Carta aberta ao dr. Rui Rio
Exmo. Senhor Dr.:
Para que não haja equívocos, começo por esclarecer logo na entrada desta missiva que reconheço a V. Exa. todo o direito de ter (ou não ter) ambições políticas e, no caso de as ter, bem compreendo que possa sentir a necessidade de trazer para o discurso político expressões ou conceitos novos.
Peço porém a V.Exa. que, por um momento, se ponha no meu lugar: sou um cidadão que há anos é bombardeado com expressões viciadas e viciosas como «o arco governativo» ou «o arco da governabilidade» e que, sem aviso prévio e de repente, apanha agora com o conceito por si adiantado de «partidos de regime».
Acontece que, salvo erro logo no 1º ano da Faculdade de Direito de Lisboa, já lá vão 48 anos mas nisso as coisas não devem ter mudado, aprendi que o que define o regime de um país é aquele que está desenhado ou consagrado na sua Constituição.
E devo confessar que por desconfiança muito comunista e nada sulista fico a temer que V. Exa., ao falar de «partidos de regime», possa estar a pensar precisamente naqueles que , ao longo de décadas e em sucessivos governos, bastante degradaram ou ofenderam o regime constitucional português.
Muito agradecia por isso que, para minha tranquilidade e de outros cidadãos e por dever de clareza, V.Exa. divulgasse o seu glossário pessoal que certamente transportará na pasta que a fotografia ilustra, o que, estou certo, me livraria desta inquietante interrogação.
Receba a expressão da minha consideração (embora, sinceridade oblige, relativa).
a) Vítor Dias