16 julho 2014

Que grande desarrincanço

Que ninguém me chame pateta...

na 1ª página do i

...quando em Setembro eu escrever que num Benfica-Porto estiveram muitíssimas mais pessoas do que nasceram  crianças em Portugal,

15 julho 2014

Quem te avisa ou antes ...

... uma inocente sequência antológica


 aqui
 Hollande, no comício de Bourget,
em campanha eleitoral

 Michel Sapin, ministro de Hollande, há dias
(Ver aqui)

Acreditem, este é um post escrito com mágoa

Um conselho filho de simpatia
e estima: para férias, já !


Alguém (para o efeito que pretendo o nome não interessa nada) acaba de declarar o que se lê em cima. Face à frase, contrariando o meu impulso mais forte, eu poderia fazer um esforço para explicar como é tarefa fácil  partidos menos influentes  puxarem o PS para a esquerda. Poderia também ocupar-me a desvendar a manifesta contradição entre os dois termos principais da frase dos quais resulta essa coisa espantosa que é haver indisponibilidade do PS para isso mas manter-se em primeiro lugar a incapacidade de a esquerda à esquerda do PS o trazer para a esquerda. Mas, sinceramente, não estou com ânimo físico e disposição intelectual para isso. Prefiro antes deixar dois exemplos de frases alternativas, uma mais ditada pelo rigor e outra mais ditada pela ironia. Assim:

14 julho 2014

A respeito da matriz genética do BE

Um chato e longuíssimo post
sobre a reescrita de uma história


Esclarecendo que estou tão a milhas das discrepâncias dentro do Bloco de Esquerda como do confronto Seguro-Costa no PS, porque nestas coisas sobra sempre alguma coisa sobre terceiros, há coisas para que tenho de chamar a atenção, em respeito pelo que eu julgo ser a verdade histórica.

É assim que não posso deixar de registar que a corrente Manifesto do BE acaba de escrever o seguinte (sublinhados meus):


Lido isto, uma vez que sobre «o PCP indisponível para a governação» já respondi aqui (e esse post aplica-se perfeitamente ao simplismo da crónica de Rui Tavares hoje no Público), tenho de dizer que ou estamos perante um patente caso de amnésia política ou perante um caso de conveniente reescrita da história, pois, na minha opinião,  no tempo da fundação e nos primeiros anos de vida do Bloco a «construção de pontes» ou «o diálogo entre as esquerdas» ou as disponibildades para responsabilidades governativas eram quase zero, vingando sim a linha de orientação consagrada na fórmula «correr por fora». E aqui chamo a atenção para que o «correr por fora» não é invenção minha, como se comprova por esta passagem  escrita há não muito tempo por Daniel Oliveira no «arrastão».


Aqui chegado, eu poderia tentar fazer um resumo do que nos anos iniciais era de facto a orientação táctica e estratégica do Bloco mas, para não se perderem certos elementos mais vivos e factuais da época o que proponho a quem tiver paciência para tanto é uma viagem pelas partes sublinhadas em  três crónicas minhas sobre o BE publicadas em 1999, 2002 e 2004 e que creio mostrarem insofismávelmente que «o compromisso matricial» do Bloco agora tão invocado é uma construção dos dias de hoje. É muito longo e chato mas mais longo seria proceder aqui a uma antologia de declarações de dirigentes do PE que com algum trabalho poderia reunir.

Começar mal
(Avante! de 21.1.1999)
Por ocasião do lançamento, no último fim de semana, da tentativa de mais uma experiência de agregação eleitoral na área da UDP, do PSR e da Política XXI, alguns dirigentes do PSR e da UDP produziram declarações relativas ao PCP que se arriscam a ficar como um lamentável indício de qual poderá ser o seu verdadeiro desígnio eleitoral e dos tristes métodos que se dispõem a usar para o atingir.

Com efeito, e só para citar algumas frases mais significativas, Alberto Matos (UDP) invocou as «ambiguidades» do PCP face ao PS e falou das « «colagem do PCP ao Governo à espera de uns lugares». Luís Fazenda (UDP) referiu que o país não precisa de «uma oposição que num dia proteste e no dia seguinte esteja a tentar um negócio de poder», reclamando de seguida que «o PCP que se defina». E, para abreviar a lista, acrescente-se que Heitor de Sousa, no Congresso do PSR, terá também acusado o PCP de ter uma posição de compromisso com a política de direita assim induzindo uma postura conformista e rotineira do movimento operário.

Deixando-nos de punhos de renda, é caso para dizer que os autores destas declarações, proclamam querer «começar de novo», mas começam é mal.
Porque começam por deturpar, falsificar e amesquinhar a indiscutível realidade de que o PCP tem sido a grande força de oposição de esquerda ao Governo do PS, agindo em todos os planos da vida nacional com rigorosa autonomia política e estratégica e desempenhando um papel incontornável não apenas na defesa de interesses populares imediatos mas também na luta por valores, por uma política e por um projecto alternativo de esquerda.

Porque começam dando objectivamente continuidade à operação lançada pelo PSD, e especialmente acarinhada pelo «Expresso», para apresentar o PCP como «muleta do PS», precisamente para fazer esquecer que, nesta legislatura e nas matérias fundamentais e decisivas, os grandes aliados do PS têm sido o PSD e o PP.
Porque começam com o truque de, olhando o campo da esquerda, precisarem de decretar que é um deserto para melhor se apresentarem a si próprios como uma miragem do desejado oásis.

Éisto que, para já, não deixamos passar em claro.

(...)

Colo, doce colo
(Avante! de 14.3.2002)
Pelos vistos, a campanha não podia terminar sem que responsáveis do Bloco de Esquerda dessem mais um testemunho da sua peculiar «nova forma» de fazer política que consiste em deturpar, fria e premeditadamente, as posições do PCP.

