15 maio 2014

Sinceramente, nem quero acreditar

A eterna gratidão do PSD e CDS,
não pelo 25 de Abril, mas por isto


Sim, os jornalistas do Público e da LUSA devem ter ouvido mal a percentagem e amanhã teremos certamente a devida rectificação por parte do Coronel Vasco Lourenço. É que se tivessem ouvido bem, havia todas as razões para PSD e CDS agradecerem penhorados e comovidos uma fasquia tão baixa e a roçar o absolutamente improvável e fazerem as pazes com este valoroso capitão de Abril. 

Um dado essencial para o voto de 25 de Maio

Uma verdade tão
antiga quanto varrida

para debaixo do tapete


E, de repente, uma verdade elementar para  a qual o PCP chama a atenção há cerca de 20 anos sobe a destaque de primeira página no Público. Mas, ao lado desta realidade e com ligação com ela, há outras duas que também devem ser lembradas: uma é que passaram sucessivos governos e primeiros-ministros do PS, do PSD (com ou sem CDS) e não há memória de alguma vez algum ter entrado em conflito em matérias relevantes com as orientações dominantes na União Europeia.; e a outra é que, como até Mário Soares várias vezes reconheceu, foi no período em que os partidos socialistas e social-democratas governavam 11 dos então 15 países da UE que se deu um poderoso e premeditado impulso às políticas neoliberais (*) que, em grande medida, nos fizeram chegar a este ponto. Como já tem feito, João Ferreira, em cada debate com Rangel e Assis, vai continuar a desafiá-los - e faz muito bem - para que contem que graves divergências tiveram PS e PSD ao longo da participação de Portugal na integração europeia. Mas todos podemos esperar sentados.

(*) A este respeito, é absolutamente de não perder o artigo de Manuel Loff no Público de hoje. E talvez valha a pena ler (ou reler) este meu post intitulado «A memória de Delors e a minha» que faz link para uma peça publicada em 2011 no insuspeito Nouvel Observateur.

14 maio 2014

Ainda o Eurobarómetro especial «Europeias 2014»

Façam favor de comparar isto
com o discurso e a propaganda governamentais



opiniões e atitudes manifestadas
nesta sondagem
(organizada pela
Comissão Euopeia, note-se)
pelos
inquiridos portugueses

atitude face à vida que levam :

- 62% insatisfeitos;
- 36% satisfeitos

atitude face à situação económica nacional:

- 97% insatisfeitos (o valor + alto da UE)
- 3% satisfeitos

situação financeira do lar:

- 87% má  (2º mais alto da UE)
- 32% boa

situação do emprego no país:

- 97% má ( 3º valor + alto da UE)
-   2 % boa

qualidade de vida no país:

- 83% má
- 17% boa

expectativas próximos 12 meses:

- 30% piores
- 17% melhores
- 48% sem mudança

expectativas situação económica
do país nos próximos 12 meses
:

- 45% piores (2º valor + alto da UE)
- 16% melhores
- 35% sem mudança

expectativas situação financeira
do lar nos próximos 12 meses
:

- 35% piores
- 16% melhores
- 32% sem mudança

funcionamento da democracia no país:

- 83% insatisfeitos (valor + alto da UE)
- 16% satisfeitos 

funcionamento da democracia na UE:

- 66% insatisfeitos (2º valor + alto da UE)
- 20% satisfeitos

O país faria melhor face ao
futuro se não estivesse na UE
:

- 37% concordam:
- 52% discordam

futuro da UE:

-  53% pessimistas
-  32% optimistas

imagem da UE:

- 36% negativa (3º valor + alto da UE)
- 27% positiva
- 34% neutral

confiança na Comissão Europeia:

- 66% desconfiança ( 2º valor + alto da UE)
- 29%% confiança

confiança no Banco Central Europeu:

- 67% desconfiança (3º valor + alto da UE)
- 27% confiança

a sua voz conta na Europa:

- 71% discorda
- 26% concorda

a sua voz conta em Portugal:

- 59% discorda
- 40% concorda

em que direcção vai o país:

- 52% má
- 21% boa
- 21% nem boa nem má

Na «mouche»

Uma inocente pergunta
de Jack Dion em Marianne


 a ler aqui

13 maio 2014

PCP no Parlamento Europeu

230 páginas de
prestação de contas


Disponível aqui e certamente de grande interesse e utilidade sobretudo para todos os que promovem (ou dão como boa) a campanha generalizadora sobre os vícios do sistema político e sobre a geral falta de prestação de contas por parte dos eleitos dos partidos.

