02 outubro 2013

Mais glórias do jornalismo português

Um título de 1ª página
absolutamente desonesto

Quem manda na primeira página do «i» (jornal que tem coisas muito estimáveis, ver post anterior) resolveu somar os 6,9%  recebidos por candidaturas propostas por grupos de cidadãos eleitores (é assim que se diz) com os votos em branco, os nulos e os 47,4% de  abstenção e, em extraordinário salto de cavalo, concluir que 54,6% se recusaram a votar em partidos. Já vale tudo ?

Porque o autor (o insigne António Ribeiro Ferreira) merece, aí fica a sua cara e o seu inesquecível texto :



 

Ora tomem lá !



hoje no i (palmas!)

Ontem nos EUA a palavra mais usada

O shutdown (apagão) do Governo

(qualquer coisa assim: se o governo paralisa, quem me vai espiar,
delapidar o meu dinheiro e ter desprezo por mim?«

 
ou  seja, há sempre quem encontre
um lado bom nas coisas

Para apontar já na agenda

Uma justa celebração
dos 50 anos de carreira
da  grande actriz
e grande
mulher F
ernanda Lapa



No dia 7 de Outubro,  segunda-feira, às 21.30 hs., no Auditório Municipal Lourdes Norberto, em Linda-a-Velha,  celebração dos 50 anos de actividade teatral de Fernanda Lapa, com intervenção de Carmen Dolores e participação de Janita Solomé e Vitorino, integrada nas comemorações do 44º aniversário do Intervalo Grupo de Teatro (incluindo a fase 1º Acto - Clube de Teatro, em Algés).

Nódoa que cai em muitos panos

A praga do artigo
definido a mais


O livro até pode ser óptimo e a selecção de fotografias na capa não ser generalizadora mas a verdade é que, na descrição em baixo, lá está a mais o estuporado artigo definido que sempre leva a água ao moinho que bem sabemos. Para  a próxima, tomem juízo.


01 outubro 2013

Custa-lhes assim tanto abrir os olhos ?

Só de protesto são as vossas tias !


No seu blogue, atenta, Joana Lopes anota que «Desde que foram conhecidas, no Domingo à noite, as primeiras previsões quanto aos resultados do PCP nas eleições autárquicas, um batalhão de comentadores, encartados ou nem por isso, num vasto leque de gente que não votou nem nunca votaria naquele partido, e que se espalha desde a direita à esquerda mole, apressou-se a saudar a vitória em questão, sublinhando não só, nem tanto, o bom trabalho a nível autárquico, mas sobretudo o contributo positivo para controlar o protesto e para o manter «dentro do sistema». (Portugal não é a Grécia, Portugal não é a Grécia e o comunistas vão ajudar-nos a que continue a não ser!)».  E acerta quando, logo a seguir, escreve   «Estou certa de que na Soeiro Pereira Gomes ou no Hotel Vitória ninguém terá feito mais do que encolher os ombros, desprezando o elogio, reaccionário a todos os títulos.» Nem mais, digo eu.

Ora, a respeito, desta caricatura sobre o PCP como partido só de protesto, eu só quero lembrar, um pouco ao  acaso e porque nem sempre houve Net e não estou no sítio onde estão os documentos todos, três extractos  que mostram como o PCP sempre rejeitou esta deturpadora visão exterior sobre si próprio. Assim por exemplo:
Carlos Carvalhas na
abertura do XVI Congresso (1996)

«Desmentindo as deturpações e caricaturas lançadas pelos que tudo fazem para nos apresentar como um partido «do contra», que «só sabe dizer mal» e que está interessado numa política de «terra queimada», a verdade é que uma das mais essenciais características do PCP é, aos mais variados níveis de intervenção, o seu profundo empenho construtivo na solução dos problemas do povo e do país, a generosidade sem limites e os esforços abnegados que aplica na defesa dos interesses populares, o seu rico património de reflexão sobre as grandes questões da sociedade portuguesa, a constante contribuição dos seus militantes para o fortalecimento das organizações sociais, a importante obra que desde há 20 anos realiza no Poder Local democrático, a sua qualificada e construtiva intervenção no Parlamento Europeu e na Assembleia da República, bastando a este respeito lembrar que, em sucessivas legislaturas, é quase sempre o PCP, com um diminuto número de deputados, quem apresenta maior número de iniciativas legislativas procurando dar resposta a legítimos anseios e sentidas reclamações dos portugueses.»


