O exemplar ponto final na zuluogia de J. M. Tavares
E, de repente, a imaginária literatura dos zulus — coisa tão inexistente como as narrativas míticas na cultura erudita da Europa iluminista — reaparece como um zombie, subtraído por João Miguel Tavares ao eterno descanso a que tinha direito, para servir de prova de que há culturas superiores e inferiores. “Não é por acaso que não foi um zulu a escrever Romeu e Julieta”, disse ele, na sua primeira invocação do povo zulu, à qual se seguiu uma réplica: “De facto, a literatura zulu é inferior à literatura britânica”. Esta invocação da literatura zulu tem um autor e uma história antiga que João Miguel Tavares omitiu, reduzindo um longo e sério debate a um apêndice anedótico com traços de caricatura grosseira. A história é esta: em 1988, numa entrevista ao New York Times, o escritor americano Saul Bellow disse ou terá dito (há algumas incertezas quanto à fidelidade da citação): “Who is the Tolstoy of the Zulus? The Proust of the Papuans? I’d be glad to read them”. A frase gerou uma enorme controvérsia, foi discutida ao mais alto nível do pensamento sobre o multiculturalismo e tornou-se, para o seu autor, uma vexata quaestio a que ele quis pôr termo, em Março de 1994, num artigo publicado no New York Times. Aí, evocava a sua formação universitária em Antropologia, para depois tentar esclarecer o “mal-entendido que ocorreu durante a entrevista”. Segundo ele, as suas palavras, “sem dúvida pedantes”, na citação publicada, foram proferidas num contexto em que estava a fazer uma distinção entre sociedades pré-literárias (isto é, não baseadas numa cultura escrita) e sociedades literárias. E acrescentava: “As sociedades pré-literárias têm, sem dúvida, o seu próprio tipo de sabedoria, e os papuas têm provavelmente uma melhor compreensão dos seus mitos do que muitos americanos têm da sua própria cultura”. A refutação mais importante da afirmação de Saul Bellow foi feita em 1994, pelo filósofo canadiano Charles Taylor, num livro sobre o multiculturalismo. Taylor mostrou como essa frase advém da lógica do “não reconhecimento” que inflige uma ofensa e causa uma forma de opressão. Segundo Taylor , o exemplo
do “Tostoi dos zulus” é arrogante e inadequado porque avalia o mérito de uma outra cultura pelos nossos padrões de excelência e, por conseguinte, é incapaz daquilo a que Taylor chama “processo dialógico” e “respeito genuíno”. O pressuposto da famosa afirmação de Saul Bellow é o de que os zulus não mostraram ainda nenhuma contribuição cultural digna de ser reconhecida (não se vislumbra que deles tenha saído até ao momento um Tolstoi) e que só sairão desta situação de menoridade quando produzirem monumentos culturais comparáveis ao nosso cânone. Então — fica dito com solenidade — nós cá estaremos para os reconhecer e ler com satisfação o Tolstoi deles (na versão de Saul Bellow, mas corrigida pelo próprio) ou o Shakespeare deles (na versão incorrigida de João Miguel Tavares). Trata-se, como sublinhou Charles Taylor, de uma manifestação de “arrogância racial” e de imposição de um sistema de avaliação que pretende que todas as culturas são comensuráveis, como se todas falassem a mesma linguagem. João Miguel Tavares segue exactamente este raciocínio, mas para parecer indulgente com os zulus e afastar a ideia de que substituiu o pensamento pelo preconceito acrescenta que também a literatura portuguesa é inferior à inglesa. Esta operação é falaciosa porque a literatura portuguesa e a literatura inglesa podem ser incluídas no mesmo Atlas literário, podem até ser objecto de uma “literatura comparada”, mas a “literatura zulu” não é comparável, até porque não existe enquanto “literatura” (muito embora possam existir escritores zulus). Omitindo a longa história do “Tolstoi dos zulus”, reeditando a anedota fazendo de conta que se pode ignorar o sério debate a que ela deu lugar em várias frentes, João Miguel Tavares não se limitou a apropriar-se ilegitimamente (e sem cumprir os protocolos da citação) de uma frase, ressuscitando o registo anedótico a que ela se prestou e do qual o próprio autor, Saul Bellow, a quis resgatar alguns anos depois. Muito pior do que isso: a sua omissão tem como pressuposto a ignorância dos leitores e a ambição de que tudo seja discutido numa esfera de ignorância.