Com efeito, discursando na Aula Magna e depois de se referir à orientação do CDS-PP, Miguel Portas sentenciou que «o problema do Partido Comunista nesta disputa eleitoral é que a sua proposta é, no fundo, simétrica, obviamente diferente, mas é simétrica [à do CDS-PP]. O PS é péssimo, horroroso, mas desde que o PCP esteja no Governo, a coisa obviamente que é outra».
A questão é apenas esta: Miguel Portas sabe perfeitamente que o que o PCP anunciou e reiterou, para depois de 17 de Março, foi a sua disponibilidade «para examinar com as outras forças democráticas as possibilidades de definição de uma política de esquerda (que signifique um ruptura com a política até seguida) e de concretizaçao de uma solução governativa capaz de a respeitar, garantir e aplicar». Logo acrescentando que, para isto, o que mais conta é o reforço da votação da CDU.
Confundir a precisa, rigorosa e importante substância desta posição  com qualquer propósito de ir para o governo a qualquer preço e, ainda por cima,  com o efeito automático de transformar o «péssimo» em óptimo e o «horroroso» em exaltante é uma pura e lamentável desonestidade, bem representativa  das mais velhas e bafientas formas de fazer política, à esquerda ou à direita.
Acresce que esta autoproclamada «esquerda moderna» também parece não ter grande apreço pela coerência. Em entrevista a F. Louçã (28/2), uma  jornalista do «Público», em ostensiva deturpação, aludiu a que para o PCP «o PS e o PSD são a mesma coisa». Louçã aproveitou gulosamente a boleia e logo desancou no «discurso simplista do PCP, como se todos os gatos fossem pardos em noite de lua nova». O problema é que se, neste âmbito, não existissem dezenas de outras afirmações de dirigentes do Bloco de brutal amálgama entre  o PS e o PSD (como o PCP nunca fez), aí estaria a recente afirmação de Louçã no mesmo comício de que PS e PSD eram irmãos «absolutamente siameses» para se saber em que cabeças passeiam gatos pardos e quem é que debita um «discurso simplista».
Os responsáveis do Bloco andam manifestamente felizes por, nesta campanha, serem positivamente levados ao colo pela maior parte dos órgãos de comunicação social que, como é sabido, suspiram por uma política radicalmente de esquerda.  -
Felizes podem estar, apesar do bonito serviço que em Dezembro prestaram à cidade de Lisboa. Mas deviam saber que impunidade política é coisa que, se não a reclamamos para nós, também não a concedemos a ninguém.

No Avante" de 23.12.2004
Para quem compreensivelmente se tenha perdido pelo caminho, é só reparar, para além de outras diferenças, que onde hoje há supostamente «um PCP indisponível para a governação», há 15 ou 10 anos havia um PCP sobre o qual se lançava a suspeição de que querer fazer «um negócio de poder» com o PS.

Solidariedade com os palestinianos



13 julho 2014

Para o seu domingo, voltando a

The Manic Street
Preachers em Futurology






Sobre uma crónica de Luís Osório

Cuidado com as fantasias literárias



Via Facebook da minha amiga Alice Vieira descubro no Sol uma crónica de Luís Osório sobre o casal Alice Vieira-Mário Castrim que, sob o infelicíssimo título que está aí em cima, no geral, constitui um interessante  testemunho pessoal do autor, carregado de ternura, apreço e admiração, pelo que compreendo muitíssimo bem que a Alice o tenha publicitado na sua página no Facebook.

Até aqui tudo bem, acontece porém que, logo no segundo parágrafo do texto, de boca aberta e olhos arregalados, leio o que se segue:
E, lido isto, testemunho pessoal por testemunho pessoal, também quero deixar o meu de que só soube que Mário Castrim era católico quando cheguei à capela mortuária e vi que estava uma cerimónia ou acto com características religiosas.

Aqui chegados perguntará Luís Osório ou perguntarão muitos leitores: mas o que é que isso prova, ainda por cima vindo de uma pessoa que tem fama de distraído e muitas vezes foi acusado de não cumprimentar camaradas (quando, na verdade. era só porque estava a pensar no comunicado que tinha de escrever ou na receita milagrosa para a alternativa) ?

Peço desculpa mas prova muito. Porque não há distracção que explique que seja só no funeral de Mário Castrim que sabe que ele era católico alguém que, para não falar do para trás, trabalhou 29 anos na António Serpa e na Soeiro Pereira Gomes, exerceu importantes responsabilidades no PCP, participou em centenas de reuniões e em milhares de conversas com militantes na sede central do PCP e pelo país fora ( e inevitavemente, em muitas foi referido o Mário Castrim) e teve contactos particularmente intensos e regulares com jornalistas comunistas. 

Este meu testemunho não invalida evidentemente que muitos outros dirigentes ou militantes comunistas  soubessem que Mário Castrim era católico. O que, imodéstia à parte, não só invalida como arrasa a ideia de que Alice Vieira (que só por Luís Osório soube agora também ser católica, vejam lá !) e Mário Castrim tenham sofrido, do lado do PCP, por serem «comunistas e católicos», sendo uma fantasia delirante a ideia de que, entre os comunistas, haveria alguma intranquilidade ou sensação de não poderem confiar totalmente na Alice e no Mário por serem católicos.

Bem se sabe que há estórias e fantasias que são boas e úteis  para alguns autores apimentarem as suas crónicas. Mas que ninguém conte que eu fique calado quando essas fantasias vêm negar o honroso e valioso património histórico do PCP que é o de, na sua vida interna e no relacionamente entre comunistas, as opções religiosas de cada um serem de uma total irrelevância.

12 julho 2014