Democratas da mais fina cepa

Mas, para ele, se a Venezuela
não tivesse a sua CNE, já seria
um escândalo de bradar aos céus!


Isso é que era!

No dia 17, o que o governo
devia anunciar e jurar é
que
nada disto é preciso !


DN

12 maio 2014

Eurobarómetro especial divulgado hoje

Inquiridos portugueses:
85% não confia no governo,
70% não confia na União Europeia,

50% em desacordo com o euro


confiança ou não no governo nacional


Portugal: a quarta maior desconfiança

confiança ou não na União Europeia


Portugal: a terceira maior desconfiança

Quelle est votre opinion sur chacune des propositions suivantes ?
Veuillez me dire, pour chaque proposition,
si vous êtes pour ou si vous étez contre
a) Une union économique et monétaire
européenne
avec une seule monnaie,
l' euro
(sondagem integral aqui)

Uma vida a escrever para o boneco

A mesma parvoíce de
há oito ou dezoito anos !


na 1ª página do DN



No passado sábado, a propósito da visita do primeiro-ministro e respectiva comitiva a Angola, o Expresso ostentava em 1ª página o título “Angola – Sócrates leva 1/3 do PIB” e, similarmente, o PÚBLICO, embora com a discrição de uma página interior, também oferecia aos seus leitores o título “Sócrates leva um terço do PIB a Angola”.
Partindo do princípio de que, apesar do prometido e bem-aventurado “choque tecnológico”, nas redacções dos jornais ainda não haverá nenhuma máquina que converta expeditamente um certo número de grandes empresários em fatias do Produto Interno Bruto, não é arriscado prever que a conversão apresentada em simultâneo nos títulos dos dois jornais tenha partido de informações do gabinete do primeiro-ministro ou da “central de comunicação” do Governo (esperando-se que, a esta hora, Santana Lopes já tenha percebido que os espertos fazem as coisas e não se põem a legislar sobre elas).
Passando ao lado de memoráveis simplificações jornalísticas (do género “a construção civil portuguesa passará igualmente a próxima semana em Angola”) que se seguiram à inicial conversão, por fontes governamentais, de 77 grandes empresários em 1/3 do PIB nacional, cumpre agora sublinhar que uma tal concepção ou critério significa pensar, sentenciar ou instituir que os grandes empresários são os únicos que contribuem para o PIB de Portugal.
E que, em consequência, em termos de contribuição para o PIB, não passam de meros verbos de encher, para não dizer coisa pior, as operárias, os agricultores, as empregadas de escritório, os trabalhadores dos serviços, as secretárias, os engenheiros, as juristas, os economistas e por aí fora, enfim todas aquelas variadas profissões e actividades que representam esforço e trabalho humanos e que, até aqui e pelos vistos erradamente, se supunha participarem, directa ou indirectamente, na criação da riqueza nacional.
Se assim é, há então um conjunto de propostas, de inquietações e de interrogações a que honestamente não me posso furtar.
Em primeiro lugar, creio que deveria merecer séria ponderação se não se justificaria uma revisão constitucional (a oitava!) para que, um pouco como se faz com as viagens do Presidente da República ao estrangeiro, a Assembleia da República tivesse de autorizar prévia e expressamente o primeiro-ministro a levar partes do PIB a viajar lá fora, sempre que não se tratar de actividades exportadoras.
Em segundo lugar, sabendo-se como os ciúmes podem envenenar relações e provocar ralações, o Governo do PS, se ainda não o fez, devia dar uma rápida garantia pública ao segundo terço do PIB de que será levado pelo primeiro-ministro à América Latina e que ao último terço caberá ser transportado aos “países emergentes” da Ásia, com regresso pelo Pacífico e escala em Aspen, na Disneylândia e, para disfarçar, em Silicon Valley (um dia em cada sítio). 
