ao momento em que comecei
a desligar do assunto
no «i» de hoje
Porque ninguém pode ter memória de todos as páginas do folhetim mais longo e cansativo dos últimos 33 anos, aqui recupero a crónica que escrevi no Avante! de 24 de Novembro de 1995 sobre um aspecto que seria decisivo para a viragem da maioria dos membros das respectivas comissões parlamentares de inquérito no sentido da tese do atentado, crónica essa constituída aliás praticamente só por citações que o «Expresso» atribuía ao Ministério Público. Rezava assim (sublinhados feitos agora):
A
amostra 7
«Só
os condicionamentos derivados de o «Expresso» ser propriedade de
Francisco Pinto Balsemão e de este antigo Primeiro-Ministro ser um
alvo habitual dos defensores da tese do atentado contra Sá Carneiro
pode explicar que uma autêntica «cacha» daquele semanário sobre o
despacho do Ministério Público que promoveria o arquivamento do
processo de Camarate tivésse sido estranhamente desterrada para a
página 19 da sua última edição, em vez de gozar da merecida honra
de primeira página.
Como
registo absolutamente objectivo e que não comporta nenhum juizo de
valor nem nenhuma opinião sobre o fundo da questão, é caso para
dizer que é pena que assim tenha sido, até porque todos os que ao
longo de anos, e mais recentemente com particular intensidade no
ínicio do més de Junho deste ano, fomos impiedosamente massacrados
com a tese do atentado e em especial com a história do fragmento
dos destroços do avião em que teriam sido detectadas substâncias
explosivas deveriamos ter o direito à mais larga divulgação do
que o « Expresso» afirma serem as diferentes conclusões do
Ministério Público.
E
segundo o «Expresso», o Ministério Público, no referido despacho,
concluiria, nem mais nem menos, que a presença das tais substâncias
explosivas no célebre fragmento ( processualmente identificado como
a amostra 7 ) « resultaram de uma "contaminação
química acidental " posterior à queda do avião e resultante
da forma pouco cuidada como foi recolhida e analisada a amostra » .
Aquele semanário salienta ainda que desde a reabertura do
processo, em Maio, todos os esforços da investigação judicial se
concentraram no apuramento do real significado da detecção de
nitroglicerina, DNT e TNT resultados em apenas uma amostra do
avião, sendo certo que mais nenhuma teve estes.» . Acrescenta
que «o quadro factual que rodeou a recolha e análise desta e de
outras amostras foi analisado pelo FEL ( o departamento britânico
Forensic Explosives Laboratory) e é classificado como fortemente
propiciador de uma contaminação. A amostra foi recolhida numa
deslocação da comissão parlamentar ao hangar do aeroporto (...)
e em que participaram mais de uma dezena de pessoas ( entre
deputados, jornalistas e peritos ) que mexeram nos destroços sem
qualquer controlo ». Mais : um dos peritos teria levado as
amostras para o seu local de trabalho que «efectua testes com
explosivos » , «onde estiveram oito dias , e depois para sua
própria casa » com vista a serem fotografadas. Mais ainda : no
Laboratório de Polícia Científica da PJ , «as amostras
estiveram num armário onde normalmente são guardados vários
objectos e também explosivos. E o próprio director do laboratório,
(...) fez uma descrição das péssimas condições de trabalho:
usam-se batas lavadas semanalmente, não há controlo de acesso de
pessoas , nem despistagens periódicas de contaminações (...) .
Ao lado do laboratório fazem-se testes de balística e nos armários
são frequentemente deixadas substâncias explosivas.».
Dito
isto, nenhuma confusão : não sabemos, não temos nenhuma obrigação
de saber ( e sempre achámos idiota que uma comissão parlamentar
tivésse que ter opinião numa matéria destas) se Camarate foi
acidente ou atentado.
Mas
se existem as conclusões e o registo de factos que o «Expresso»
atribui ao Ministério Público, então alguém vai ter de contar
melhor uma história que até aqui está manifestamente mal contada.»