Crónica de um enfado
De repente, e por alguma má ou boa razão, uma data de gente (Ricardo Costa, Henrique Monteiro, Daniel Oliveira, Paulo Rangel e outros), resolveu envolver-se numa discussão sobre o sistema eleitoral português designadamente para a A.R. e lá voltam, com diferenças de opinião é certo, as conversas sobre círculos uninominais, sobre escolhas preferenciais de candidatos pelos eleitores, sobre a redução do papel e poder dos partidos ou das suas estruturas na elaboração das listas e por aí fora. E até há quem - Henrique Monteiro - consiga titular um seu artigo desta forma «Uma proposta eleitoral que assusta ainda mais os partidos» esquecido de que, no essencial, nesse seu artigo o que veio defender foi uma pérfida e complicada proposta apresentada há mais de 18 anos pelo PS e sem objecções de fundo por parte do PSD.
Eu sei que muitos leitores terão boas razões para ver nisto uma afirmação do meu ego, mas não posso deixar de dizer que, se eu tivesse paciência e disposição para colocar online (em «os papéis de alexandria») os principais textos que, sobre estas matérias escrevi nos últimos 30 anos, certamente muitos compreenderiam e desculpariam o meu actual enfado.
É esse enfado que me leva a este respeito a salientar de momento apenas o seguinte:
1. Não se pense que sou um acérrimo defensor do actual sistema eleitoral para a AR (só o serei por comparação com outros desgraçadamente piores) e não sou porque este é ainda insuficientemente proporcional (e só se pode transformar em mais proporcional com a agregação de distritos e/ou com aproveitamente de restos de votos);
2. Mesmo que algumas personalidades não tenham essa intenção, considero que os eixos centrais desta discussão, enviesando o debate para a escolha dos candidatos ou protagonistas políticos (sem dúvida importantes), acabam, e com maior gravidade nas actuais circunstâncias nacionais, por desviar as atenções da evidência maior de que o fulcro está nas políticas propostas ou realizadas e não tanto nas pessoas concretas que as executam.
3. Relembro aos comentadores e politólogos porventura distraídos que, por mais voltas que derem e sejam quais forem as rtegras internas que os partidos adoptarem, uma coisa nunca mudará: ninguém se candidatará por partidos sem o aval das respectivas direcções nacionais pois são elas que detêm (e não se vê como de outra maneira pudesse ser) o exclusivo poder de representação legal e jurídica dos partidos.
4. Estou mortalmente cansado da bafienta mas milagrosamente sempre jovem patacoada de, com círculos uninominais «toda a gente saberia quem é o seu deputado, o representante do seu círculo» (Henrique Monteiro) e, pela enésima vez, volto a dizer que esta ideia de, para todos, haver um «representante do seu círculo» é uma aberração antidemocrática pois eu e muitos outros que votamos CDU numa circunscrição eleitoral uninominal em que manifestamentamente só pode ser eleito um candidato do PSD ou do PS não nos sentiremos por eles representados e, em relação a eles, não queremos nenhuma «proximidade» mas sim distância.
P.S. só para lembrar que, 10 meses depois, continuo à espera de resposta para estas