(n. 1971, Perú)
BRANCO É O SONHO DA NOITE
Tradução de Antonio Miranda
oculto
gesto de flor antes de nascer
a noite repousa no colmilho de uma luz prodigiosa
aspira o coração de sua viagem interminável
sonha o alento que o ar desconhece
branca a pele que o horizonte abandonando-se em seus contornos
branco o grito de Narciso diante do espelho branco
o dia em que teu corpo
fez de minhas espinhas dorsais um ramo de flores
branco o desejo que no amar-te lacera sua vontade
branca sua impaciência de onda após onda
branca a distância entre a terra
branca a sede que em seus lábios
o mar infatigavelmente desposa
branca a lembrança ondulante de um peixe dormido
apaixonado pela areia que espreita sua morte
branco o silêncio que o homem confunde com sua voz
branca a tarde em que caminho para esquecer que te encontro
e que no ar os beijos são sepulcros alegres
branca a noite em que recordo
tuas mãos virem como sedas vertiginosas
o lago avança até a luz
seu corpo escurece
minha voz é crepúsculo na irmandade de suas águas
árvores desnudas estampam
a fuga de teu corpo