.. as larguíssimas
costas da União Soviética
Referindo-se a uma acção policial em Portugal contra uma organização criminal, o Público de ontem refere (sublinhados meus) que «Obedeceriam aos tradicionais valores do crime organizado da antiga União
Soviética. Funcionariam dentro de uma estrutura hierarquizada. Teriam
nas suas fileiras “ladrões em lei”, pessoas com grande experiência
criminal, “coroadas” através de rituais precisos, sujeitos a um apertado
código de conduta.» E, para explicar manhosamente estas referências, alude depois a que«Os “ladrões em lei” surgiram no tempo de Estaline para dominar o crime
dentro dos campos de trabalho forçado. A sua lógica subsiste até hoje
nas redes de crime organizado de diversos antigos estados soviéticos.»
Sobre isto, o que apenas tenho a dizer é que é preciso muita ignorância histórica ou má-fé para não saber que na União Soviética o crime organizado tinha uma expressão muito limitada e era objecto de firme repressão (incluindo a pena de morte) e para ignorar que foi com a desagregação da URSS que se verificou o nascimento de poderosas e tentaculares máfias num fenómeno indissociável do processo de selvagem roubo de bens e riquezas públicas que deram origem aos oligarcas hoje tão criticados como protegidos nos tempos de Ieltsin pelo Ocidente.
Deixem pois a União Soviética em paz e procurem sim as raizes do cancro do crime organizado na Rússia de hoje e das suas extensões internacionais naquilo que festejaram e aplaudiram.