Extracto do Programa
Eleitoral de 1999


E
xtracto do Programa
Eleitoral de 2009


As «eleições» de Outubro de 1973

(sobre a actualidade política, ler aqui)
40 anos depois, uma pobre
evocação de uma grande
batalha política pela democracia


Cumprem-se agora 40 anos sobre o início da campanha da última farsa eleitoral do fascismo - a que culminou numa votação fantasmática em 28 de Outubro de 1973-  e que, sob o poderoso impulso do 3º Congresso da Oposição Democrática, Abril, Aveiro) marcou uma forte, corajosa e combativa intervenção da Oposição Democrática, em candidaturas CDE  (*), tendo uma significativa influência no curso dos acontecimentos que, com a contribuição decisiva do movimento dos capitães, haveria de conduzir ao 25 de Abril de 1974.

Na desaparecida primeira série de «o tempo das cerejas», entre  Setembro e Outubro de 2008 (evocando então os 35º aniversário daquela batalha política), publiquei nove posts sem quaisquer pretensões historiográficas ou analíticas e antes centrados em «estórias» pessoalmente vividas no distrito de Lisboa pelo qual fui um dos candidatos da CDE. Como o blogue desapareceu da Net e depois estupidamente perdi  a pen para a qual o  generoso e sacrificado trabalho de um camarada tinha conseguido tranferir  o conteúdo do blogue desaparecido,   não me é possível recuperá-los. Entretanto, um registo desses posts (é claro que os links não funcionam) ficou arquivado  no blogue «estudos sobre o comunismo» de  Pacheco Pereira  nos termos que se seguem:



Sem disposição para os reescrever, aqui fica a informação de que:

- o nº 2 descrevia a prisão de quase todos os candidatos por Lisboa e outros activistas quando participavam em duas caravanas pelo distrito  em finais de Setembro e relatava a absolutamente tétrica visita à sede da PIDE, na maldita António Maria Cardoso, de uma delegação da CDE dirigida por Francisco Pereira de Moura que ali foi reclamar a libertação dos presos;

- o nº 3 descrevia a primeira sessão em Sintra e a díficil experiência do primeiro confronto com as novas limitações impostas pelo fascismo, designadamente  o só poderem falar candidatos e as interrupções pela polícia sempre que se falava da guerra colonial;

- o nº4, o  que mais pena tenho de não poder reeditar, reportava-se à histórica sessão em 4  de Outubro na Sociedade Nacional de Belas Artes (em que a multidão que não conseguiu entrar na sala à cunha foi objecto de uma brutal carga policial que causou numerosos feridos, entre os quais a sempre valente Maria Eugénia Varela Gomes) e incluia, como era indispensável, um grafismo sobre as características da sala, o que era essencial para se perceber o relato daquilo que foi uma saborosa vitótia democrática contra a repressão; com efeito, os agentes da PIDE e da PSP foram colocar-se atrás da mesa do comício mas aí não tinham nehum porta de saída pelo que, em rigor, estavam cercados pela massa de   participantes; e, quando tentaram interromper a sessão, aconteceu-lhes que, à força de  caneladas, encontrões para trás  e cotoveladas, foram impedidos pelo sólido cordão de segurança previamente pensado e montado de chegar à mesa.

- o nº 5 era dedicado ao célebre e atrevido cartaz «os cães mordem, os homens passam» (como nos outros, com textos de Ary dos Santos e Ruben de Carvalho e grafismo de José Araújo e de Luís Filipe da Conceição) e aí se explicava que, em rigor, não tinha chegado a ser afixado pois o Governo Civil não só o proibira como ameaçara com um vendaval repressivo ainda maior caso fosse afixado;

- o nº 6 contava a história do meu confronto no palco de um comício em Sacavém com um oficial do Exército que comandava a PSP de Loures que me conhecia (e eu a ele) pois, na minha passagem pela Repartição de Oficiais, eu até tinha acolhido favoravelmente uma sua «cunha» para a sua colocação no Continente após uma comissão de serviço na guerra colonial; e, nesse post, eu evocava sobretudo o meu pressentimento de que, sem darmos em palco o menor sinal de nos conhecermos, deviamos estar os dois a pensar  o mesmo, ou seja, qualquer coisa como: «raios, que azar, logo calhar-me este nesta ocasião».

