seguir mas eu não tenho medo de insistir numa informação que não envolve nenhuma espécie de reabilitação do fascismo: é que juro que, no dia 24 de Abril de 1974, as indemnizações por despedimento já eram pelo menos de 15 dias por cada ano de antiguidade.
Isto não diz nada, repito, sobre qualquer bondade do fascismo mas diz muito sobre a dementada agressão aos trabalhadores a que desonrosamente se vinculam todos os que, de uma ou outra forma e descontadas coreografias verbais, apoiam esta punhalada de alto lá com ela.

Fala o governador da colónia ?

Si, porque no te callas ?


O senhor Selassie do FMI prossegue na atrevida senda de sucessivas declarações que, objectivamente, o transformam insuportavelmente num protagonista do debate político interno, o que poderá ter consequências que não sei se ele terá medido e, por isso, depois não se venha queixar do que levar em resposta. É certo que ele se deve sentir uma espécie de governador-geral da colónia mas faz mal em contar  que em Portugal todos vão interiorizar o comportamento de submissos e reverentes colonizados.

11 dezembro 2012

Privatização da TAP

Um filme já visto:
uns preparam, outros acabam



Para os poucos que forem capazes de estranhar que só se veja o PS, quanto à privatização da TAP, a discutir transparências, prazos e encaixes, recupero esta notícia de 2007 que ilustra que, quanto à questão de fundo, nenhuma divergência entre PS e PSD, só sobrando o velho campeonato sobre quem privatiza mais e "melhor".


E já agora outra maldade

Volta Sarkozy, estás
(quase) perdoado



Hollande e Merkel ontem em Oslo
(parcial de foto na pág. 2 do Público)

Sobre o mandato de Hollande,
 ler aqui esta opinião  na
Marianne.

A foto completa, que aliás entra 
na 1ª página de El País mostra os outros
 Chefes de Estado e de governo,
 sentadinhos, a aplaudir o par.

E assim foi possível que as imagens
 não retivessem para história
 apenas os titulares do poder formal na UE

(Rompuy, Barroso e Schultz) mas
também o poder de facto.

Em boas mãos

Sai uma maldade



10 dezembro 2012

Eu sei que o assunto é sério e grave...

... mas, por este andar, morre a expressão
«o último a sair que apague a luz»




Porque tristezas não resolvem crise...

... eles ficam felizes
com o (imerecido) Nobel


Em boa verdade, não se pode pedir aos mais altos responsáveis (responsáveis, sim, pelo que bem sabemos) europeus que mantenham invariavelmente ao longo de cada dia uma expressão séria e preocupada como a situação e os problemas existentes justificam. Por isso, aqui fica um gesto de compreensão por este seu momento de grande alegria a propósito de um Nobel cuja razão poucos perceberam. Que eles não possam ser acompanhados neste brinde alegre pelos milhões de desempregados e de pobres da União Europeia já é outro assunto, por favor não venham desconversar.

Rajoy e Bispos unidos

A velha Espanha
ainda mexe que se farta !




mais aqui

09 dezembro 2012

Para o seu domingo, a country de

Jamey Johnson & Alison Krauss



Aquela irresistível tentação

Louçã e a palavra de Belmiro


Em entrevista hoje ao Público, Francisco Louçã, embora referindo que vários partidos têm uma capacidade de actuação  que não é vulnerável à captação pelos sistema financeiro, não resiste a afirmar logo de seguida  (sublinhado meu): «Tenho muito orgulho em lembrar que Belmiro de Azevedo em entrevistas que deu dizia que já tinha financiado todos os partidos, excepto o BE».

Face a isto, cumpre-me  registar a grande devoção de Louçã pela palavra de Belmiro de Azevedo que, neste caso, é obviamente caluniosa para o PCP, ainda por cima numa matéria em que está na cara que o conhecido empresário tinha todo o interesse em não se ficar pelo financiamento do PS, do PSD e do CDS.

Passado tanto tempo, confesso que já não me lembro se na altura o PCP desmentiu a afirmação de Belmiro ou se lhe pagou justamente em desprezo. Mas lembro-me de, na Soeiro Pereira Gomes, em conversa de corredor ou em mesa de reunião, ter desabafado: «lá vamos ficar com a fama e nem sequer vimos a côr do dinheiro».

Siria

Até para os EUA 
não há bela sem senão


mais aqui

Série de 10 episódios

Oliver Stone e The Untold
Story of the United States




08 dezembro 2012

Porque hoje é sábado (302)

Laila Biali


A sugestão musical deste sábado incide
 na pianista e cantora de jazz canadiana
Laila Biali.








