29 setembro 2014

As "primárias" e a democracia

Em tempo
e contra a corrente


Se a cultura política de alguns dos que hoje chamam às «primárias» do PS quase um monento fundador de uma nova e mais perfeita democracia portuguesa tivesse menos cuspo e mais conhecimento histórico então teriam antes de reconhecer pelo menos três coisas: a primeira é que, no fundo, elas são uma expressão máxima da «americanização» da vida política na Europa; a segunda é que elas ( e, em geral a chamada «política-espectáculo») foram inventadas e consolidadas nos EUA (e chegaram a França nos anos 60 do século passado com a candidatura de Lecanuet) com o pretexto de assim se aproximarem os cidadãos da política e reduzir a abstenção, sendo que ainda hoje a abstenção eleitoral nos EUA continua a atingir medonhas proporções (apesar de milhões e milhões participarem nas primárias); e a terceira é que, nos dias de hoje e pelos critérios hoje dominantes, grandes políticos e estadistas do passado, como se pode ver abaixo pelo estilo e voz de Pierre Mendés-France, não teriam a menor chance.


aqui aos 9.10 por exemplo

P.S.1:  Acresce que há histórias sobre «primárias» que nunca nos contam : por exemplo, a que ocorreu em Itália há não muito tempo quando Pier-Luigi Bersani ganhou as «primárias» no Partido Democrático para líder do partido, ganhou as eleições mas depois, uma vez encarregado de formar governo, não o conseguiu por ostensiva manobra de sabotagem de boa parte dos deputados e da direcção do PD, acabando por formar governo um tal Enrico Letta que não tinha ido a «primárias» nenhumas.

P.S.2: Parecem-me também muita exageradas as considerações sobre a enorme participação nestas «primárias» com efeito, os resultados que estão no sítio do PS referem que para 248,573 inscritos votaram 174,770 ou seja, cerca de 70%. Dir-se-á que é mais mais do que a tazxa de participação nas eleições nacionais. Mas a comparação é esquemática porque esquece que, no que toca aos simpatizantes, houve um movimento de inscrição voluntária para esta votação. O que dados mostram é que, nestas circunstâncias ditas apelativas cerca de 70 mil militantes e simpatizantes ficaram em casa, sendo legítimo deduzir que umas dezenas de milhar se inscreveram para uma coisa que afinal resolveram não exercer. Do ponto de vista do interesse em termos de sociologia política, acrescento que, sendo os cadernos eleitorais separados para militantes e simpatizantes, é uma pena que não tenha sido revelado qual a taxa de particpação para cada uma dessas categorias.

Adenda: para um lúcido e mais desenvolvido comentário a esta questão, ler aqui João Vasconcelos-Costa

28 setembro 2014

Já está


imagem copiada de Miguel Jeri
Não tenho nada que ver com a vida interna do PS e, quanto ao mais, calcula-se bem que pense que o problema não é de caras mas de políticas diferentes das que o PS tem seguido e, quanto a isso, desta disputa saiu nicles, zero, nadica de nada. Mas perante o endeusamento que muitos fizeram das primárias, só quero lembrar que, de um ponto de vista legal e teórico, agora na eleição directa para SG antes do necessário  Congresso  podia muito bem concorrer e quem sabe ganhar um companheiro de ideias de António José Seguro e estaria criado um berbicacho de todo o tamanho. Dirão muitos leitores que, depois desta vitória esmagadora de Costa, ninguém vai fazer isso e todos vão aceitar que a vida interna do PS acabe por ser condicionada por umas primárias que nem sequer tem consagração estatutária. Mas olhem que grande democracia partidária esta em que eventualmente os que só tiveram este direito e não têm dever nenhum - os simpatizantes -  podem , eventualemnte e em certa circunstâncias decidir mais e mais duradouramente que aqueles que têm direitos e deveres - os militantes. A isto acaba de chamar António José Seguro «a melhor forma de comemorar os 4o anos do 25 de Abril» !-


 António Costa, na declaração
após a sua vitória

Onde é que já ouvi isto ? 
já a seguir !

Também trabalho para aquecer

Fazendo de ghost-writer
do vencedor de logo à noite


no DN de ontem

"De olhos nos olhos de todos os militantes e simpatizantes socialistas que participaram nesta grande jornada democrática, quero aqui dizer, com plena sinceridade e autenticidade, que a minha vitória não é a derrota de ninguém, é apenas e só, o que é muito, uma vitória do Partido Socialista, no caminho para as vitórias de que, não tanto o PS, mas o país e os portugueses precisam.
Dirão alguns que depois desta disputa eleitoral interna não podem ter deixado de ficar feridas ou até alguns ressentimentos. Ao contrário do que talvez alguns esperassem, quero admitir que sim mas logo quero acrescentar que, se assim for, isso apenas prova que a paixão política não nos fez deixar de ser fragilmente humanos. Do que estou absolutamente certo é que saberemos sarar rapidamente tais feridas, não apenas em nome dos valores que fazem a honrosa identidade e história do Partido Socialista mas sobretudo porque, para bem dos portugueses, é preciso estancar e sarar essa ferida gangrenada na vida do país que é a governação da direita."

Para o seu domingo, voltando sempre a

Luz Casal




27 setembro 2014

O crime impune

Há 35 anos, o assassinato
de Casquinha e Caravela



Quadro de Joan Hogan (copiado de aqui)


Naturalmente entre muitos outros, um dos posts que mais pena me fez perder com o desaparecimento da primeira série de «o tempo das cerejas» era extensa e fundamentadamente dedicado ao assassinato de Casquinha e Caravela. Esse post arrasava ainda as efabulações ou confusões de memória manifestadas em então recentes declarações de Hélder Macedo, ministro do governo de Maria Lourdes Pintasilgo que afirmava ter ocorrido então um tenso conflito e choque entre o PCP e Maria de Lurdes Pintasilgo. Esse post incluia designadamente, em frontal desmentido dessa ideia, o comunicado integral da então SIP do PCP em que o acontecimento era tratado como uma provocação de direita contra o próprio governo de Pintasilgo e, quanto a este, significativamente o mais que dizia é que «devia tirar as devidas ilacções daquele crime».

Há 46 anos

O PCP e a posse
de Marcelo Caetano

(alertado para a data por um post de Joana Lopes)



 ler melhor aqui
(usando o Google Chrome)

Sempre escondendo o essencial

O título que nunca veremos
(é estranho mas comece por ver a ADENDA)

para o Expresso,  só temos direito a isto
Adenda: muito importante:
UM LEITOR, A QUEM FICO MUITO GRATO, CHAMA A ATENÇÃO PARA QUE ESTA SONDAGEM É DE JUNHO.E TEM RAZÃO.
ACONTECE QUE ME PARECEU VER ANUNCIADA NA PÁGINA ONLINE UMA SONDAGEM DO EXPRESSO SOBRE LEGISLATIVAS E FUI PARAR ALI.
E, pronto, não reparei na data.
Mas, fora isso, o comentário continua perfeitamente pertinente.

Sobre a famosa «regulação»

Nada que não se suspeitasse




Porque hoje é sábado (497)

Carmen Lundy


A sugestão musical deste sábado é dedicada
à cantora e compositora de jazz norte-americana
Carmen Lundy e ao seu último álbum
Soul to Soul






mais aqui do lado direito