Sobre a deliberação da ERC - PCP tinha e tem razão: TVI mentiu e caluniou
25 Julho 2019
«A Deliberação da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC)
hoje conhecida sobre a operação que visou a honorabilidade do
Secretário-geral do PCP, confirma o óbvio – a campanha persecutória que a
TVI desenvolveu ao longo de dois meses baseou-se, como o PCP sempre
denunciou, em mentiras, calúnia e difamação.
O que a ERC agora confirma é o que desde o início esteve patente. Nos
termos usados pela ERC: verificou-se o «incumprimento cabal» por parte
da TVI «dos deveres de precisão, clareza, completude, neutralidade e
distanciamento no tratamento desta matéria, o que originou a construção
de uma reportagem marcadamente sensacionalista, sendo factores que
fragilizam o rigor informativo por contribuírem para uma apreensão
desajustada dos acontecimentos por parte dos telespectadores».
São os próprios serviços da ERC que registaram ser «notório o
enviesamento e a falta de isenção da TVI», o «desequilíbrio» e a
«descontextualização», bem como a «emissão de conclusões sem
identificação de fontes de informação».» (...)
Regista-se também que a ERC tenha dado conhecimento dos factos à
Comissão da Carteira Profissional de Jornalista ainda que, como sempre
se sublinhou, o que releva desta operação da TVI não são os actos
ditados por óbvios desvios comportamentais reveladores em si da
desqualificação profissional de quem deu rosto às peças, mas sim a opção
editorial de quem, no comando da TVI, permitiu que a operação de
difamação tenha beneficiado de mais de três horas de emissão e a “honra”
de abertura de quatro edições do “Jornal das 8". (...)
« (...)C’est maintenant le tour des migrants ; et malgré les protestations
féroces de ceux qui commettent ou justifient le crime d’arracher des
bébés et des enfants des bras de leurs parents et de les emprisonner
dans des cases gelées, ce que les responsables de l’administration Trump
ont décrit avec euphémisme comme des « camps de vacances », il ne fait
aucun doute que des camps de concentration sont encore une fois
opérationnels sur le sol étasunien. La tentative de l’administration
Trump de dépeindre l’emprisonnement des enfants comme quelque chose de
beaucoup plus heureux rappelle immédiatement les films de propagande de
la Seconde Guerre mondiale montrant les prisonniers d’origine japonaise
heureux de vivre... derrière des barbelés.
L’acteur George Takei,
qui a été interné avec sa famille pendant la guerre, était tout sauf
content. « Je sais ce que sont les camps de concentration », a-t-il
tweeté au milieu de la controverse actuelle. « J’étais interné dans deux
d’entre eux. Aux États-Unis. Et oui, nous opérons à nouveau de tels
camps ». Takei a noté une grande différence entre hier et aujourd’hui :
« Au moins pendant l’internement des Étasuniens d’origine japonaise,
nous et les autres enfants n’avons pas été privés de nos parents »,
a-t-il écrit, ajoutant que « ‘tout au moins pendant l’internement’, sont
des mots que je pensais ne jamais plus avoir à prononcer ».
«On Monday, Sen. Lindsey Graham went on Fox & Friends and called the “Squad”—the four freshmen representatives and women of color currently being targeted by President Donald Trump—“a bunch of communists.” The language sounded familiar to some. “Since at least the 1950s,” activist Bree Newsome Bass said on Twitter, “ ‘communist’ has become a popular coded word for n—-r. Let’s be real.” On Wednesday, “Squad” member Alexandria Ocasio-Cortez added her own explanation: The term communist
“was one of the preferred smears against integrating schools, & one
of the main attacks segregationists used against MLK Jr.” But this
red-baiting sideshow to the escalating racist rhetoric from the White
House has even deeper roots than that. “Black activists are Reds” is, in
fact, one of American racism’s greatest hits.»