07 novembro 2015

Clara Ferreira Alves ou...

... anticomunista,
por sua livre escolha


Embora a minha intenção inicial fosse outra, definitivamente não vou comentar em detalhe a incrível última crónica no Expresso da sempre preclara Clara Ferreira Alves intitulado «Anticomunista, obrigada!» (no sentido em que a isso, coitadinha, é obrigada). Em primeiro lugar, porque, para se responder a sério, é preciso gastar pelo menos o triplo do espaço que a autora gastou. Em segundo lugar, e sobretudo, porque cheguei à conclusão que com a  idade que tenho e a vida que tive, não é justo ter de gastar os olhos e as meninges a arrasar tanta superficialidade, tanta soberba, tanto espírito de classe, tantos clichés velhos e bolorentos (o PCP como «Igreja», a «ditadura intelectual» do PCP no tempo do fascismo, por exemplo), tantas deturpações e fantasias concretas, tanta prosápia amancebada com vasta ignorância sobre o PCP.

Tudo visto, decido-me apenas por duas anotações:

- a primeira é que, a dado passo, C.F.A escreve este mimo: «Controlando as instituições, o PCP [???] resistiu a dar prémios a Saramago. Deu-os a outros e não a ele. Porquê ?» . E a seguir este:

É tão simples como isto: Cunhal não gostava de Saramago mas, antes de partir para Moscovo para uma problemática operação a um aneurismo da aorta, foi a Saramago que deixou uma carta (facto revelado pelo próprio Saramago) para ser lida caso as coisas corressem mal.

-a segunda, destina-se apenas a lembrar apenas que a «fama» de Clara Ferreira Alves (que também  tem os seus méritos e talentos) já vem de longe. Na verdade, corria o mês de Dezembro de 1998 (há 17 anos, portanto) e, a contra-gosto, tive de escrever isto no Avante! :



Caprichos de uma pluma

Ao lermos, no último «Expresso», a crónica que Clara Ferreira Alves escreveu sobre «os senhores deputados», demos connosco a pensar que os autores de diatribes contra «a Assembleia» ou «os deputados» escrevem sempre, não apenas no pressuposto do sucesso fácil, mas sobretudo na certeza da dificuldade de alguém poder fazer a «defesa» da «Assembleia», isto é do órgão e de todas as suas decisões ou atitudes ou dos «deputados», isto é, de todos os deputados.
E isto porque a maior parte destes autores gostam muito de esquecer que a Assembleia da República é o único órgão de soberania de composição plural, pelo que, em geral, o seu pior e o seu melhor se ficam a dever, não tanto à instituição em si, mas às maiorias que nela se formam e às forças políticas que nela intervêm.

Entre outras coisas, pretexto à parte, o que impressiona na colecção de «clichés» tranquilamente repetidos pela cultíssima Clara Ferreira Alves é que ela não se tenha dado conta que quase tudo o que diz sobre a AR, longe de resultar de um esforço sério para saber quem faz o quê, como e em que circunstâncias, resulta sobretudo da «imagem» produzida pelos critérios que os «media» usam na cobertura dos trabalhos parlamentares.
E impressiona também que CFA acuse o discurso parlamentar de não pretender «alcançar mais do que o «soundbite» do telejornal e o subtítulo de jornal» e, quatro linhas à frente, já esteja a perguntar se «alguém se lembra, a propósito do aborto, da regionalização ou da famosa Europa, de uma frase, um sentido de voto,(...) determinados com clareza e sapiência na AR?», ou seja, já esteja no fundo a pedir mais e melhores«soundbites».
CFA nem sequer repara como seria cruel e injusto que alguém quisesse julgar as suas crónicas, em geral de indiscutível qualidade, com uma pergunta do género « alguém se lembra de alguma coisa inesquecível que, em 1998, tenha sido escrita na "Pluma Caprichosa"?»

Talvez Clara Ferreira Alves nunca o perceba ou nunca o reconheça, mas a sua crónica sobre «os senhores deputados» padece afinal da mesma superficialidade, da mesma demagogia e da mesma vacuidade que julga ter fustigado no que de pior ocorre de facto na vida parlamentar.
É que nós conhecemos um grupo parlamentar que, com apenas 13 deputados, consegue quase todos os anos ser o mais activo e o que apresenta um maior número de iniciativas legislativas. Nós conhecemos um grupo parlamentar, por sinal o mesmo, que honestamente ninguém poderá acusar de mergulhado na demagogia ou na «chalaça politiqueira» ou de passar o tempo «chupando os dentes de fome de poder», porque é incontestável que se alinha por assinaláveis padrões de seriedade e sobriedade e é bem conhecido por, quando muito, afiar os dentes por fome de justiça.


Conhecemos mas não dizemos o seu nome. Porque ficamos à espera que seja Clara Ferreira Alves a dizê-lo.
E se e quando o fizer, terá dado então uma contribuição para punir o que merece ser punido e mudar o que precisa de ser mudado na vida política e parlamentar do país mil vezes superior à da sua cómoda crónica sobre 
«os senhores deputados» e à dos seus equivocados suspiros por «uma revisão completa do sistema eleitoral». — Vítor Dias

«Avante!» Nº 1307 - 17.Dezembro.1998 

Os 115 e...

... a oitava praga do Egipto

Graças à crónica de Vasco Pulido Valente hoje no Público fiquei a saber que os 115 grandes empresários (qual empresas familiares, qual carapuça !) que publicaram um recente manifesto de apoio à direita ainda diminuidamente governante, para além de ameaçarem com as sete pragas do Egipto, ainda rosnaram que há «o facto de dois dos partidos que podem formar governo serem estatutariamente anti-iniciativa privada».
Sobre isto, apenas duas observações:

1. No Programa do PCP, pode ler-se quanto à fase da democracia avançada:

(....) 3. Para garantir este projecto de desenvolvimento económico, torna-se necessária uma organização económica mista, liberta do domínio dos monopólios, com sectores de propriedade diversificados e com as suas dinâmicas próprias e complementares, respeitadas e apoiadas pelo Estado, designadamente:
– um Sector Empresarial do Estado – empresas nacionalizadas, públicas, de capitais públicos e participadas – dinâmico, integrado e eficiente, abrangendo designadamente a banca e seguros e outros sectores básicos e estratégicos da economia (nomeadamente na energia, na indústria, nos transportes, nas comunicações), com uma estrutura empresarial diversificada, e desempenhando um papel determinante no desenvolvimento das forças produtivas e na aceleração do desenvolvimento económico;
– um sector privado constituído por empresas de variada dimensão (na indústria, na agricultura, na pesca, no comércio, que uns anosnos serviços), destacando-se as pequenas e médias empresas pela sua flexibilidade e pelo seu peso na produção e no emprego, e as pequenas e médias explorações agrícolas, nomeadamente as familiares, pelo seu papel na produção agrícola e pecuária e na preservação do mundo rural;
E, quanto ao socialismo, pode ler-se:
«(...) na organização económica, a propriedade social sobre os principais meios de produção, uma direcção planificada da economia combinada com a iniciativa e directa intervenção das unidades de produção e dos trabalhadores, a coexistência de formas de organização estatais, autogeridas, cooperativas, colectivas, familiares e individuais, com empresas privadas de diversa dimensão (...)
2. Porque a memória é consabidamente curta, até aposto entre os 115, devem estar muitos daqueles que, há uns anos, assinaram um manifesto em defesa dos «centros de decisão nacional»  e, logo a seguir venderam uma data de empresas a estrangeiros.

Porque hoje é sábado ( )

Jlia Hulsmann 

A sugestão musical deste sábado
 vai para a pianista de jazz alemã
Julia Hüllesman


Quatro pérolas de Álvaro Beleza

Digam lá se isto
não é uma beleza !

O sujeito em entrevista ao Público hoje :


«(...) Portanto, o PS viabilizaria um Governo que ficaria dependente do PS. Seria um Governo refém do PS. E a prazo, evidentemente. Se no prazo de um ano, esse Governo não mudasse de rumo, continuando com políticas austeritárias, ultraliberais, é evidente que o PS tinha um ano para construir uma alternativa com os partidos à sua esquerda.»

Comentário: e o que aconteceria à vida dos portugueses durante um ano seriam amendoins, não é, Álvaro Beleza ?

«(...)Prefere o PCP a Marine Le Pen?

Claro que sim. O PCP tornou-se num partido trabalhista e nacionalista. Na sua essência já não é um partido leninista. Já não é internacionalista, já usa a palavra patriota.
Já usava com Cunhal.

Comentário: mais um que confunde «nacionalismo» com «patriotismo» e mais um que não sabe que internacionalismo e paatriotismo, sem nenhuma contradição, fazem parte do código genético do PCP.

«(...)  O PCP é um partido muito conservador e muito rural.»

Comentário: a ignorância é, de facto, muito atrevida. Álvaro Beleza está prisioneiro de clichés que ouve há muito e não sabe que os votos recebidos pela CDU nos distritos de Portalegre, Évora e Beja e nos concelhos  de Santiago do Cacém, Grândola, Álcacer do Sal e Sines representam apenas 11,2% da sua votação nacional !!!

{O PCP] Ainda é revolucionário?
Não. O PCP, para mim, é um partido conservador, nacionalista, mas trabalhista, amigo dos trabalhadores e muitos deles, vê-se que é gente do trabalho, humilde, que passaram dificuldades. Toda a gente tem respeito pelos comunistas. Mas são o que são. E são uma família e têm uma história. É mais do que um partido. É quase uma religião. Basta ver a Festa do Avante!»


Comentário: olha, filho, quanto a isso, está descansado. Eu já escrevi à direcção do PCP a propor que, para o ano, a Festa anual do Partido se chama Festa do Avante! 2016 - Fátima 2.

06 novembro 2015

Eu não pedi este disco mas...

... agora é o acordo ser com três
em separado, a seguir é afinal não haver ministros do PCP e do BE no Governo,
a seguir será que..., e, depois ainda,
que..., mas respondam lá a esta inocente pergunta de um querubim político




E «country» para esta sua noite

Chris Stapleton e Justin Timberlake
(premiados no Country Music Association Award)