21 março 2025

As cavaleiras do apócalipse

Kallas, van de Leyen e Cª
Miguel Sousa Tavares, in Expresso, 21/03/2025)
 

(...) «Kaja Kallas, a comissária para a Defesa da UE, numa semana anuncia mais €20 mil milhões em armas para a Ucrânia e na semana seguinte diz que afinal são €40 mil milhões que os países da UE terão de desembolsar, sem explicar como e porquê refez as contas. E, sobretudo, sem querer saber que agora é a Ucrânia que não quer mais continuar em guerra. Pode até dar-se o caso de Zelensky, acossado pela necessidade e por Trump, aceitar a exigência russa de deixar de receber armas ocidentais e teríamos a UE com umas toneladas de armas para oferecer a quem não as quer. Mas também não me admira nada tanto amadorismo bem intencionado: estes são os mesmos dirigentes europeus que andam a arregimentar tropas para mandar para a Ucrânia com a missão de garantir o acordo de paz — sem que haja ainda acordo e sem saber se a Rússia aceitará tropas europeias de países da NATO na Ucrânia. São os mesmos dirigentes que aceitaram sem pestanejar, e igualmente sem quererem ver as contas, o plano de rearmamento europeu no valor de €800 mil milhões, apresentado por Ursula von der ­Leyen. Os mesmos que, para financiar o seu rearmamento, se preparam para aprovar a renúncia aos limites de endividamento dos Estados e o desvio de verbas da coe­são europeia a favor das indústrias de armamento. Os mesmos que ficaram entusiasmados com o programa de rearmamento da Alemanha, que exigiu até uma alteração constitucio­nal sem parar para pensar se será boa ideia o rearmamento da Alemanha, sobretudo quando um partido neonazi, a AfD, tem 20% dos votos dos alemães. Os mesmos, enfim, que só falam de guerra enquanto se tenta alcançar a paz na Europa.»

Uma outra guerra


Caça às bruxas

Viriato Soromenho Marques, in Jornal de Letras, 19/03/2025)

(...)«Perante a guerra, esta ou qualquer outra, o que se espera de um intelectual é o exercício da sua capacidade analítica, antecipada pela procura dos dados empíricos que são as fontes primárias que alimentam o pensamento crítico. Nada disso sucedeu. Como nos sistemas totalitários, formou-se no Ocidente uma cultura de massa vigilante para com a dissidência. Na imprensa ocidental, vozes desafinadas, jornalistas e colaboradores, mesmo académicos prestigiados, foram afastados. Nas universidades, fez-se caça às bruxas. Carreiras profissionais foram interrompidas. O objetivo de quem domina e manipula consiste em manter o controlo da narrativa binária: “ou és amigo, ou és inimigo”. Para isso, seria preciso esconder os factos, se não fosse possível destruí-los. (...) Texto integral aqui


19 março 2025

Aquela pergunta

«os russos estarão realmente interessados em tomar
Vila Real de Santo António? »

Ana Cristina Leonardo no «Público» de 14.3

(...)«Está bem de ver que a alteração da política externa norte-americana — com Donald Trump a suspender o apoio à Ucrânia e a insistir em negociações numa altura em que os avanços russos se tornam indesmentíveis — está na raiz da viragem armamentista.

Desde o início, porém, que mentes mais pragmáticas — e menos convencidas de que na História prevalece uma versão cor-de-rosa na qual os justos saem invariavelmente vencedores — vinham avisando que o optimismo de Ursula von der Leyen — que logo em Abril de 2022 afirmava (sic) “a falência do Estado russo é apenas uma questão de tempo”, convicção reforçadíssima pelas suas declarações no mês de Setembro seguinte, “os militares russos estão a tirar fichas dos frigoríficos para arranjarem os seus equipamentos militares, porque ficaram sem semicondutores”, ou, em Fevereiro do ano passado, quando anunciou que a guerra com a Rússia havia acelerado a transição ecológica da União Europeia, tornando-nos mais verdes (“ele [Putin] realmente impulsionou a transição ecológica”) — talvez fosse exagerado.