Sem pingo de vergonha

Ele sabe do que fala

Esta chamada na primeira página do Público despertou-me a infinita curiosidade de saber se o ministro Pedro Mota Soares estaria  entre os autores deste lancinante grito de alma. E, na página 13, lá estava que o ministro português declarou que « a União Europeia não pode ter uma política de apoio aos bancos, uma política de "nenhum banco para trás", e não canalizar dinheiro para as pessoas». Mas não se enervem: pode sempre acontecer que o ministro venha dizer que as suas afirmações foram descontextualizadas.

07 dezembro 2012

Nenhuma dúvida

Humor com total respeito
pela presunção de inocência

Qual Monte Branco, qual carapuça !. Uma fonte do MP confidenciou a «o tempo das cerejas» que a busca, feita a pedido de numerosas famílias em aflição,  visou procurar mapas e gráficos demonstrativos da sustentabilidade do Estado Social que Medina Carreira tenha sonegado nos seus apocalípticos comentários televisivos.

06 dezembro 2012

Outra morte

Goodbye Dave

Pare, leie e pense

Um arrepio na  alma
e um nó na garganta



O que a seguir é citado desta notícia do Público não são diz que diz ou zunzuns, são afirmações feitas por profissionais perfeitamente identificados: «Mães sem dinheiro para comprar leite em pó estão a alimentar bebés de poucos meses com leite de vaca, ou juntam mais água às fórmulas artificiais, o que pode prejudicar a saúde das crianças. Estes casos são do conhecimento dos serviços sociais da Maternidade Alfredo da Costa (MAC), em Lisboa, que cada vez mais atendem mães com “grandes carências”, a maior parte devido ao desemprego, como disse à agência Lusa a assistente social Fátima Xarepe.“Todos os dias recebemos pedidos de ajuda”, disse, explicando que os mais frequentes são para a compra de leite em pó, de medicamentos, como vitaminas ou vacinas que não constam do Plano Nacional de Vacinação, e produtos de higiene. Estas mães “fazem o melhor que podem”, disse Fátima Xarepe, que lamenta nem sempre a maternidade poder ajudar, nomeadamente no fornecimento de leite em pó, apesar de contar com o apoio da Associação de Ajuda ao Recém-Nascido (Banco do Bebé) e outras instituições particulares de solidariedade social. A pediatra Cristina Matos conhece esta realidade e as consequências da ingestão de leite de vaca antes de um ano de idade, como gastroenterites. “Estamos a recuar 50 anos”, disse à Lusa, acrescentando que são cada vez mais as mães que, para o leite em pó render, juntam mais água do que o devido. Isso mesmo confirmou a enfermeira Esmeralda, que consegue identificar o acréscimo excessivo de água ao leite em pó, principalmente através do atraso no crescimento do bebé. Segundo Fátima Xarepe, são mais de mil os pedidos de ajuda que os serviços sociais já receberam este ano, e que não se limitam à alimentação dos recém-nascidos. “Há grávidas que não vêm às consultas de vigilância por não terem dinheiro para os transportes, o que as coloca em risco, assim como aos bebés”, disse esta assistente social, que não tem dúvidas de que estes casos, cada vez mais graves e frequentes, vão aumentar por causa da crise. Estas profissionais sentem-se impotentes, apesar de tentarem fazer “o melhor” que sabem, pois, apesar de o serviço público de saúde ser gratuito para as grávidas, estas muitas vezes não conseguem assumir outras despesas, como é o caso dos transportes. “Há grávidas que vêm a pé de Chelas [o que pode demorar cerca de uma hora], porque não têm dinheiro para pagar o transporte”, disse. (...)»

Foi a pensar em coisas como estas e em muitas outras que, em recente conferência da Seara Nova, me atrevi a formular a ideia de «se esta política não for urgentemenete detida,o que se perfila é muito pior do que a soma das piores previsões parciais porque estas não exprimem a complexa realidade e consequências do encadeamento dos factores económicos e sociais e da suas dramáticas repercussões na vida do conjunto e de cada uma das vítimas desta política, em termos de instabilidade emocional, desespero, raiva, amargura e sofrimento».

Oscar Niemeyer (1908- 2012)

Niemeyer - a beleza das curvas,
a grandeza da consciência vertical


Aos 104 anos, desaparece o grande arquitecto que semeou beleza, audácia  e sonho por todo o mundo e  deixa-nos um comunista doce mas antes de quebrar que torcer. Soma grande para uma tristeza e pena maiores.

no Globo: