30 outubro 2015

Varrendo a testada

Será que preferem
«os amanhãs que zurram» ?


Só dificuldades técnicas me impedem de responder a milionésima repetição desta piada ou remoque republicando apenas uma crónica que publiquei no Avante! em 1990 um pouco antes do XIII Congresso (Extraordinário) do PCP e que, significativamente, se intitulava «Os amanhãs que já cá cantam !»

Na falta disso (que bastava) fiquem então estas breves observações:

1. A expressão foi criada pelo dirigente comunista francês e grande resistente antifascista Paul Vaillant-Couturier no seu poema «Jeunesse» e viria a ser repetida pelo deputado comunista Gabriel Peri fuzilado pelos nazis em 1941, no Mont-Valérien, nestes termos da sua última carta:

« Que mes amis sachent que je suis resté fidèle à l'idéal de ma vie ; que mes compatriotes sachent que je vais mourir pour que vive la France. Je fais une dernière fois mon examen de conscience. [...] J'irais dans la même voie si j'avais à recommencer ma vie. Je crois toujours en cette nuit que mon cher Paul Vaillant-Couturier avait raison de dire que le communisme est la jeunesse du monde et qu'il prépare des "lendemains qui chantent". Je vais préparer tout-à-l'heure des lendemains qui chantent. »

2. A expressão fez o seu  honroso curso e desempenhou o seu papel mas a verdade é que há mais de 55 anos que não é usada pelos comunistas embora reapareça constantemente na voz e na escrita de variados anticomunistas que nunca por nunca ser nos explicam se acaso preferem (como a sua prática política induz) os «amanhãs que choram» ou os «amanhãs que zurram»

E que se lixem os cidadãos !

Pedro Sousa Carvalho a
favor do «escrutínio de ladrões»
 

Manchete de L'Unità em 1953 sobre a
derrota
da «legge truffa»
  

Em artigo de opinião hoje no Público, o jornalista Pedro Sousa Carvalho sentencia a dado passso o seguinte :«(...)No caso português, tal como já acontece na Grécia e em Itália, talvez faça sentido introduzir o sistema do prémio de maioria, em que o partido mais votado ganha automaticamente um bónus de n deputados que lhe permita chegar à maioria absoluta. Sendo um sistema que distorce a representação proporcional, é útil para gerar estabilidade governativa em sistemas em que existe alguma dispersão de votos, ma non troppo.(...)».

A sentença merece-me apenas três observações:

1. Grandes democratas estes que, em nome da chamada »governabilidade» se estão completamente lixando para os eleitores e para a representação autêntica da sua vontade eleitoral.

2. Como tantos outros, Pedro S. Carvalho nunca deve ter reparado que quer em sistemas maioritários quer em sistemas de bónus há dezenas de milhares de votos que não elegem os deputados que deviam eleger e há dezenas e dezenas de deputados que acabam eleitos graças aos votos roubados à representação parlamentar de outros partidos, provocando uma infame desigualdade na eficácia de voto dos cidadãos.


3. E também não deve ter reparado que, mesmo no sistema eleitoral português (proporcional restrito por causa do método de Hondt e da existência de 20 círculos):

- cada deputado da PAF custou 19.500  votos;
- cada depoutado do PS custou 20.300 votos;
- cada deputado do BE custou  28.000 votos;
- cada deputado do PCP e do PEV custou   26.200 votos.

De bom grado

Dou alvíssaras a quem, nesta notícia (*)
do iencontrar um cisco de fundamento
para este destaque de 1ª página


(*) o mesmo vale para a entrevista
na íntegra de Jerónimo de Sousa à SIC

Ouvindo tanto palavrório «europeista»...

... apetece-me lembrar...



29 outubro 2015

Gincana de torcidelas

Assis igual a si próprio,
só é pena não lhe dar para o bem





Hoje dou-me ao luxo de citar generosa e longamente passagens do artigo de Francisco Assis no Público confiando que, por si mesmos, os leitores descubram as viciações a que ele procede.

«(...)1. A comunicação presidencial da semana passada teve, entre outras, a consequência nefasta de consolidar a ideia de que ao longo dos últimos 40 anos se viveu num regime de apartheid político com a exclusão dos partidos situados à esquerda do PS. Com o apoio activo de alguns sectores do Partido Socialista – nuns casos por pura má-fé, noutros por manifesto desconhecimento da nossa história democrática – os partidos da extrema-esquerda têm vindo a impor a tese segundo a qual foram objecto de uma ostensiva marginalização parlamentar de carácter não democrático. Ora isso pura e simplesmente não é verdade. 

« (...)O conceito de “arco da governação” nunca teve, da parte de quantos perfilham os princípios e valores de natureza demo-liberal, um significado ontológico ou sequer normativo. Tão-pouco ele resultou de uma vontade premeditada de exclusão de quem quer que fosse do debate político nacional. E de tal forma assim foi que em bom rigor essa exclusão jamais se verificou. Senão vejamos: os deputados do PCP e do Bloco de Esquerda – uns logo desde o início da Segunda República e os outros mais recentemente – contribuíram para a tomada de decisões parlamentares da maior relevância pública. Foram determinantes para derrubar governos, concorreram para a aprovação de legislação de inegável importância, participaram activamente no processo de fiscalização da acção executiva. Carece por isso de qualquer fundamento a proclamação em voga de que esses partidos vão agora ser resgatados a uma espécie de condição de clandestinidade parlamentar a que estariam votados.(...)»
«(...)Como tal, só é possível extrair uma conclusão séria: a extrema-esquerda parlamentar optou deliberadamente – com uma legitimidade, de resto, inatacável – por um acantonamento político impeditivo de qualquer participação não só na esfera estrita da governação, como no horizonte mais vasto de definição das grandes prioridades nacionais. Não foi excluída: auto-excluiu-se em nome da fidelidade a um modelo de regime e de organização económica e social claramente repudiado pela maioria dos cidadãos portugueses. Tentar inverter a situação releva de despudorado cinismo político. Seria bom que alguns actuais deputados do Partido Socialista que andam por aí levianamente a proferir barbaridades olhassem com mais rigor para a históriada «auto-exclusão» do partido que conjunturalmente representam. (...)».

E, face a esta gincana de sofismas e entorses argumentativos, só quero deixar três breves observações :

1.  Por mim, jamais falei de «apartheid» contra o PCP ou o BE em termos globais e totais até porque isso seria desvalorizar a relevantíssima contribuição do PCP para a discussão e antes parlamentar de numerosos avanços de carácter progressista as mais diversas áreas (a título de mero exemplo, lembro que foi em 1982 que, sózinho e sem êxito, o PCP propôs a despenalização do aborto).

2. É espantoso que Francisco Assis comece por citar a comunicação do PR e nem isso o leve a perceber que o que mais está em causa é um «apartheid» no que  respeita à participação ou infuência governativa.

3. Quanto à teoria franciscana da «auto-exclusão» , muitos agradeceriamos penhorados que Assis contasse e documentasse que diligências sinceras, sérias e de boa-fé fez o PS junto do PCP antes de formar governo com o CDS e depois com o PSD e mesmo depois antes da formação dos seus governos minoritários.

27 outubro 2015

Paulo Rangel ou...

... um caso perdido de
desonestidade congénita


Em artigo hoje no Público, Paulo Rangel arrota um desmedido elogio ao discurso do seu companheiro de partido Cavaco Silva e alinhava pressupostos que parecem directamente inspirados pelo artº 37º que ironicamente eu inventei para uma Constituição do Cavaquistal.

Para não ter de voltar a todos os truques, entorses e sofismas que esta gentinha anda a debitar, limito-me a dois exemplos:

1. A dado passo, Paulo Rangel (não posso abreviar para P.R. por causa do que se sabe) acusa o BE de «reivindicar, à semelhança do PCP, uma saída imediata da NATO» Ora já aqui demonstrei que do Programa Eleitoral do PCP consta efectivamente a defesa da «dissolução da NATO» mas não está lá nenhum reclamação de saída unilateral de Portugal daquela injustificável organização.

2. Depois, quase no fim, Paulo Rangel debita esta extraordinária pérola: «Enquanto o PCP conversa com o PS, os seus três deputados europeus convidaram todos os restantes (portugueses incluídos)  a assinar uma proposta  de emenda  ao orçamento europeu para se constituir uma linha financeira de apoio a uma saída negociada do euro. Em Lisboa, o PCP aceita ficar no euro mas em Bruxelas tudo faz para Portugal saia da zona euro. Não adianta desafiar Paulo Rangel a explicar o que é que uma parte atrás sublinhada tem que ver com a outra ou como é que  a criação daquela linha financeira (de eventuais, indistintos e abstractos beneficiários) tem que ver com a saída de Portugal do euro. Como, de igual modo, não adianta perguntar a Rangel se ele não leu a confissão de Schäuble de que 18 ministros do Eurogrupo tinham defendido o Grexit.


Francamente, caros leitores, depois
 do que todos temos gramado,
começo a desconfiar de que a
única maneira de discutir
com este pessoal ressabiado
é com argumentos ad absurdum.
 E, por isso, aqui fica
esta inocente pergunta :




Fernando Negrão

Não deve haver esse perigo mas
pode ser Ministro da Justiça alguém
que, enquanto director da Judiciária, promoveu em 1999 fugas de 

informação para o DN que ali eram 
escutadas em alta voz ?




Haja alguém que consiga encontrar uma nota da Direcção do DN em 1ª página onde contava tudo tintim por tintim. É verdade que Negrão veio a ser absolvido mas toda a gente na altura percebeu que se tratava de uma generosa sentença ditada por espirito corporativo. (Ler, por exemplo, aqui e aqui)

È bom lembrar !



E já nem falemos do valor dos salários reais destes trabalhadores que, depois de uma retenção na fonte de 20% para IRS e de pagarem 20 e tal por cento para a segurança social, se fixa em regra em 55% do seu valor nominal.



Um livro estrangeiro por semana ( )

La otra cara del Caudillo
Editorial Crítica, 448 p., 22.90 E.
António Elorza aqui em El País:«(....)Acierta Viñas al reconocer la exigencia de enfrentarse a la corriente historiográfica y política que con insistencia creciente trata de rehabilitar a Franco, exaltando sus supuestas realizaciones y destrozando de paso la imagen de la Segunda República con argumentos similares a los que esgrimieron los sublevados de 1936. El libro de Stanley Payne y Jesús Palacios Franco, una biografía personal y política (Espasa, 2014) es la mejor muestra de esa orientación, y, documentos en la mano, Viñas se entrega a la labor de desmantelarla página a página. .El único reproche a esa tarea consiste en la forma adoptada, de ir invalidando las posiciones neofranquistas una por una, de manera que la interpretación pierde fluidez expositiva y la crítica asume una innecesaria aspereza. La ironía es más útil que el sarcasmo. Unas notas a pie puntuales hubieran podido resolver la cuestión, relegando las menciones bibliográficas al final de los capítulos.
Más allá de las aportaciones relativas a aspectos sectoriales —la espléndida sobre el Ejército como instrumento de la disuasión, el antisemitismo o el apunte sobre el enriquecimiento de Franco durante la guerra—, Viñas realiza un esfuerzo considerable, siempre armado con referencias documentales, para refutar la conocida interpretación de Juan Linz del franquismo como régimen autoritario, tema que vinculara ya en tiempos Juan José Carreras al americanismo del “centinela de Occidente”. (...)»

naõ esteja de rastos, esteja «ai, vitor». amanhã ligo..... a minha noite vai toda «ai, ruth....» beijos, aí e aí