O que não deixa de me surpreender é como alguém que se enganou tanto e tão tragicamente continue responsável por delinear a estratégia futura que, desta vez, sim!, levará ao colapso da Federação Russa e à avaria definitiva de todos os seus frigoríficos, assim como ao reforço das energias renováveis, mesmo ignorando o facto de o nuclear estar de novo em alta, por exemplo, com Emmanuel Macron, contrariando o que dizia serem as suas convicções ecológicas, a mandar reactivar o reactor nuclear EPR de Flamanville, o mais potente reactor francês, ou mesmo a lembrar aos russos que a França dispõe de arsenal nuclear capaz de entrar em acção em caso de necessidade.

Os que viram a comédia negra de Stanley Kubrick, lançada dois anos após a crise dos mísseis em Cuba, Dr. Strange Love or: How I Learned to Stop Worrying and Love the Bomb, sabem como a história acaba. E quem também poderia falar com grande à-vontade sobre o assunto seria a centena de sobreviventes de Hiroxima e Nagasáqui, se algum deles ainda estivesse vivo.

Tenho muitas dúvidas de que o voluntarismo europeu possa resultar em voluntários suficientes para ir combater os russos lá onde eles estiverem. O mantra dominante — e porque referi a obra de Kubrick, relembro outro filme, neste caso também uma comédia, embora menos negra, Vêm aí os Russos, de Norman Jewison, realizada em 1966 — é que ou nós vencemos os russos ou os russos vencem-nos a nós. No solo ucraniano não estariam em causa a independência e integridade do país, mas da liberdade e democracia europeias.

Não fica claro como, após mais de três anos de guerra substancialmente apoiada pelos EUA, os russos não foram vencidos, sendo agora, com o exército europeu imaginado por Macron, os 800 mil milhões orçamentados no ReArm e com Trump fora de cena, que a vitória estaria assegurada mais tarde ou mais cedo. Passaríamos de “até ao último ucraniano” para “até ao último europeu de bem”? E, arriscando levar com um “mais um putinista a soldo”: os russos estarão realmente interessados em tomar Vila Real de Santo António?  (...)»

Num só dia 400 mortos !

Gaza :
o regresso do horror


Primeiro corte de electricidade, depois a proibição da ajuda humanitária e agora ttoneladas de bombas.




15 março 2025

Porque hoje é sábado ( )

Charley Crockett

Um grande jornalista e um querido camarada

Segunda feira, 17/3, às 16 hs.,
Homenagem a Fernando Correia

Programa
Memórias Vivas do Jornalismo

Universidade Lusófona – Auditório Agostinho da Silva, 17 de março, 16.00
Abertura Professor Doutor Luís Cláudio Ribeiro, Vice-Reitor para a Qualidade e Desenvolvimento Académico, Universidade Lusófona
Testemunhos Ana Maria Duarte, Marianela Valverde
Convidados Ana Luísa Ro
drigues, Jornalista da RTP; Carla Baptista, Professora Universitária e Investigadora – FCSH | Universidade Nova de Lisboa; Paulo Martins, Jornalista | Professor Universitário e Investigador – ISCSP | Universidade de Lisboa; Patrícia Franco, Universidade Lusófona

Moderação Carla Rodrigues Cardoso, Universidade Lusófona; Carla Martins, Investigadora e Vogal do Conselho Regulador – Entidade Reguladora para a Comunicação Social

14 março 2025

Não falam de paz, só de mais guerra e armas

 Saem mais 600 milhões
para a mesa da Ucrânia!

«Ajuda de Portugal pode
chegar a 600 milhões de
euros com nova
 ambição europeia»

«A alta representante para a Política Externa e de Segurança da União Europeia, Kaja Kallas, decidiu rever as contas, e duplicar de 20 mil milhões para 40 mil milhões o valor do pacote adicional de apoio militar à Ucrânia em 2025 que propôs aos Estados-membros, para financiar a aquisição de dois milhões de munições de artilharia de grande calibre, e disponibilizar mais sistemas de defesa aérea, mísseis, drones e aviões de combate às forças de Kiev.
A revisão da proposta, que a chefe da diplomacia europeia colocou em cima da mesa a três dias de uma nova reunião do Conselho de ministros dos Negócios Estrangeiros da UE, em Bruxelas, mantém inalterada a fórmula prevista para o financiamento, com base no Rendimento Nacional Bruto: com uma quota-parte de 1,5%, a contribuição de Portugal para este esforço ascende aos 600 milhões de euros. É o triplo do apoio nacional que seguiu para a Ucrânia em 2024.» (Público)