Vai uma retratação,
senhor João Bonifácio ?
Ao longo de sete páginas, o Ipsilon do Público de hoje publica um peça da autoria de João Bonifácio em torno da recente obra de Miguel Cardina "Margem de Certa Maneira - O Maoismo em Portugal 1964-1974".
Sem qualquer espanto meu, aí volta a desfilar a galáxia de caricaturas, deturpações, incompreensões e falsificações que as organizações classificadas de «maoistas» sempre destilaram sobre o PCP e a sua orientação. Nesse âmbito, pela voz de uma pessoa estimável, até regressa aquela absurda efabulação de que a orientação do PCP quanto aos seus militantes e a guerra colonial tinha por base a ideia de lutar por «uma guerra mais humana».
Que antigos maoistas de diversos matizes persistam e insistam nas suas análises e caracterizações é o lado para onde durmo melhor e estou francamente cansado de discutir o mesmo com os mesmos há 40 anos.
Registo entretanto duas coisas que me parecem mais significativas: a primeira é que nesta peça se omite que a mais significativa das organizações maoistas - o MRPP - teve o seu grande dia de glória e de acerto político quando, salvo erro no dia 26, veio declarar que a acção libertadora de 25 de Abril de 1974 tinha sido «um golpe da oficialagem colonial-fascista»; e a segunda é que seja o próprio autor da peça, João Bonifácio a afirmar, a dado passo, que «Para o PCP, a participação nas urnas era a via para quebrar o regime».
Pobre Bonifácio, a respeito do PCP, parece que nunca ouviu falar de «revolução democrática e nacional», de «levantamento nacional» e de «insurreição popular armada».
Talvez depois de ler aí em baixo, uma passagem de um comunicado publicado no Avante! de Fevereiro de 1965 sobre o projecto de Programa do PCP (que viria a ser aprovado no VI Congresso), lhe dê para uma retrataçãozinha ou, no mínimo, conclua interiormente que sapateiros devem evitar tocar rabecão.