- o nº 7   prestava homenagem à coragem e verticalidade do Prof. Henrique de Barros que, tendo sido assumidamente um defensor da não intervenção da oposição naquelas «eleições», publicou na primeira página do República um texto de vigorosa denúncia da repressão desencadeada  pelo fascismo e exprimiu a sua profunda solidariedade para com os candidatos e democratas em luta, num gesto que outras relevantes personalidades de sectores oposicionistas que tinham abandonado  a CDE não se lembraram de ter.

-o nº 8 tratava daquilo que o seu título indica com a vantagem de lembrar que naquela época eram apenas 1 milhão e    oitocentos mil os inscritos no recenseamento.

sessão no distrito de Lisboa

sessão no distrito do Porto

E agora, só lembrar que, a uma semana
do inicio da campanha eleitoral,
depois de 47 anos de experiência,
o fascismo ainda conseguiu inventar
mais esta limitação, constrangimento
e ameaça.





A 3 de Outubro, o saudoso  Mário Castrim,
comentava assim no Diário de Lisboa
a «liberdade» daquela campanha  na RTP
clicar na imagem para aumentar
ou ir aqui ao blogue «porta da loja»


(*) Aproveito esta ocasião para esclarecer que em duas obras relativamente recentes (em  Jorge Sampaio -Uma Biografia  e no prefácio de Isabel do Carmo à obra Mulheres de Armas de Isabel Lindim) se refere, no primeiro caso em termos acessórios e no segundo com maior desenvolvimento, que, entre 1969 e 1973, o PCP teria trocado de aliados, ou seja em 69 nas CDE sem a ASP e com os «católicos progressistas» e outros sectores  mais à esquerda e, em 73,   como PS e sem esses sectores (que, por facilidade, se podem identificar como os grupos de Jorge Sampaio e de Isabel do Carmo). Ora manda a verdade que se diga que o PCP não trocou ninguém por ninguém e que  foram, por um lado, mudanças no quadro político , por outro, vontades e atitudes alheias ao PCP que determinaram uma diferente composição unitária das CDE de 1973. O que realmente aconteceu é que em 1973 o PS já estava em  posições significativamente diferentes das da ASP/CEUD em 1969 e que os grupos de Jorge Sampaio e de Isabel do Carmo passaram a opôr-se à intervenção nas eleições e a menorizar o objectivo da luta contra o fascismo erigindo em objectivo central a revolução socialista (Os interessados podem ler as suas «razões» de então aqui), sendo estes grupos que unilateralmente abandonaram a CDE no final de um plenário realizado num pinhal de Torres Vedras no Verão de 73. E para que não se pense que «os católicos progressistas» eram um grupo homogéneo, é bom lembrar que Pereira de Moura, Lindley Cintra, Felicidade Alves  e outros participaram activamente na campanha da CDE de Lisboa de 1973.

É justo lembrar que um incomparável e em muitos casos inédito acervo fotográfico sobre as lutas da oposição em diversos planos desde  a campanha de Delgado (1958) se encontra neste valioso  álbum do fotógrafo e resistente antifascista Sérgio Valente.



Lista nacional dos
Candidatos da CDE aqui

Notícias do pensamento político tipo espumante

Desculpem mas não
me submeto, faço frente à vaga



Como era de esperar, vai forte e alterosa a vaga de paleio desproporcionado e absurdamente generalizador sobre o «novo fenómeno» dos ditos «independentes». Um jornal escreve  mesmo que se tornaram uma «potência»  (potência? Ou salada russa que vai desde o herdeiro de Isaltino a pessoas de esquerda que concorreram em lista própria em Coimbra, sem aliás afectar o crescimento aí da CDU  ?) e em quase tudo o que se escreve a este respeito há um endeusamento acrítico da vontade dps eleitores em certos munícipios, no esquecimento da boa regra de que os eleitores têm sempre  as suas razões mas não têm sempre razão. Para já não falar de que o que antes era crismado de casos de caciquismo e populismo aparece agora largamente santificado...

E, neste quadro de pensamento-espumante, não faltam mesmo agora reputados politólogos que vêm fazer a defesa da possibilidade legal de candidaturas de ditos «independentes» à Assembleia da República, esquecidos de que, se assim fosse, na esquina a seguir, estariam eles mesmos a  chorar sobre a «balcanização» do Parlamento e a correspondente instabilidade política e governativa e a execrar a vergonhosa reabilitação póstuma do danielcampelismo.

E, dito isto, saibam os leitores que seis meses depois ainda continuo à espera que, sobre este tema, alguém me responda a isto (escrito a seguir a isto):


Se os cavacais anúncios pagassem contas...

O novo Oráculo de Delfos