Ilusões matinais
Confesso que. logo pela matina, devorei a página inteira e mais um bocado que o «Público» em boa hora dedicou à conferência de imprensa dos promotores de diversas evocações históricas numa região, em que se inclui o chamado «Centro Interpretativo do Estado Novo» ( que, repito, traduzido em sigla dá CIEN que por sinal é uma marca de cosméticos) a localizar na Escola Cantina Salazar, que fica na Rua Oliveira Salazar, em Santa Comba Dão. E mais confesso que fiquei não apenas surpreendido mas atordoado.
Então não é que os promotores devidamente patrocinados pelas palavras do Prof. João Paulo Avelãs Nunes vieram explicar logo no átrio do Centro, em ecrã gigante, vai estar o video de Salazar na Assembleia Nacional a dizer com todo o descaramento que o regime nada tinha que ver com o assassinato do General Humberto Delgado. E que, na primeira sala, iam figurar os trinta e tal antifascistas que morreram no Tarrafal, mais uma referência aos 2510 que passaram férias no Forte de Peniche durante anos, mais os 30 mil presos políticos, mais os oito mil mortos portugueses nas guerras coloniais (dos africanos não reza a história interpretativa)
E também que, logo na sala a seguir, iam ter destaque, a pobreza endémica, o analfabetismo, as torturas da PIDE, o papel dos «bufos», a censura a centenas de peças de teatro de filmes, de livros e de jornais, o milhão de portugueses que na década de 60 votaram com os pés fugindo para o estrangeiro. E tanto mais por aí fora, que não cabe neste post.
Mas ao beber a bica do costume é que me dei conta que imediatamente antes estava era mal acordado porque, na verdade, quase tudo o que o «Público» me deu a ler dos promotores do CIEN era mais do género «rebéubéu, pardais ao ninho».