Em terceiro lugar, se 77 empresários é igual a 1/3 do PIB, isso significa que, durante os quatro dias da sua visita a Angola, o PIB criado nesse período em Portugal descerá um terço em relação ao que seria normal, e não só não vejo como é que isso contribui para a tão ansiada e anunciada “retoma” como acho mesmo tratar-se de uma atitude absolutamente irresponsável.
Em quarto lugar, porque com a saúde da nossa economia não se brinca, só espero que o dr. Correia de Campos se tenha lembrado de mandar o tal 1/3 do PIB à prudente vacinação no Instituto de Higiene e Medicina Tropical.
E, em quinto e último lugar, não sendo Portugal um país produtor de diamantes, se um terço do nosso PIB cabe num avião então a crise está para durar e lavar e vão ter de ser revistas em enorme baixa todas as previsões da UE, da OCDE, do FMI e do Banco de Portugal, cujo isento Governador, de passagem o refiro, apesar de estarmos em Abril, e ao contrário do que sucedeu o ano passado, ainda não divulgou nenhum estudo quantificando o défice orçamental que se vai registar em 31 de Dezembro próximo.
Alguns peritos numa disciplina que se poderia chamar a aborrecida “previsibilidade” do “discurso” de pessoas com a minha colocação política e ideológica devem estar a pensar que, fatal como o destino, a seguir virá certamente a acusação de que, também nesta matéria, o PS copia os partidos da direita e ainda alguma evocação ou citação de Marx e da sua obra, seja na modalidade da terrível “vulgata”, seja em termos mais complexos e elaborados e, por isso mesmo, mais defendidos da crítica de primarismo ou esquematismo.
Lamento sinceramente a surpresa que possa causar, mas a verdade é que nem uma coisa nem outra são apropriadas, úteis ou necessárias neste contexto de uma despretensiosa reflexão sobre a viagem de 1/3 do PIB a Angola pela mão firme, embora algo abusadora, do primeiro-ministro.
Com efeito, seria muito injusto acusar o Governo do PS de, ao “vender” esta concepção ou ideia de que grandes empresários igual a PIB ponto final parágrafo, estar a copiar o PSD ou o CDS-PP, pela simples razão de que, neste campo e em outros, o PS tem o seu próprio património de dislates e enormidades.
Na verdade, o que as fontes governamentais, certamente próximas do primeiro-ministro, fizeram foi apenas copiar declarações públicas do então primeiro-ministro António Guterres, na sua visita ao Brasil em fins de Abril de 1996, que – além desse “must” que são as clássicas referências à “nata” empresarial -  também veicularam a ideia de que a comitiva de grandes empresários que o acompanhava representava 40% do PIB, o que já na altura me pareceu uma atitude muito pouco católica.
E, por fim, é altura de explicar que evocar ou citar Karl Marx a respeito deste assunto seria quase o mesmo que pedir a Einstein que participasse numa discussão sobre erros de arbitragem em jogos de futebol da Super Liga portuguesa.

É muito mais apropriado, embora pessoalmente deveras doloroso, concluir esta digressão afirmando que, por comparação com as concepções que inspiram estas identificações exclusivas dos grandes empresários com o PIB, até a encíclica papal Rerum Novarum, publicada há 115 anos por Leão XIII, faz figura de documento bastante progressista e avançado.
É, sem dúvida, um triste e inquietante sinal dos tempos que o tenha de escrever quando corre o sexto ano do terceiro milénio.

Apelo aos eleitores

Rede europeia de economistas
progressistas apela a um voto

que não seja nem no «centro-direita»
nem no «centro-esquerda»



Apelo integral aqui